03 DE OUTUBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
Ameaça em ondas
Trazem esperança mas também devem ser recebidos com comedimento os números que mostram arrefecimento dos casos, das internações em UTI e das mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul, assim como estudos indicando a possibilidade de ter ficado para trás o período mais grave da pandemia. O momento mais crítico teria sido no início de setembro e, agora, o Estado estaria ingressando em uma fase de lento declínio da enfermidade, que já ceifou a vida de mais de 4,8 mil gaúchos. A cautela não tem qualquer relação com questionamento às estatísticas ou à pesquisa que aponta a tendência.
A parcimônia é baseada na simples constatação de que o quadro pode mudar, com um recrudescimento da enfermidade, caso a população relaxe no distanciamento social, na postura de evitar aglomerações, e nas atitudes pessoais como usar máscara, álcool gel e o ato de lavar as mãos constantemente. Mesmo com o cansaço de mais de seis meses de restrições, afastamento de familiares e amigos, o comprometimento individual segue decisivo na batalha para manter os números em trajetória consolidada de queda.
O Brasil, na média, também vem apresentando nas últimas semanas uma curva descendente de infecções e óbitos, após um longo platô, mas este movimento, da mesma forma, não deve se tornar motivo para a população negligenciar medidas essenciais ao combate da disseminação do agente infeccioso. A retomada gradual das atividades econômicas não prescinde de todos os cuidados, cautelas e limitações, como é o caso das escolas, com o retorno às aulas presenciais compondo uma das fases de flexibilização mais sensíveis em todo o mundo.
O exemplo de quanto o novo coronavírus é traiçoeiro e oportunista, sempre à espreita de descuidos e comportamentos inapropriados, vem de alguns pontos do próprio Brasil, da Europa, dos Estados Unidos e de Israel. Manaus, que gerou cenas dramáticas nos primeiros meses da pandemia no país, atravessa período de novo aumento de mortes e a possibilidade de uma segunda onda, embora a situação ainda gere discordância entre especialistas. Na cidade do Rio, as internações em UTIs voltaram a subir nas últimas semanas. Vários países europeus observam a elevação de casos e, em Madri, a capital espanhola, foi preciso aumentar as restrições à circulação da população de algumas regiões. Na Espanha e na França, ficou claro que os jovens são agora os principais vetores da doença e, como não vivem isolados, os que se arriscam ao contágio acabam mantendo o vírus circulando intensamente.
Diante do perigo de uma segunda onda, é preciso renovar o apelo para a manutenção das atenções básicas e do distanciamento social para que o Estado e outras regiões do Brasil não vejam a repetição de imagens de cidades esvaziadas, em um momento de esgotamento social e econômico. Do governo federal já se viu que não se pode esperar muito em termos de incentivo a comportamento seguro. Como ainda não há vacina segura e de eficiência comprovada, negligências podem colocar a perder meses de protocolos rígidos e forçar a necessidade de retornar algumas casas na caminhada das flexibilizações. O mais robusto obstáculo a uma nova onda é a consciência e a responsabilidade de cada cidadão. Afrouxar os cuidados poderá significar ver o mapa do Rio Grande do Sul outra vez pintado de vermelho.
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