quinta-feira, 31 de maio de 2012



31 de maio de 2012 | N° 17086
CLAUDIA TAJES

O modernômetro

Em um programa de televisão, desses em que os debatedores opinam sobre qualquer assunto com uma segurança constrangedora, alguém falou que o uso do PS em e-mail era de uma total idiotice.

Que o famoso Post Scriptum, “escrito depois”, em latim, havia perdido a razão de ser agora que basta colocar o cursor no corpo do texto e botar lá o que faltou. No tempo das cartas, o PS era bem isso, a forma de botar lá o que faltou. O jeito de completar uma ideia, de corrigir uma informação, de acrescentar uma lembrança, de juntar um carinho, tudo sem necessidade de Errorex.

O coitado do PS virou, então, tema de polêmica, com uma guria a defendê-lo e uns três ou quatro a exigir-lhe a cabeça. No final, um dos convidados sentenciou: ninguém poderá se considerar moderno se usar PS.

O chapéu serviu para mim. Não quero me considerar moderna e adoro um PS. Escrevo e-mails com PS a torto e a direito (eis aí uma expressão antiga). Muitas vezes, o conteúdo do PS não cai bem no corpo do e-mail. Se a conversa é séria, como encaixar uma graça? Se é leve, como ficar grave apenas trocando de parágrafo? Se tem a ver com amor, como misturar com o tom comercial de certos arranjos tão chatos quanto necessários nas relações?

Por conta disso, estou decidida, com uma segurança constrangedora, a manter o PS nos meus e-mails. O papo do programa me lembrou o que um dia ouvi de um quase-jovem publicitário com quem trabalhei: que eu não era moderna para criar a propaganda de um chinelo.

Puxa, de um chinelo? Diante desses critérios, dá vontade de dizer, para o cara do PS e para o semijovem criativo, que moderno é o Carlos Drummond de Andrade, o poeta mineiro nascido em 1902 que, neste ano, é o homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty, a moderna Flip. Mas deixa assim. Seria muita informação, e eu que não quero estourar o modernômetro deles.

PS: A Secretaria de Estado da Cultura acaba de lançar seis editais do Fundo de Apoio à Cultura, com R$ 10 milhões para financiar projetos em diversas áreas do desenvolvimento cultural, como se vê em www.cultura.rs.gov.br.

PS2: O 20º Prêmio Unirádio da FM Cultura acaba de reconhecer estudantes da Unisinos, da PUCRS e da Feevale. Legal ver que o rádio está sendo pensado, nas faculdades de Comunicação, de um jeito realmente moderno: com conteúdo.

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