sábado, 3 de outubro de 2020


03 DE OUTUBRO DE 2020
FABRO STEIBEL

A UNIVERSIDADE DO ESPAÇO 

A Estação Internacional Espacial (ISS) está estudando lançar a Universidade Orbital. O projeto está em fase bem inicial, mas já mostra o quanto o modelo de universidade aqui na Terra é limitado. Falta a universidade, no Brasil e no mundo, aprender com as lições que nos levaram à órbita. Uma delas é usar a internet para avançar nos desafios do milênio.

Se há uma coisa que a covid-19 nos ensina é que modelos híbridos precisam ser adotados por todos. Modelo híbrido é a forma de pensar o mundo considerando o mundo físico e o mundo digital como lados da mesma moeda. Pensamento híbrido é deixar de falar em "educação online" ou "ensino a distância" para pensar em "ensino". É parar de imaginar sala de aula para pensar em espaço de aprendizagem, online ou não.

As universidades são pouquíssimo abertas ao digital, quiçá ao pensamento híbrido. Prova disso é o quanto as faculdades (mesmo aquelas com anos de experiência em Ensino a Distância) suaram para não perder o ano acadêmico no primeiro semestre. No corre-corre de escolher plataformas para dar aulas online, e de saber quem tinha internet suficiente em casa, demos nosso jeitinho brasileiro. Mas ninguém estava preparado para usar internet para o ensino. Ninguém.

Se temos coworking de escritórios, por que não temos colaboratórios de medicina? Se temos marketplaces de saúde ou de eletrônicos, por que não temos o mesmo de cientistas? Se temos homeschooling para menores de idade, porque tão poucos professores usam ferramentas como Miro e Trello para "prototipar" soluções com os alunos entre as aulas? Mesmo as férias da graduação, duas vezes ao ano, poderiam ser híbridas. Até porque as aulas param, mas a pesquisa, não. Com isso, deixamos de ocupar o campus com mais pessoas, justo quando temos espaço para promover inclusão.

A ISS orbita sobre nossas cabeças com seis cosmonautas por vez. O que ela nos ensina sobre universidades? Primeiro, que tudo o que é teórico deve ser prático, aplicado. Exatas ou filosofia, a ciência espacial usa de tudo. Segundo, que países podem colaborar. Se na Guerra Fria todos trabalham em separado, a governança da ISS já é compartilhada (inclusive com o setor privado). E, por fim, a ISS é pensada com cabeça de interoperabilidade. Assista ao filme Apollo 13, com Tom Hanks, para entender o conceito e como um parafuso sem interoperabilidade nos fez fracassar na última tentativa de ir à Lua.

O exercício da Universidade Orbital está só no começo e é acompanhado de dois outros desafios, um relacionado à criação de negócios e outro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A solução criada deve funcionar como um satélite, uma plataforma, de conexão de atores e práticas. A Universidade Orbital não será um campus no Espaço (a tecnologia não nos permite isso). Mas ela já nos ensina que nosso sistema de educação precisa dar mais voltas na órbita para se inspirar, e ser diferente. Para o infinito e além, onde nenhuma universidade jamais esteve.

FABRO STEIBEL

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