quinta-feira, 5 de agosto de 2010



05 de agosto de 2010 | N° 16418
LETICIA WIERZCHOWSKI


Drexler por aqui

Acho que fui uma das primeiras pessoas a escrever sobre Jorge Drexler nestas páginas, nem lembro há quanto tempo... De uma antiga viagem ao Uruguai, havíamos trazido Llueve – primeiro dos discos de Jorge a tocar aqui em casa. De Amor y de Casualidad, composta para seu filho mais velho, a minha preferida no disco, poderia ser o começo de um bom romance.

Drexler cantou em Porto Alegre pela primeira vez no átrio do Santander num abafadíssimo domingo de dezembro para uns poucos antenados, e disso lá se vão quase seis anos. Foi um espetáculo encantador. Quem lá estava, virou fã do cantautor uruguaio. O tempo passou, Jorge cantando aqui e ali. Veio o Oscar e vieram as manchetes, Drexler ganhou o coração e os ouvidos de muita gente pelo mundo afora.

Em Porto Alegre, não foi diferente. Ou foi, segundo o próprio Drexler. Estive num dos seus espetáculos no último Festival de Inverno, e pude ver que Jorge tem aqui uma compacta legião de fãs. Teatro absolutamente lotado – Drexler virou um querido dos gaúchos, e de tal forma que se sente emocionado a cada nova aterrissagem.

Quando falei que escreveria sobre o show, tratou de dizer: “Aprovecho para agradecerles, porque en ninguna otra ciudad la gente hace colas durante horas para comprar ingresos para mis conciertos.

Es algo que me assombra y me maravilla. Me siento querido y entendido”. Filas não faltam mesmo. Com as duas apresentações completamente lotadas, se Drexler voltar mais uma vez a Porto Alegre, há de encontrar a plateia cheia com todos aqueles que não puderam fazer plantão na bilheteria conjunta do Festival.

Porém, quem perseverou, encontrou o uruguaio encabeçando uma banda incrível, alegre e performática. Jorge Drexler fez um dos seus espetáculos mais lindos e mais cativantes – um show de melodias e de silêncios, borbulhante de poesia.

Um show que já vem com bagagem, porque o público conhecia uma a uma as suas músicas, embora cantasse baixinho, respeitosamente – somos quietos, discretos, e não é à toa que Jorge compara a audiência porto-alegrense à de Montevidéu, já que para mim o Rio Grande parece um outro Uruguai, paisagem e alma quase idênticas, separadas por uma fronteira.

Amar la Trama é um belo disco, cujas músicas crescem no palco. A delicada Noctiluca, composta para o filho mais novo, é outra pérola. Outro começo de um romance. Se os gaúchos recebem Jorge Drexler tão bem, é porque ele merece.

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