quarta-feira, 23 de maio de 2012



23 de maio de 2012 | N° 17078

ARTIGOS - Maria Aparecida Viera Souto*

Xuxa: uma sobrevivente

É preciso chegar antes que uma vítima (criança adolescente ou mulher) se torne:

Um boletim de ocorrência

Um processo judicial

Um dossiê médico

Um caso psicológico

Uma notícia de jornal

Ou um corpo no necrotério.

Maria Amélia Azevedo

O emocionado depoimento de Xuxa ao Fantástico fez o desejado por toda campanha de enfrentamento ao abuso sexual de crianças e adolescentes: chegar, rapidamente e ao mesmo tempo, ao maior número possível de pessoas, mostrando com clareza, a dor e o sofrimento sentidos diante do abuso sexual. Foi o que aconteceu.

Provavelmente, devido à notoriedade da apresentadora, milhões de pessoas assistiram a sua declaração. O impacto produzido é inimaginável. Sem dúvida, inúmeras pes-soas se reconheceram no relato. Algumas conseguirão quebrar o silêncio e denunciar. Outras compreenderão que, embora sabedoras de algum tipo de abuso sexual, preferiram ignorá-lo e, ao escolher o silêncio, escolheram o lado do abusador, tornando-se, portanto, cúmplices!

Há dois tipos de agressores sexuais: o abusador e o molestador, com estratégias diferentes. O abusador é mais sutil, utiliza carícias discretas, raramente é violento, fazendo com que a criança não se sinta abusada ou mesmo que outras pessoas notem. O molestador é mais invasivo, menos discreto, frequentemente usa a violência.

O abusador costuma dar atenção especial à criança, ficar íntimo e explorar sua necessidade de afeto. Insinua gradativa e, indiretamente, assuntos se- xuais, solicitando-lhe carícias genitais ou que se submeta a elas. A criança poderá se recusar e dizer que o denunciará.

O abusador, então, a ameaçará. Por não saber o que fazer, ela ficará insegura e confusa. Muitos adultos desqualificam ou negam relatos. Isto é lamentável, visto estudos indicarem ser a reação dos adultos diante da revelação o principal fator responsável pelo trauma.

Os pais precisam “aprender a ensinar” seus filhos a se protegerem de abusos sexuais. Para se proteger, a criança precisa saber fazer três coisas: 1. Identificar situações de abuso e dizer não; 2. Sair da situação o mais rápido possível e 3. Imediatamente, contar para alguém.

Quando uma criança muda seu comportamento, especialmente com familiares, algo pode estar acontecendo. Quando não quer mais abraçar, beijar, sentar no colo ou ir à casa de alguém, é importante perguntar-lhe do que ela não gosta em cada uma daquelas situações. O do que permite uma resposta mais precisa, possibilitando a identificação de abuso sexual.

Tomara que a dor e o sofrimento mostrados por Xuxa sejam suficientes para convencer os pais da tarefa que lhes cabe.

*Assistente social, especialista em educação sexual e representante do CMDCA no Comitê Municipal de Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes de Porto Alegre

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