sábado, 27 de julho de 2019


27 DE JULHO DE 2019
RODRIGO CONSTANTINO

Tecido social

As liberdades individuais não sobrevivem num vácuo de valores morais. Os liberais clássicos e conservadores sempre foram simpáticos a essa crença, daí a importância que dão ao tecido social, mantido justamente por associações voluntárias que fortalecem o sentido de comunidade, tais como as igrejas. Atualmente, com o recrudescimento do tribalismo, esse tecido está bastante esgarçado.

Ao frequentar com a família esses locais que buscam um propósito comum, o indivíduo encontra um ambiente de tolerância e igualdade. Não importa tanto a classe, o  sexo ou a “raça” ali, pois não é isso que une aquelas pessoas. O enfraquecimento dessas instituições tem colaborado para o clima de polarização exacerbada na sociedade, o que é alimentado pelas redes sociais. Os radicais ganharam mais voz, eis o fato.

E fazem um barulho ensurdecedor, que intimida a maioria silenciosa e mais moderada. De ambos os lados do espectro ideológico, há mais intolerância e desrespeito. São vários casos que ilustram essa tendência. Podemos pensar em palestrantes conservadores impedidos de falar em universidades americanas por conta de protestos agressivos de “justiceiros sociais” que dizem combater o fascismo, mas agem como fascistas.

Ao mesmo tempo, simpatizantes de Trump gritam num evento pedindo que o presidente mande uma congressista de volta ao seu país de origem, sendo que ela é americana. Por mais abomináveis que sejam as ideias racistas de Ilhan Omar, o coro é inaceitável e ao menos deixou Trump constrangido.

No Brasil, a jornalista Miriam Leitão foi alvo de pressão bolsonarista e teve sua participação cortada numa feira de livro. Ela já foi atacada por petistas também. Já o ministro da Educação foi cercado e humilhado por manifestantes de esquerda, mesmo com sua pequena filha no colo.

Existem inúmeros outros exemplos, mas o ponto está claro: há um ambiente tóxico de intolerância e falta de respeito ao contraditório. Disputas ideológicas têm ficado acima da decência humana. Ou resgatamos o tecido social que nos une, ou o tribalismo vai destruir as liberdades individuais.

RODRIGO CONSTANTINO

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