CARLOS
HEITOR CONY
A Paris de Woody Allen
RIO
DE JANEIRO - Vi com atraso o filme de Woody Allen, "Meia-noite em
Paris", do qual muito esperava, uma vez que "Manhattan" me
parece sua obra-prima, em preto e branco mesmo e com música de Gershwin. Aliás,
é um dos fortes do ator-diretor, bom de ouvido, todos os seus filmes são salvos
pelas trilhas musicais -vai ter bom ouvido assim no inferno.
Outro
ponto a favor: a beleza da fotografia, a cidade é fotogênica, mas Woody
tornou-a maravilhosa, quase irreal, sem apelar para os cartões-postais que
todos conhecemos. Isto posto, vamos para aquilo que agora chamam de
"conteúdo". Neste particular, foi uma sucessão de clichês, alguns
exclusivos do próprio diretor, como o escritor esperançoso e a estagiária
sempre fazendo a tese de mestrado.
Quanto
ao escritor, é repetida a costumeira opinião do editor, "seu livro não nos
interessa, mas tem alguns trechos bons, quem sabe, reescrevendo podemos pensar
em editá-lo". O passado que se mistura ao presente é um lugar-comum do
cinema comercial: Chaplin ("His prehistoric past", 1914), Eddie
Cantor ("Escândalos romanos", 1933) e Oscarito ("Nem Sansão nem
Dalila", 1955) -só para citar alguns.
Os
efeitos são óbvios. O casal Fitzgerald, Hemingway, Gertrude Stein, Lautrec,
Picasso, um estupefato Buñuel (ao qual o deslumbrado escritor sugere a sinopse
de "O Anjo Exterminador"); citações periféricas de Modigliani, Degas,
Gauguin, um inesperado T.S. Elliot, Matisse, Salvador Dalí -este, por sinal, e
ao contrário dos demais, interpretado por um ator (Adrien Brody) que é cara e
loucura do próprio, o único que convence no papel.
Há
também a música de Cole Porter, tocada por ele mesmo, e a de Offenbach,
obrigatória em qualquer peça ou filme sobre a Paris daquela época.
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