segunda-feira, 5 de outubro de 2020


05 DE OUTUBRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

As queimadas mentais

Ou você defende o planeta, ou o seu político de estimação. Chega um momento em que as duas militâncias são incompatíveis, sempre. No Brasil, já chegou.

Escrevi, nos últimos dias, dois textos apontando as incoerências ambientais do PT de Lula, que optou pela sujeira do petróleo e investiu bilhões no pré-sal, e do governo Bolsonaro, que se empenha em desmontar as leis de proteção aos mangues, restingas, rios e florestas.

Recebi vários e-mails indignados, o que não é novidade. O que me deixou surpreso foi o teor de boa parte deles, que me acusava de murismo e me exigia uma definição: "Ou tu é PT, ou é Bolsonaro. Te decide".

Com raras exceções, nunca culpo o leitor quando o que eu quero dizer não é compreendido. A obrigação de me fazer entender é minha. Mas, nesse caso, me absolvo. A culpa é do momento de radicalização do país.

Boa parte de nós, brasileiros, só consegue ler a realidade sob um prisma polarizado. É como se houvesse um filtro anteposto ao nosso olhar. Tudo o que se diga ou se escreva só se enquadra em duas categorias: esquerda petista ou direita bolsonarista. Muita gente fica confusa e desorientada quando essa lógica tacanha é desafiada. De certa forma, o radicalismo é confortável. É só bater um carimbo fácil.

A vida é bem mais do que isso. Me recuso a julgar uma pessoa unicamente pelo candidato em que vota e a avaliar uma ideia dentro de um espectro tão estreito. A radicalização é fumaça tóxica que embaralha a razão e a visão.

Para não incorrer no erro que condeno, encerro com um trecho de um e-mail do leitor José Bittencourt, que discorda de mim sobre um dos pontos centrais do que escrevi: a utilização de combustíveis fósseis "Os nossos políticos e governantes, de um lado e de outro, realmente, só pensam em dinheiro e poder. Contudo, não é o Brasil, é o mundo que não está preparado para se livrar do petróleo".

E assim, faz-se uma conversa.

TULIO MILMAN

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