02 DE OUTUBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
O drama do desemprego
Na categorização das grandes angústias da população hoje, logo após as preocupações relacionadas à saúde, com o vírus da covid-19 em plena circulação, o desemprego é o drama que exige as providências mais urgentes. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou na quarta-feira uma taxa de desocupação recorde no país no trimestre encerrado em julho, de 13,8%, o que significa a existência de 13,1 milhões de pessoas na busca por trabalho, contingente maior do que o número de habitantes do Rio Grande do Sul.
Mesmo que outros indicadores mais recentes mostrem alguma recuperação em postos formais, o desemprego real, a aparecer nos próximos meses, pode ser ainda maior, surgindo à medida que mais brasileiros se encorajem a procurar colocação com o prosseguimento das flexibilizações e abertura gradual das atividades econômicas. A também inédita marca de 5,8 milhões de desalentados, que nem sequer se animam a tentar um emprego, é um sintoma dessa provável realidade mascarada.
Obstáculos não faltam à frente. O fim de medidas do governo como o programa que suspende contratos e reduz a jornada, no fim do ano, é uma dessas incógnitas. Não se sabe o quanto as empresas que hoje mantêm formalmente trabalhadores vinculados graças a esse mecanismo conseguirão conservar essas vagas devido às incertezas quanto à retomada da economia. A própria redução na quantidade da população ocupada revelada pelo IBGE, com queda na massa de rendimentos, a base que sustenta o consumo das famílias, se torna um limitador importante para uma reação robusta da atividade. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) até apontou que em agosto o país criou 249 mil vagas com carteira assinada, mas no acumulado do ano a perda é de 850 mil postos formais.
É imperativo reconhecer que foram positivas e oportunas as medidas emergenciais executadas pelo governo, tanto no auxílio às empresas quanto para aqueles que perderam o ganha-pão pela necessidade de implementar medidas de distanciamento social. Mas esses auxílios não podem ser eternos e, para se combater o desemprego, é preciso reativar a economia. Neste ponto o governo vem pecando. E o necessário, é preciso ressaltar, não é nenhum megapacote mirabolante de grandes números.
A reativação sustentável da atividade e, por consequência, do emprego, depende antes de mais nada da recuperação da confiança de todos os agentes da economia - consumidores, empresários e investidores. E essa confiança pode ser reconquistada caso o governo desista do caminho populista e retome a agenda prometida da austeridade, das reformas, da abertura econômica e do liberalismo. Ao mesmo tempo, para a reversão das expectativas é essencial cessar definitivamente com a política de permanente conflito, como na questão ambiental, tema em que é crucial uma guinada imediata. Uma injeção de ânimo que melhore a crença no futuro passa ainda por uma revalorização da educação. O restante é ajuste fino. Caso contrário, o país continuará preso a surtos fugazes de crescimento e emprego, sem saltos consistentes no médio e longo prazos, condenando os trabalhadores de agora e das próximas gerações a taxas elevadas de desemprego, subemprego, pobreza e aumento da desigualdade.
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