sábado, 1 de agosto de 2015



02 de agosto de 2015 | N° 18245 
MOISÉS MENDES

Olha o Datena aí, gente


Espalhou-se como contágio o sentimento de vitimização entre os eleitores que se queixam da corrupção nas hostes do PT. Repetem que o partido da moralidade corrompeu todo mundo, dos empreiteiros a um vice-almirante, e traiu os que nele acreditaram. O consolo é que os crédulos se sentem automaticamente anistiados da ideia ingênua de que enfim um partido faria política limpa.

O PT teria traído os puros. É uma imagem autoindulgente e confortadora de quem se sente enganado, inclusive a direita. Com o PT corrompido, os grandes partidos igualaram-se.

Estamos todos liberados para transferir nossas melhores expectativas a quem nos oferecer de novo, mesmo que como farsa, a ideia da pureza perdida – ou podemos almejar que um impuro, mesmo um de antigamente, segure as demandas da classe média que o PT esnobou.

Eduardo Cunha, como velha novidade, já absorveu parte desses anseios. Os que apostaram nele – porque põem em dúvida a capacidade de um tucano vencer um petista na quinta disputa seguida desde o início do lulismo – podem esquecê-lo.

Cunha está seriamente avariado. Tentar consertá- lo sai mais caro do que pegar um antipetista genérico promissor. E ele já existe. Vamos acompanhar os movimentos de José Luiz Datena. O apresentador de TV quer ser prefeito de São Paulo pelo PP. Se conseguir, vai voar alto.

Datena disse em entrevista à Kelly Mattos e ao Luciano Potter, no Timeline Gaúcha, ser contra a roubalheira e a bandidagem, os políticos antigos, as ciclovias, os radares que multam, a redução da velocidade em São Paulo e tudo isso que está aí.

Teme-se que a Lava-Jato faça aqui o que aconteceu na Itália. O novo para eles, pós-devassa nas máfias, foi a ética do Berlusconi. Para nós, pode ser o moralismo antibandidagem do Datena.

Anote algumas frases dele no Timeline: água e óleo não se misturam; até pouco tempo, os caras achavam que a Terra era plana; falcatrua e dinheiro sujo eu não aceito; um partido é um meio de se levar uma candidatura.

A melhor frase é a última. Aí estaria o novo. Datena não é algo esdrúxulo – assim como Collor, em quem alguns conhecidos seus votaram em 1989, de esdrúxulo não tinha nada.

Um partido, às vezes, é o jeito de se levar adiante uma candidatura? A política fica nos devendo uma nova chance de acreditar nos limpos e nos puros.

David Coimbra escreveu na sexta-feira que eu gosto do governo do PT e me pôs na mesma turma do Luis Fernando Verissimo e do Jorge Furtado. Pois saiba, meu amigo David, que gosto dessa turma. Mas só gostei de um governo, o de Jânio Quadros, porque minha madrinha Zina dizia ser o melhor.

Participei da passeata da vitória do Jânio, carregando vassouras com meus irmãos na carroceria da picape Jeep do padrinho Pedro pelas ruas do Alegrete. Jânio renunciou em 1961, menos de um ano depois de eleito, e me enredou nas dúvidas dos meus oito anos: mas como, se era o melhor governo do mundo?

Minha madrinha, percebendo meu primeiro dilema político, disse um dia, resignada: foi-se, porque tudo que é muito bom acaba rápido. Por isso, sinto saudade do governo do homem que iria varrer a bandalheira.

Tudo no Brasil se repete, e a política vive dos crédulos. Agora, é o Datena que vem aí. Os mesmos que inventaram o Collor e tentaram inventar o Eduardo Cunha vão se divertir. Que situação, David. Até o antipetismo está em crise.

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