sábado, 27 de julho de 2019



27 DE JULHO DE 2019
FABRO STEIBEL

A SEGURANÇA NO CELULAR

O vazamento de mensagens da Lava-Jato deveria deixar todos nós em alerta. Afinal, quão seguras são as mensagens que compartilhamos por aplicativos? Não há motivos para pânico, mas existem coisas que você - e principalmente o governo - deveria fazer para que os vazamentos sejam evitados.

Antes de tudo, lembre-se de que estamos falando de um fenômeno global. Em Porto Rico, as mensagens vazadas do governador Ricardo Rosselló levaram à renúncia de seu gabinete, à instauração de um pedido de impeachment e, depois, à saída do próprio Rosselló. Vieram a público palavrões, conteúdos misóginos e homofóbicos, além de atos irregulares (e possivelmente ilegais).

Você pode e deve contribuir para evitar vazamentos. Ative a verificação de dois níveis, use senhas diferentes e mais fortes e mantenha seu celular sempre atualizado. Eis dicas que te protegem. De todo modo, o que se sabe dos vazamentos até agora é que são ataques pontuais e, portanto, controláveis.

A técnica possivelmente usada para obter acesso ao Telegram já circulava em fóruns especializados desde outubro de 2018 e, agora, está em tudo quanto é canto. Não é nenhuma ciência astrofísica, pelo contrário. E, se você viu House of Cards, já compreende que há quem pague muito por esse serviço (ilícito). Mas o problema mesmo são as falhas de segurança em massa.

Governos em todo o mundo - o Brasil inclusive - têm travado uma guerra contra a criptografia de ponta a ponta, a mesma usada por aplicativos de mensagem instantânea. Motivados pelo medo de ficar sem acesso à interceptação de mensagens, o setor público tenta convencer (ou obrigar) o setor privado a instalar uma chave-mestra ou porta secreta na criptografia embarcada nos aplicativos. Se isso acontecer, aí sim você pode começar a ter medo, pois estaremos todos desprotegidos.

Vazamentos em massa são raros porque a criptografia que usamos não inclui a opção de chaves embaixo do tapete. Só ataques pontuais são possíveis. Ataques em massa são impedidos logo na forma como desenhamos tecnologia. Mas governos querem mudar isso.

Foi uma dessas fragilidades em massa que permitiu à agência americana de inteligência, a NSA, a espiar todos, incluindo chefes de Estado, para fins de segurança, mas também comerciais. Se outras fragilidades existirem, todos inimigos do Brasil podem espiar o que escrevemos. Vale o risco? Outra dica para governos tomarem é exigir que as caixas de mensagem de telefone tenham senha de acesso. O News International é um grupo de mídia inglês que abusou dessa fragilidade por anos para espiar, chantagear e expor a privacidade de celebridades e políticos.

A segurança do seu celular depende de você. Mas quem pode realmente nos proteger são os governos. Ter uma rede segura, com criptografia bem feita, é algo que governos precisam apoiar com vigor. Antes que nós - e, pelo visto, inclusive eles - experimentem a fragilidade que é ter nossa privacidade exposta por aí.

FABRO STEIBEL

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