segunda-feira, 10 de agosto de 2015



10 de agosto de 2015 | N° 18254 
DAVID COIMBRA

O que é maior do que 5 a 0 no Gre-Nal?

O que é pior do que levar 5 a 0 no Gre-Nal?

(a) Ser traído pela mulher?

(b) Ser funcionário público e ter seu salário parcelado?

ou

(c) Ser roubado e ainda ser chamado de elite perversa?

O que é melhor do que ganhar o Gre-Nal de 5 a 0?

(a) Ouvir aquela morena sinuosa dizer “hoje é seu dia de sorte, garoto”?

(b) Receber 100% de aumento salarial?

ou

(c) Ver políticos corruptos indo para a cadeia?

Difícil de responder, porque raras dores e raros prazeres são tão intensos quanto os motivados por uma goleada em Gre-Nal, sobretudo uma deste tamanho, que leva uma vida inteira para acontecer.

E, mais importante, foi irreparável.

No primeiro tempo, a superioridade do Grêmio foi maior do que a dívida do Rio Grande. O time de Roger fez 2 a 0, perdeu um pênalti e poderia ter feito mais uns três gols. Em um lance aos 43 minutos, Pedro Rocha estava sozinho na frente de Alisson e chutou a bola pela lateral. Em outras oportunidades, os atacantes do Grêmio entravam na área trocando passes, como se estivessem treinando, enquanto os zagueiros do Inter apenas assistiam, pasmados.

Aliás, esse predicado do Grêmio, a troca de passes quase sempre de primeira, ou, no máximo, em dois toques, tonteou o Inter. O jogador do Grêmio que estava com a bola, em geral, encontrava duas ou três opções de passe. A bola rodava da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, até chegar quase debaixo do nariz de Alisson.

Parecia fácil demais. E foi.

Todos os gremistas jogaram bem, inclusive Marcelo Grohe, autor de duas ótimas defesas, mas ninguém foi melhor do que Luan. Esse jogador merece um capítulo especial só para ele. Luan é o centro técnico do Grêmio, é o jogador que sai da intermediária defensiva com a bola nos pés e arrasta o time com ele. Faz a função que Xavi fazia no Barcelona de Guardiola, que Carpegiani fazia no Inter dos anos 1970. Com Luan, o Grêmio sempre é envolvente e às vezes é surpreendente.

Outro jogador fundamental no clássico foi Edinho. Exerceu a tarefa de limpa-trilhos na frente da área e foi perfeito. Terminado o jogo, vibrou como se fosse um juvenil. Foi um dos jogadores que mais festejaram a goleada, imposta justamente sobre seu ex-clube.

No segundo tempo, o Grêmio fez o terceiro gol e praticamente desistiu do jogo. Tentou jogar a bola de um lado para o outro no campo defensivo e permitiu que o Inter respirasse um pouco. Aos 10 minutos, a torcida gritava olé na Arena. Tivesse feito mais pressão, não seriam 5: seriam 6, 7, 8, o que o Grêmio quisesse, porque, do outro lado, havia um adversário que não tinha ânimo nem para fazer faltas.

O Inter não errou apenas no posicionamento e na escalação: errou em tudo, falhou em tudo, atirou seu torcedor no poço de uma vergonha sem fim, porque são poucas as tragédias maiores do que levar 5 a 0 num Gre-Nal. E poucas glórias são maiores do que ganhar de 5 a 0. O Gre-Nal do Dia dos Pais de 2015 não será esquecido, nem a tristeza e a alegria de quem o viveu.

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