30 DE SETEMBRO DE 2017
PIANGERS
Última moda
Nunca fui o que se pode chamar de pessoa estilosa ou arrumada, culpa da convenção social que determinou que calças largas de moleton e camisas com perfurações de traças não são vestimentas très chic. Jamais usei gravata fora de festas de casamento e, mesmo em festas de casamento, sempre fui o primeiro a afrouxar o nó e, eventualmente, deixar a gravata dobrada em cima da mesa enquanto devorava o bufê. Minha gravata já foi meu guardanapo, confesso. O pessoal da Spirito Santo deve estar indignado comigo.
Minha mãe sempre achou um terror o jeito que o filho se vestia, mas sempre me considerei um trend setter: usava calças largas com a cueca aparecendo antes dos rappers, camisas velhas de flanela herdadas do vô antes dos grunges, casacos de lã de brechó antes dos hipsters. Meu estilo hoje é a passarela de amanhã. Quer dizer, não bem amanhã, pode ser que demore anos até que finalmente minhas roupas surradas apareçam na Vogue, mas um dia aparecem. Pode ter certeza que aparecem.
Uma espécie de artista visual, uso meus trapos como forma de me expressar. Minha família é contra. Minhas camisetas favoritas viraram pano de chão quando viajei mês passado. Meu casaco favorito foi doado aos pobres no último inverno. Não sou eu que decido essas coisas, é minha mulher. Doou todas as minhas camisetas promocionais que eu usava como pijama e minhas calças de sarja, hit dos anos 1990. Eu gostava tanto daquela calça que virava bermuda que minha esposa sem coração dispensou.
Vida que segue, comprei meias coloridas que envergonham minhas filhas. Estávamos caminhando para o colégio, e eu falei pra evitarmos determinada esquina. "Tem um mendigo maluco naquela esquina", falei. Minha filha de 12 anos disse: "Sei. Aquele mendigo de barba ruiva levando as filhas pra escola?". Demorei pra entender a piada: ela estava se referindo a mim. Muito engraçado. Vai engolir suas palavras quando meu modelito aparecer em capas de revistas como a última moda.
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