06 DE SETEMBRO DE 2017
ECONOMIA
QUANDO DINHEIRO VIRA SINAL DE VERGONHA
Mesmo depois de ver parlamentares distribuindo maços de reais pela roupa e assessor presidencial correndo com uma mala recheada de cédulas, até os brasileiros mais calejados com escândalos se constrangeram com a imagem de caixas e malas abarrotadas de notas encontradas em um imóvel que seria usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima.
O que mais choca é o que não aparece na fotografia: a desfaçatez. O depósito de recursos ilícitos - ninguém manteria daquela forma valores obtidos de forma honesta - foi descoberto depois de três anos de investigações sobre propinas e desvios. É um desafio a qualquer vestígio de constrangimento por parte de quem o mantinha lá. Para os demais, é fonte de vergonha por ser um retrato do alcance das distorções do país.
É o dinheiro que falta na prestação adequada de serviços publicos, nos investimentos em infraestrutura, no apoio ao desenvolvimento econômico e social, no estímulo à produção científica e cultural.
Nem a bolsa de valores, que fazia dinheiro virtual com as perspectivas de enfraquecimento da delação da JBS, conseguiu manter a forte alta com que abriu os negócios. Pela manhã, predominou o diagnóstico de que a investigação sobre as circunstâncias do fechamento do acordo seria uma "flechada no pé" de Rodrigo Janot, referência à frase usada pelo procurador-geral em julho - "enquanto houver bambu, vai ter flecha". O mercado financeiro não tem preconceito sobre a origem do dinheiro. Mas sabe avaliar, se não em palavras, em dígitos, os efeitos de uma imagem poderosa.
Se tivesse mantido o ritmo da manhã, a bolsa encontraria seu recorde em pontos, passando de 73 mil. Ficaria para a história a associação com o dia da imagem vergonhosa. Em vez do sinal de retomada, prevaleceria o constrangimento de um país com líderes que não conhecem limites nem reconhecem lei. No momento em que o Brasil volta a testar vida normal na economia, enterrando a recessão, precisa deixar no fundo do poço as ferramentas que ajudaram a cavá-lo.
Havia expectativa de que a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS e a queda no juro básico ajudassem a dissolver, ainda que aos poucos, o problema da inadimplência. Os dados mostram outra realidade. Conforme dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), agosto registrou o mais alto percentual de famílias com dívidas em atraso e com dificuldade para quitar.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor teve em agosto o mais alto patamar da série histórica, com 24,6% famílias com contas ou dívidas em atraso, acima inclusive do mesmo mês de 2016, quando em tese a crise estava mais forte. Marianne Hanson, economista da CNC, atribiu o resultado ao desemprego ainda elevado.
Além do descompasso entre a relativa melhora na economia e a inadimplência, chama atenção o tipo de dívida que ainda atormenta mais brasileiros: o cartão de crédito. Como as respostas para a origem das pendências são múltiplas, o total ultrapassa os 100%, mas chama atenção o fato de que mais de dois terços das famílias ainda relatem problemas com esse tipo de ferramenta.
Apesar de todos os esforços para limitar o custo do crédito rotativo, que tem a maior taxa de juro do mercado nacional, a taxa não só permanece estratosférica como sobe em pleno desbaste acentuado do juro básico. Conforme o Banco Central, a média subiu de 380,8% em junho, para ainda inacreditáveis 399,1% ao ano em julho. OS VILÕES DO ORÇAMENTO
no dia de montanha-russa na bolsa, as ações ordinárias da jbs foram as mais punidas pelos investidores. A queda foi de 8,28% no papel que ainda está concentrado nas mãos dos irmãos joesley e wesley batista. em movimento inverso ao do mercado, a erosão começou discreta, pela manhã, mas se aprofundou no decorrer do dia.
O número de empreendedores do tipo "micro" cresceu
10,5%
no primeiro semestre de 2017 em relação ao mesmo período de 2016. Conforme a Serasa Experian, surgiram 902,3 mil microempresas de janeiro a junho. É um recorde nesse intervalo desde a criação do indicador, em 2010.
MARTA SFREDO
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