terça-feira, 23 de julho de 2019


23 DE JULHO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

SARAIVADA DE DISPARATES


Causou estupefação a incontinência verbal do presidente Jair Bolsonaro nos últimos dias. Como uma metralhadora giratória de disparates, polemizou sobre dados de desmatamento do Inpe, revelou mentalidade de censor ao querer estabelecer que gêneros de filme deveriam ser apoiados pela Ancine, negou a existência de pessoas passando fome no Brasil, ofendeu governadores do Nordeste, hostilizou a jornalista Miriam Leitão e, esquecendo-se da impessoalidade que o deve guiar no cargo, insistiu com a nomeação de seu filho para a embaixada brasileira em Washington. Pior, admitiu que não vê nada de errado em querer beneficiá-lo.

Ainda não é possível compreender se as declarações estapafúrdias em série do presidente são apenas uma manobra diversionista, se são fruto de impulso ou se Bolsonaro acredita de fato nas sentenças que profere - mesmo que muitas delas se esboroem diante dos fatos. Mas nenhuma das hipóteses serve para o Brasil. 

É notório que prefere assuntos ligados a costumes e temas ideológicos e evita aprofundar-se em matérias áridas e que requeiram conhecimento mais sólido, como a economia, mas, após 200 dias de gestão, o que ainda se vê é a postura errática de boa parte de seu governo, como mostraram os episódios do quase anúncio e postergação do detalhamento da medida de liberação do FGTS, na semana passada, e a inacreditável revogação da nova tabela do frete apenas quatro dias após a sua publicação. E o que há de elogiável vindo de pastas como Agricultura, Infraestrutura, Minas e Energia e Economia acaba sendo soterrado pela bateria de desatinos.

O Brasil real corre o risco de voltar à recessão e se há algo que Bolsonaro pessoalmente poderia ajudar seria tentar conter-se um pouco em sua verborragia inconsequente, deixando de vocalizar suas íntimas preocupações com temas com os quais um presidente sequer deveria se ocupar. É preciso deixar de lado devaneios e críticas a dados científicos e tentar ao menos diminuir a sensação de que o país tem à frente um mandatário que não compreende a função para a qual foi eleito, deixando a nação desnorteada.

Passou da hora de Bolsonaro começar a governar de verdade, desarmar seu espírito belicoso, ser mais comedido em suas declarações e compreender que tem de ser o presidente de todos os brasileiros e, não apenas de seus seguidores virtuais. Caso contrário, estará injetando apenas mais desconfiança em empresários e consumidores, aumentando o risco de o Brasil ver mais uma vez frustrada a tentativa de retomar o crescimento.

OPINIÃO DA RBS

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