Injustiças em viagens
Férias boas são aquelas em que você fica um longo período fora para sentir saudade do seu travesseiro. Férias ruins são aquelas que, de tão rápidas, fazem você jurar que não aproveitou o suficiente e voltar não querendo voltar. Em meio a minha vasta experiência em hotéis e restaurantes, devido a palestras e shows pelo país, tenho visto algumas injustiças. A primeira se refere aos hóspedes.
Eles são tratados como sem-teto até a liberação do quarto, tendo que vagar pelos corredores e áreas em comum da recepção. Famílias extenuadas ficam amontoadas com as suas malas no sofá, sem chance imediata de se recuperarem da viagem.
Na maioria dos estabelecimentos, prevalece a norma de que você só pode entrar no quarto a partir das 15h. Nunca fui bom em matemática, porém não sou bobo. Se você entra somente no meio da tarde, mas é obrigado a sair às 12h, onde vão parar as três horas restantes? Não pode ser considerada uma diária, já que representa 21h de hospedagem.
Há o rigor espartano na hora do checkout e um adiamento inexplicável no check-in.
Ninguém paga menos ou tem um desconto por essa abreviação. Sequer recebe um pedido de desculpa ou um upgrade. Eu me intrigo com o buraco negro na linha do espaço-tempo: por que são necessárias três horas para efetuar a limpeza do quarto?
Com três horas, eu faxino a casa inteira. Sobra tempo para varrer a frente, bater o capacho, encerar o piso, deixar as janelas brilhando, dar conta de duas lavagens da máquina.
Devemos levar em consideração que nem todos os hóspedes permanecem pela manhã, já que muitos dependem de voos cedo. Assim sendo, duvido que dormitórios não estejam disponíveis para o rápido ingresso.
Existe, ainda, outra arbitrariedade, que costumo testemunhar em grande parte dos restaurantes: parece que o cardápio é dirigido exclusivamente para casais. Solteiros não têm vez. Os melhores pratos são sempre porções para duas pessoas. Se você está desacompanhado e deseja as atrações gastronômicas do lugar, será constrangido a pagar 60% ou 70% da refeição. Qual a diferença de preparar para uma ou para duas pessoas? É o esforço de tirar uma concha a menos da panela?
São mistérios do turismo.
Relacionamentos também não escapam da regra da quantidade. Se um dos dois apresenta restrição alimentar ou intolerância à lactose ou ao glúten, o par acaba por ser incluído na punição solteira.
Vejo o quanto a minha esposa pena indevidamente com a minha alergia a frutos do mar. Seu sonho é pedir uma paella, amarela de açafrão, com o pujante caldo de peixe entremeado de mariscos, moluscos, camarões e pescados. Só que não posso participar, e nenhum garçom recomenda, pelo baixo custo-benefício.
Não posso dizer para ela embrulhar a sobra, paella é como gentileza: não tem como ser requentada.
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