segunda-feira, 5 de outubro de 2020


05 DE OUTUBRO DE 2020
DAVID COIMBRA

Perdoem Cortez

As universidades inglesas são pródigas em pesquisas sobre temas curiosos. Uma delas, tempos atrás, estudou a sorte. Existe sorte? Os pesquisadores concluíram que sim e, mais, garantiram que, empregando-se certas técnicas, a sorte pode ser aumentada.

Li uma matéria acerca desse estudo, achei que seria divertido, mas sabe que, ao fim e ao cabo, constatei que não era bobagem? Eles estão certos, a sorte pode, mesmo, ser aumentada. Quer dizer: você pode se tornar um sortudo, dependendo da sua atitude em relação à vida.

Não vou esmiuçar o assunto aqui, mas é óbvio, por exemplo, que, se você encarar o mundo de forma positiva, tudo se torna mais fácil. Ficar se queixando só faz crescer a dor.

Outro ponto mais sutil e mais sofisticado é o seguinte: preste atenção na sua intuição. Não no seu desejo; no seu pressentimento. Porque não se trata de algo transcendental, não se trata de nada místico ou cósmico ou mágico. Nada disso. Trata-se da sua inteligência mais profunda, aquilo que Kant localizava além da razão pura e que Freud dizia estar abaixo da consciência. Não são os astros ou os deuses que avisam você do perigo, é a sua experiência animal que identificou que há algo errado antes mesmo que seu cérebro possa fazê-lo.

Pensei nisso tudo devido ao Gre-Nal de sábado, que foi o clássico da desdita de Cortez. O Grêmio vencia por 1 a 0, tinha um jogador a mais e dominava o jogo com facilidade. Estava na iminência de ampliar o marcador. Aí Cortez primeiro cometeu um pênalti e depois foi expulso. Um jogo que poderia ter sido 3 a 0 para o Grêmio terminou em 1 a 1.

Desde então, os gremistas lamentam o resultado e culpam Cortez pelo que aconteceu. As ações de Cortez realmente foram decisivas no clássico, mas não se pode dizer que ele tenha sido "culpado". Em primeiro lugar, porque não houve intenção nem no lance do pênalti que gerou o gol do Inter, nem no da falta que gerou sua expulsão. Em segundo lugar, porque não chegou a haver imperícia. Açodamento, talvez. Imperícia, não.

O que ocorreu com Cortez foi a soma do acaso com, possivelmente, sua ânsia em acertar. No pênalti, ele entrou na jogada com os braços abertos numa tentativa de se equilibrar e no afã de impedir a progressão do adversário, e a bola subiu e bateu em sua mão. Depois, provavelmente na pressa em se redimir, ele foi com força numa dividida e escorregou na grama molhada, o que deu mais velocidade e, por consequência, mais violência ao lance. Por isso foi expulso. Não foi como a expulsão de Musto, que quis agredir Diego Souza.

Cortez não foi incompetente, nem foi mal-intencionado. Portanto, gremistas, não condenem Cortez. Perdoem-no. Ele só não teve sorte.

DAVID COIMBRA

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