sábado, 3 de outubro de 2020



03 DE OUTUBRO DE 2020
+ ECONOMIA

Risco Trump com covid-19 se soma a temor sobre Guedes 

Causou susto nos mercados, na sexta-feira, o diagnóstico de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está com covid-19. Na economia, a situação eleva a já alta incerteza, desde como o governo americano vai se comportar agora até o futuro da eleição para a Presidência dos EUA. Está em dúvida a realização de debates e outros atos de campanha nas próximas duas semanas, metade do tempo que falta para o dia da votação.

Considerando os resultados do primeiro embate com o democrata Joe Biden, pode até beneficiar Trump. Apesar do bate-boca desastrado, pesquisas mostraram leve vantagem para o democrata. Se antes era difícil de prever resultado, agora se tornou quase impossível.

Esse aumento de incerteza faz investidores se refugiarem em mercados mais seguros. Países com economia fragilizada, como o Brasil, tendem a ser mais afetados. Em setembro, houve saída de R$ 2,4 bilhões de estrangeiros da bolsa brasileira. E o fato inesperado colhe o país em momento difícil, com endividamento crescente e dúvidas sobre o compromisso do governo Bolsonaro com o ajuste fiscal.

A bolsa caiu 1,53% na sexta-feira, enquanto o dólar fechou quase estável, mas em R$ 5,666, cotação mais alta desde 20 de maio. Isso ocorreu um dia depois que Bolsonaro afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem 99,9% de sua confiança. O que tornou a declaração necessária foi o desgaste de Guedes na discussão sobre como financiar um programa social mais robusto do que o Bolsa Família. E o clima que já não era bom entre Guedes e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, azedou mais na sexta-feira. Em reunião com bancos, Marinho disse que o colega havia perdido a confiança do relator do orçamento no Congresso, Márcio Bittar (MDB-AC), por ter revisto sua posição sobre os precatórios como fonte para o Renda Cidadã.

Ao saber, Guedes afirmou que não devia ser verdade, porque, se fosse, Marinho seria "despreparado, desleal e fura-teto". A piora global e a desconfiança interna fizeram o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, revisar sua projeção para o dólar no final de ano de R$ 5,90 para R$ 6.

"No mundo anormal, mais mudanças" 

Andrea Kohlrausch havia se tornado presidente da Bibi Calçados há menos de um ano quando a pandemia a obrigou a mudar todos os planos em poucos dias. A empresa, que emprega 1,2 mil funcionários, não fez demissão em massa. Com indústria e uma rede de franquias, já abriu quatro lojas na retomada e prevê mais três no Exterior ainda neste ano.

Distanciamento

"Neste momento, estou em casa, porque meu esposo testou positivo para covid-19. Faz uma semana, ele tem sintomas bem leves, mas nos isolamos. Antes, alternava entre casa e empresa. Demos férias coletivas, depois adotamos jornadas reduzidas. Em agosto, conseguimos retomar 100% da produção. Setembro foi o primeiro mês completo. Aderimos ao movimento Não Demita e mantivemos cerca de 1,2 mil empregos, incluída a unidade da Bahia."

Leitura e lazer

"Participei de muitas lives, vi algumas séries e filmes, como O Dilema das Redes. Estou lendo agora Avalie o que Importa (Bruno Menezes e John E. Doerr), sobre gestão de OKRs (Objectives and Key Results, metodologia adotada pelo Google). Também estou passando um momento único com meus filhos Luísa, de 11 anos, e Augusto, de três. Fizemos uma escala familiar para que possam brincar e socializar. Levamos para andar de bicicleta. Haja criatividade. Eu estava mais sedentária e retomei a corrida."

Combate ao coronavírus

"Não há solução ainda, mas já estamos voltando às atividades. Exportamos para mais de 60 países, lidamos com situações muito diversas, como no Peru, onde houve dias que os homens não podiam sair, e na Argentina, que segue muito fechada. Não dá para se desmotivar, tem de buscar a solução. Atuamos muito no apoio a nossa rede de franquias. Orientamos sobre como atuar no e-commerce, orientamos sobre as MPs e prazo para recolher impostos, apoiamos negociações com shoppings. Ajudamos a ativar o delivery, adotar mecanismos antifraude, a trabalhar nas redes sociais."

Aprendizado

"A Bibi tem 71 anos porque sempre teve coragem de inovar. Vai intensificar a inovação. Temos foco em sustentabilidade e buscamos o equilíbrio com todos com quem trabalhamos. Acreditamos na empatia e na disposição de aprender sempre, e a pandemia reforçou esses princípios."

Reflexões

"Uma das frases que uso é ?quem tem um porquê enfrenta qualquer como?. A empresa tem propósito claro, que é contribuir para o desenvolvimento feliz e natural das crianças. É importante que cada pessoa busque seu propósito. Não há um novo normal, vamos ter um mundo anormal, em que as mudanças vão se acelerar. Com tanta informação disponível, o que vai importar é a capacidade de execução. Nessa retomada, já inauguramos quatro lojas, abrimos a segunda no Equador, a primeira internacional do ano, e ainda devemos abrir mais três no Exterior neste ano. Ainda não vencemos o coronavírus, mas estamos retomando com prevenção e segurança."

Indústria de alimentos para cães e gatos de Garibaldi, a Nutrire ampliou seu plano de expansão para o Exterior. A empresa passa a fornecer produtos para o Catar. Vai começar com o envio de um contêiner com 12 toneladas de ração. A empresa gaúcha já vende para outros oito países árabes.

A embalada na construção civil também chegou a Gramado. Entre abril e agosto, a Scalla Incorporações vendeu 70% das unidades de um novo prédio na cidade da Serra com 20 apartamentos.

Depois de gerar 1,14 mil postos em julho, o setor calçadista criou outros 6,3 mil em agosto. É uma reação depois de quatro meses seguidos de perda de empregos, mas ainda faltam 36,6 mil para voltar ao nível de dezembro de 2019 (269 mil postos de trabalho).

MARTA SFREDO

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