segunda-feira, 3 de agosto de 2015



03 de agosto de 2015 | N° 18246 
MOISÉS MENDES

LARANJA


Se eu decidisse fazer o que o Romário fez na semana passada, viveria dentro de um avião. Sábado retrasado, a revista Veja disse que Romário tinha o equivalente a R$ 7,5 milhões na Suíça. No dia seguinte, o senador pegou um avião e se tocou para Genebra, como quem decide ir a Espumoso.

Foi e descobriu, pelo que disse lá mesmo, pelo Twitter, que não há nada para ele no banco BSI, ao contrário do que Veja havia informado. Declarou-se frustrado e carimbou a cópia de um extrato mostrado pela revista – e que seria da conta dele – com a palavra falso.

Veja diz que não é bem assim. Insiste que Romário tem o dinheiro em seu nome e que o caso é investigado pelo Ministério Público. O problema todo é que Romário não teria declarado o dinheiro ao Fisco, o que configura delito.

Pois eu disse que viveria dentro de um avião, se fosse levar a sério esse tipo de informação, porque recebo todos os dias um aviso em e-mail de que há dinheiro farto à minha espera em algum lugar. Você, claro, também já recebeu.

São notícias sobre a morte de um milionário, ou de um homem só, ou de uma viúva que deixou uma dinheirama em Damasco para quem se dispuser a pegá-la. Já recebi comunicados de que posso ter acesso a dólares abandonados por investidores mortos em Kayseri, na Turquia, em Feyzabad, no Afeganistão, e em Cherkasy, na Ucrânia.

Tenho dinheiro disponível em todos os continentes. Respondi a um desses e-mails e pedi orientação. Um ucraniano separatista recomendou que eu entrasse em contato com Ibah Biktop Yushjaruynyw, diretor de captação de capitais suspeitos do United Continental Bank of Ukraine.

Obtive a resposta de Ibah de que deveria depositar US$ 150 mil, como sinal, para desbloquear o dinheiro. Tentei descobrir quem, afinal, era o dono original da conta e de quanto seria a fortuna. Me disseram que seriam US$ 97 milhões, que pertenciam ao russo Pyotr Bharuysko.

Quando estava levantando o sinal com um grupo de amigos, fui informado por Ibah Yushjaruynyw de que o dono do dinheiro reaparecera. A operação estava abortada. Bharuysko não era russo, mas um (laranja em ucraniano, como aparece no título deste texto) brasileiro, que estava recambiando o dinheiro para a sua terra, depois de um acordo de delação premiada.

Como se vê, eu e o Romário nos demos mal, por enquanto. Tenho aqui comigo outro e-mail com uma conta desativada em nome do investidor Nyesztor Cervyerok, do Cazaquistão, num banco sírio. Vou conferir. Não custa nada.

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