sábado, 21 de dezembro de 2019



21 DE DEZEMBRO DE 2019
EM FAMÍLIA

PAPAI NOEL EXISTE?

Na cabeça da Maria Clara, oito anos, não há menor possibilidade de o Papai Noel ser uma invenção dos adultos. Dia desses, ela discutiu com a vizinha da mesma idade que insistia em dizer o contrário.

- Tu acha que meu pai iria comprar uma bicicleta? Tu acha que meu pai iria comprar uma piscina? - questionou a pequena, subindo o tom da voz, convicta de que os presentes dos últimos dois natais chegaram de trenó.

Moradores de Campo Bom, no Vale do Sinos, Rafael de Lima, 34, e Ana Paula Monteiro, 33, nem pensam em contar à filha quem deu os regalos. Querem prolongar sua ingenuidade pelo tempo que for possível. Às vezes, eles se veem às voltas com as meninas e precisam tergiversar para que Maria Clara e a irmã, Camile Vitória, quatro anos, sigam crendo no velhinho barbudo. Na última abordagem da primogênita, Rafael explicou que Noel faz parte do espírito natalino e encerrou o assunto sem espaço para novas perguntas.

A retórica é um pouco diferente na casa dos Vinder München. Lá, a estratégia, por enquanto, é jurar de pés juntos que, mais do que existir, ele observa cada má-criação. Psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ângela Seger diz não haver uma só maneira, certa ou errada, de agir. Ela usa sua experiência pessoal para demonstrar. Quando um de seus pequenos entrou em casa incrédulo com o coleguinha que creditava aos pais os presentes natalinos, ela esperou que o próprio filho desse a resposta.

- Ele me contou que rebateu o amiguinho dizendo que "existia, sim, Papai Noel". Então, a resposta estava dada. Ele queria continuar acreditando e mostrou que não estava preparado para uma explicação diferente daquela - pondera Ângela.

A fantasia está ligada ao desenvolvimento da criatividade, por isso a psicóloga considera saudável estimular a crença. Apesar do apelo comercial, o Natal também desperta sentimentos bons como esperança, solidariedade e respeito ao próximo, reforça. Ela destaca, porém, que se a família discorda da celebração e não vê sentido em cultivá-la, uma das maneiras é deixar a criança descobrir aos poucos.

- Contar que Papai Noel não existe pode ser um choque. Dá para dizer que ele faz parte da imaginação das pessoas, por exemplo. Ou seja, encontrar maneiras menos agressivas. Quando a criança pergunta, é porque já pensou sobre. Então, dá para devolver a pergunta e ver o que ela pensa sobre aquilo antes de qualquer coisa - sugere.

Denise Quaresma, da Universidade Feevale, complementa dizendo que as fantasias são importantes por proporcionarem "um espaço criativo para a elaboração de traumas e realizações". Assim como suas colegas de profissão Ângela e Silza, Denise entende que não há idade correta para serem apresentados à realidade:

- Os pais devem respeitar a necessidade das crianças de agarrarem-se a fantasias, contanto que não seja um delírio muito fora da realidade. A fantasia do Papai Noel está respaldada socialmente. Não se trata de um delírio. Portanto, enquanto necessitar da fantasia, a criança pode mantê-la.

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