22 DE SETEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA
A fórmula da vitória
Há exatos 40 anos, quando chegou ao Grêmio, Telê Santana revelou a fórmula para montar um time campeão: "Primeiro escolha homens, depois jogadores".
Pouco antes disso, um jogador do outro lado, do Inter, tratou mais ou menos do mesmo tema, usando palavras diferentes. Era dom Elías Figueroa, o melhor zagueiro do mundo, e dizia o seguinte:
"Vitórias não se merecem, se conquistam".
Na noite de quarta-feira passada, o Grêmio não mereceu a vitória sobre o Botafogo; conquistou-a. E o fez graças a homens, antes de jogadores.
Um em especial. Léo Moura.
Renato errou ao escalar Léo Moura no meio-campo. O degas aqui havia alertado sobre esse equívoco desde o Gauchão, passando pelo Brasileiro, chegando até a manhã de quarta, quando predisse no Timeline, da Gaúcha:
- Se Renato escalar Léo Moura no meio, o Grêmio não vai entrar na área do Botafogo.
Não entrou.
Não que Léo Moura seja ruim. Não é. Ele é ótimo. Dos melhores. Mas seu bom sucesso sempre se deu quando atuava na ala. No meio, a movimentação é diferente, sobretudo se a tarefa é substituir Luan, o jogador de movimentação mais inteligente do Brasil, no momento. Léo Moura não sabe se movimentar como Luan, ninguém sabe. O Grêmio, assim, submeteu-se à marcação agressiva do Botafogo e ia perder o jogo, mas Renato percebeu o erro e o corrigiu ainda no primeiro tempo.
Léo Moura saiu quando faltavam pelo menos 10 minutos até o intervalo. Nenhum jogador gosta disso. Era natural que ficasse irritado. Não ficou. Ao contrário. No segundo tempo, as câmeras das TVs flagraram-no sentado ao lado de Renato, no banco de reservas, conversando com o treinador, dando a ele sugestões que decerto foram importantes para que o time chegasse à vitória.
Léo Moura foi homem antes de ser jogador. Mostrou que o Grêmio está concentrado no que está fazendo, e isso é fundamental para um time ser campeão.
Alvíssaras em meio à angústia, porque a vitória do Grêmio foi assustadora. Foi um triunfo preocupante. Sem Luan e Pedro Rocha, o time perdeu a passada, está se mexendo como o adolescente que cresceu demais e ainda não se acostumou com o próprio corpo.
Pedro Rocha era fundamental. Fazia um trabalho extenuante pela esquerda, ia e voltava feito um motoboy, corria em cima da linha lateral, mordia o calcanhar do adversário e, de repente, dava o bote: irrompia na diagonal para dentro da área, violando a defesa, quebrando retrancas, espalhando zagueiro para tudo que é lado. Pedro Rocha tinha a jogada individual, tinha o drible, o que é indispensável quando o inimigo está homiziado na defesa.
Fernandinho também tem o drible e a iniciativa, só que pelo outro lado e do outro lado já tem Ramiro. Um não pode jogar em cima do outro. Um drama.
Sem Pedro Rocha, o Grêmio ficou desasado. Como Renato vai arrumar isso? Como ele vai devolver o encanto ao time?
Renato tem mais de um mês para resolver o problema. É tempo suficiente. Acredito que conseguirá. Até porque, Léo Moura provou, o Grêmio tem um grupo de homens, mais do que apenas de jogadores.
DAVID COIMBRA
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