09 de agosto de 2015 | N° 18253
NÍLSON SOUZA
Paixão mista
O Brasil nunca precisou tanto do espírito dessa torcida mista que ocupará o seu espaço na Arena do Grêmio, no entardecer deste domingo, como já fez também no Beira-Rio. Rivais históricos, colorados e gremistas levaram cem anos para colocar em prática uma estratégia de convivência nos estádios de futebol, que já foram palco de verdadeiras batalhas campais, de agressões mútuas e até de tragédias. Agora, começa a se consolidar essa ideia genial e generosa de reservar uma arquibancada para a reunião de amigos, familiares e conhecidos que vestem cores diferentes, mas que colocam os laços afetivos e humanitários acima da paixão clubística.
Sou um conciliador irrecuperável, mas não pensem que torço pelo empate no clássico para contentar todo mundo. Pelo contrário, quero que um dos times vença, pois só assim se fortalece a verdadeira tolerância entre pessoas que têm pensamentos e desejos contraditórios. No futebol, como na vida, temos que saber ganhar e perder (ok, empatar também, vá lá), temos que aprender a suportar a alegria do adversário em cima da nossa tristeza, e também o contrário. Democracia é isso, administração civilizada de conflitos, de visões opostas, de certezas e de dúvidas.
O país passa por um crise histórica. A economia vai mal, a ética vai pior e é absolutamente natural que, como num time em queda, se pense em demitir o treinador – a exemplo do que fez o Inter na última quinta-feira. As pesquisas mostram que mesmo muitas pessoas que elegeram a presidente Dilma – a maioria dos brasileiros, vale lembrar – desaprovam o seu governo, outras tantas querem o seu afastamento e há, evidentemente, aquelas que se mantêm fiéis à escolha que fizeram.
Só que temos um contrato com ela, um contrato respaldado pela Constituição, que só pode ser rescindido unilateralmente mediante regras bem definidas. É aí que deve entrar o espírito da torcida mista: todos devemos acompanhar com atenção cidadã para que o jogo transcorra com lealdade e legitimidade, mesmo que o desfecho não coincida com o que pensamos.
Eu tenho lado nesta torcida mista. Torço pelo Brasil.
MEU ORÁCULO
Vai ter pênalti!
Paulo Sant’Ana recupera-se de uma complicação pós-cirúrgica, mas já em perfeita forma mental – embora não abra mão do mais-que-perfeita. Estava sonolento quando o visitei na última terça-feira, no hospital, mas sentou-se na cama logo que me viu entrar e me saudou com um pedido:
– Guarda o meu lugar lá!
Lá é aqui, neste espaço que me cabe interinar hoje, num rodízio que estabelecemos na Redação para substituí-lo. Desta vez, Pablo andou mesmo na corda bamba, conforme admitiu um dos médicos que o assiste. Agora, está se restabelecendo bem, mas não perde a chance de se queixar e continua dramático como sempre.
– Falei com Jesus! – me sussurrou, fazendo cara de sofrimento.
Como conheço a fera, procurei brincar:
– Perguntou para ele quem vai ganhar o Gre-Nal?
Antes de responder, ele ajeitou-se na cama, me olhou enviesado e lascou:
– Ele só me disse que vai ter pênalti.
Pelo sim, pelo não, vou acompanhar o jogo atento para os lances de área. Sabe-se lá...
BREVE HINO MISTO
Colorado das glórias,
imortal tricolor,
tua senda de vitórias,
canta o Rio Grande com amor.
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