sexta-feira, 19 de julho de 2019



e palavras... 


Toga, caneta, farda, religião e eternidade Faz tempo, muito tempo, não lembro quando, me disseram e jamais esqueci, que no mundo sempre teremos juízes, homens fardados e religiosos. Eu acrescentaria à lista homens com canetas poderosas, integrantes do Poder Executivo que tantas vezes executam a população ao invés de simplesmente executar planos de governo.

Tem, ainda, os homens com poderes de fazer leis, que sem regras e leis não há grupo social que dure muito tempo. Bom, não existiria a humanidade sem os contadores de histórias, seus ouvintes e leitores. Alguns escritores são imortais por que não têm onde cair mortos. Mas isso já é outra história, a ser contada outro dia ou outra noite, ao redor de uma fogueira, na tela do computador, no rádio, na TV e no streaming geral. Sem falar e ouvir, os humanos não aguentam. Quem não se comunica se trumbica, como disse Abelardo Barbosa, o grande e saudoso pensador da segunda década do século XX. Mas eu falava de eternidade e de poder.

Os orientais acham que a eternidade é um pássaro que a cada 10 mil anos bica um tiquinho do monte Everest até ele não existir mais. Os ocidentais acham que eternidade é ter filhos, fazer trabalhos que permaneçam, ganhar dinheiro, fazer coleções de tampinhas, automóveis, livros, filhos, cargos públicos ou honrarias, e acumular o que der e o que não der. Alguns poderosos das togas, das canetas, das religiões e das leis e alguns que têm bastante dinheiro para influir nos destinos de um país ou do mundo, os chamados "kings makers", pensam que são eternos, que não vão subir para um andar mais acima daquele onde já estão. A eles recomendo a leitura, releitura e tresleitura do Eclesiastes, livro do Antigo Testamento, que traz a sabedoria do Rei Salomão.

Depois de uma vida cheia de tudo: poder, dinheiro, mulheres, soldados e cavalos, Salomão deixou sua mensagem para que ao final da vida as pessoas não se sintam infelizes e frustradas. "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade" é apenas o início do livro. Seria bom que os que se julgam "eternos detentores do poder" - e que acham que nunca vão morrer, pegar uma cana duríssima ou entregar toda a nem tão suada grana para os advogados caríssimos - lessem o Eclesiastes, e aí, quem sabe, tomariam outros rumos e ofereceriam outros e melhores caminhos para os simples eleitores e contribuintes mortais, que têm como únicas certezas a morte e pagar impostos cada vez mais altos.

Os que se acham poderosos pensam que podem ser enterrados com a toga, a caneta ou cobertos pelas vestes religiosas e seguir para a ilusória imortalidade. Ledo e Ivo engano, isso de nada vai lhes adiantar. Para que tanta banca doutores, para que tanta pose? O enfarte lhes pega, já avisou Billy Blanco faz tempo. Sempre é bom lembrar que as pessoas só morrem mesmo quando ninguém mais lembrar delas. Tens uns e outros aí que morrendo vão preencher uma lacuna e logo serão esquecidos. Terão imortalidade curta como coice de porco.

a propósito... 

O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente, falou o Lord Acton. Todo mundo sabe que o poder é afrodisíaco e que a loucura pelo poder é mais velha do que andar a pé. Mas todo mundo sabe que, depois de algum tempo, exageros e exagerados de uma banda ou de outra dançam solenemente aos sons das canções, das palavras e dos gritos das ruas. Quem não leu os livros de história pode conferir que os políticos só têm medo do povo nas ruas.

E isso nunca faltou, nem vai faltar. Corrupção é tão humana e antiga como outros vícios ou doenças. Tratamentos, vacinas e até curas andam pegando. Quem quer manter as boquinhas, que fique democraticamente esperto e que feche ao menos um pouco esses olhos maiores do que seus gordos barrigões.  -

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/07/693690-o-fantasma-mais-eterno.html)

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