sábado, 26 de maio de 2012



26 de maio de 2012 | N° 17081

PAULO SANT’ANA

Ninguém tem culpa

    Fica muito difícil de saber quem são os responsáveis pela alaúza em que se transformou há dias a interdição da emergência do Hospital Conceição pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren).

    Aliás, já é muito difícil saber de quem é a responsabilidade pelos atos do SUS. Se é do município, se é do Estado, se é da União.

    O Coren culpou o Conceição por manter uma emergência promíscua e com número de enfermeiros insuficiente.

    O Conceição culpou o Coren por açodamento ao interditar a emergência.

    É uma confusão tão grande a responsabilização pela incúria do SUS, que, se a gente quiser responsabilizar a Secretaria Municipal de Porto Alegre pela lotação estapafúrdia da emergência do Hospital Conceição, vai-se ver que 17% dos pacientes atendidos lá vêm de Alvorada.

    O SUS aqui é um consórcio entre a União, o Estado e o município. Então, quando ele falha, não se tem a quem criticar, um empurra para o outro a responsabilidade.

    O fato é que se sucedem os governos, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e agora Dilma Rousseff, e permanece o caos.

    E, quando se critica o caos, sempre surge uma voz que diz que o SUS presta relevantes serviços à população brasileira.

    E presta mesmo, milhões de brasileiros buscam no SUS atendimento para a sua saúde.

    No entanto, milhões de brasileiros sofrem nas emergências do SUS, são mal atendidos nos postos de saúde e nos hospitais e não recebem atendimento digno de saúde.

    Ou seja, o SUS salva a vida de pacientes e o SUS mata pacientes.

    Quando eu digo que o SUS mata pacientes, provo: a fila de cirurgias do SUS, relativa a algumas especialidade médicas, tem uma espera de dois, três, cinco, seis anos, e os pacientes, cuja urgência na cirurgia é extrema, acabam morrendo sem cirurgia. Ou então acabam aleijados ou com órgãos disfuncionados sem cirurgia.

    Sendo assim, residem juntamente no seio do SUS um demônio que ruge e um deus que chora. Mais um Espírito Santo que se congratula com os feitos notáveis do SUS.

    Mas, saber de quem é a responsabilidade dos defeitos do SUS, ninguém sabe.

    Ainda esses dias, o governo federal comemorou mais um recorde de arrecadações pela Receita Federal.

    Diante disso, só posso atribuir as aflições no SUS ao governo federal.

    Um governo federal que decide realizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no Brasil, que vão exigir uma fortuna colossal para sua realização, dinheiro este que daria para atender com grande perfeição a saúde dos brasileiros por 20 anos, só pode ser responsabilizado pelas agruras por que passa nosso povo nas emergências dos hospitais e na fila da morte das consultas e cirurgias.

    Um país que é a sexta ou sétima economia do mundo tem de envergonhar-se por descuidar da saúde do seu povo.

    Dinheiro tem para cuidar com excelência da saúde do povo. O que falta é vergonha. Falta e sobra vergonha.

    Porque não é possível uma geração suceder a outra e permanecer amargamente este descaso com a saúde.

    Temos arrecadação de Estados Unidos e Europa e atendimento de saúde africano.

    E entram e saem governos e é sempre a mesma coisa, aquela ladainha fúnebre e trágica dos doentes brasileiros aflitos e abandonados.

    Sob o cutelo da dor e da morte.

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