sábado, 31 de dezembro de 2022


Feliz 2023 – saúde, sorte, sucesso

Por Tito Guarniere | 31 de dezembro de 2022

Que lhes posso desejar para 2023? Só coisas boas – saúde, sucesso, sorte, nessa ordem e só na letra “s” do dicionário.

O principal é a saúde. Pergunte ao homem mais rico do mundo, quando fica doente, o que ele mais deseja, e na ponta da língua está a palavra mágica : saúde! Ou mudando um pouco , perguntem se ele daria metade da fortuna em troca de ficar 10 anos mais jovem. Como em nenhum negócio espetacular dos tantos que fez ao longo da vida, ele responderá de pronto, sem pensar ou vacilar : sim, mil vezes sim.

Vi uma foto que me comoveu, Pelé e a filha Kelly no leito de hospital , em São Paulo. O craque, a celebridade, o gênio, o rei, certamente vivendo o ocaso de uma existência gloriosa, as batidas do coração lentas e descompassadas, talvez desse todo o seu reino de glória para se movimentar, sentar de conta própria, respirar normalmente. 

Mas mesmo o rei estava ali se rendendo à lei da vida, que é a mesma lei do fim e do passamento. Em momento fugaz de lucidez, ele talvez esteja implorando por um pouco de força, de luz – de saúde. Nessa hora não há rei, nem riqueza ou genialidade: o mundo fica igual e ninguém escapa à dor e ao sofrimento.

Então, saúde é o que interessa, como dizia o bordão da tevê. Saúde para caminhar lentamente na alameda olhando ao redor e pensando na vida, respirar o ar puro do campo, olhar as estrelas na noite clara, tomar no colo a criança e embalar-lhe o sono inocente. Saúde, caro(a) leitor(a) é o que lhe desejo mais do que tudo, e aos seus, no ano que está para começar.

Torço pelo seu sucesso no estudo, no trabalho, no seu projeto de vida. O sucesso é demorado e difícil – uma trajetória de altos e baixos, uma longa aventura cheia de percalços. O sucesso, que depende acima de tudo do nosso esforço pessoal – muito mais suor e vontade do que de talento e habilidade.

O sucesso, que não é garantido nem mesmo para quem se esfalfa no trabalho. Como nada é perfeito, nem sempre o empenho, o interesse, o esforço e o foco redundam na vida bem sucedida. Mas sem a energia, o esforço pessoal, a perseverança, dificilmente você conhecerá o êxito, a realização plena, o reconhecimento e a admiração (e às vezes a inveja ) de todos. Então, mãos à obra e quem sabe, com um pouco de sorte, o sucesso lhe abrirá um largo sorriso.

A sorte, ah sorte. É preciso muito sorte para desfrutar de certos privilégios (tipo viajar de classe executiva a Paris, Londres, Nova York duas ou três vezes por ano, morar na mansão e no bairro seguro, passar o final de semana na casa de campo ou da praia, trocar de carro todo ano e coisas assim) – sorte de vir ao mundo com talentos especiais (atores e atrizes de cinema, atletas de ponta, cantores e cantoras pop), nascer em berço de ouro, ganhar na loteria, casar com milionário ou mulher rica. O ruim é que estamos exaustos de saber que essas coisas só existem para uns poucos afortunados. Mas se a sorte nos contemplar em 2023, seja bem-vinda!

Bem, meus caros, de toda forma são os votos que formulo para você e os seus em 2023: saúde, sorte, sucesso.


CARTA DA EDITORA

PROTEÇÃO PARA OS FIOS

Durante a temporada de praia e piscina, o que nosso cabelo mais precisa é de uma boa rotina de cuidados e hidratação. Lavar bem os fios para remover o cloro e deixá-los prontos para receber um bom tratamento é o ponto de partida ideal. Além de hábitos básicos, como evitar o uso de secadores, outra sugestão é sempre preferir os condicionadores e máscaras com fórmulas nutritivas e hidratantes.

A visita ao salão para uma hidratação intensa também é parada obrigatória. Seja para recuperar a saúde dos fios ou para prepará-los para a próxima exposição, o tratamento profissional garante cabelos sedosos e iluminados o ano inteiro.

Para te ajudar nisso, nossa dica imperdível são os serviços do salão Beauty Line, do Donna Beauty Pompéia, que tem oportunidades especiais para quem deseja adicionar as hidratações à rotina.

VISITE-NOS: Espaço Unisinos - Av. Dr. Nilo Peçanha, 1.500.

Divas Olímpicas - O Calendário Solidário da Maturidade-RS, do Coletivo Divas da Alegria, chega à sua terceira edição em 2023 com uma homenagem ao universo dos esportes. A ideia é incentivar a prática de atividades físicas para um envelhecimento mais saudável. Além disso, a produção faz referência às mulheres que fizeram história em diferentes modalidades. Estrelam o calendário, denominado Divas Olímpicas, gaúchas entre 60 e 94 anos, com figurinos que remetem a uniformes marcantes, como uma releitura do vestido usado por Maria Esther Bueno em Wimbledon (foto à dir.), em 1962, e uma representação da ginástica rítmica (foto à esq.), entre outras. Para mais informações, acesse divasdaalegria.com.br.

Tendências à mostra - As principais novidades da moda do próximo inverno para o setor têxtil serão apresentadas entre os dias 24 e 27 de janeiro, na Fenin Fashion Gramado. Mais de 500 marcas de todo o Brasil estarão reunidas no Serra Park (Rua Viação Férrea, 100, bairro Três Pinheiros), com vestuário feminino, masculino e infantil para a temporada fria, além de acessórios e lingerie. O evento é um dos mais relevantes da América Latina no segmento e, para 2023, teve sua dimensão ampliada em 30%, com estimativa de público de 15 mil visitantes. Saiba mais em fenin.com.br.

CARTA DA EDITORA

31 DE DEZEMBRO DE 2022
CARTA DA EDITORA

O planeta gira com ela

Depois de dois anos, o verão gaúcho volta a ser o verão gaúcho. Com o retorno do Planeta Atlântida, veremos também a retomada de rotinas tão nossas, como os adolescentes ansiosos por suas estreias no evento e os nem tão jovens vivendo momentos de memória afetiva, ao som de Armandinho ou Jota Quest. No setlist de sábado, dia 4 de fevereiro, tem ela: Ivete Sangalo, uma das maiores estrelas do país e musa da capa de Donna que marca o fim de 2022 e o início do novo ano.

Não poderia ser mais representativo. No período que fica para trás, Veveta completou 50 anos de vida. Para o próximo, projeta de "tudo um muito", com shows e televisão, família e redes sociais, plenitude e ritmo frenético. Haja borogodó para um cozido desses, não é mesmo?

Na entrevista por e-mail, falou sobre a carreira, a maternidade e as pressões que sofremos - anônimas e divas das câmeras e dos palcos - por uma juventude eterna. Mesmo por texto, é possível ouvir seu vozeirão e reverenciar: "Ao contrário do que muita gente pensa, chegar aos 50 é estar agradecido, vibrando, brindando".

Falando em brinde, que 2023 nos reserve grandes mulheres como Ivete e as que fazem história longe dos holofotes, com ou sem milhões de seguidores, e munidas de inspiração para contar e escrever.

CARTA DA EDITORA

31 DE DEZEMBRO DE 2022
LEANDRO KARNAL

Historiador, professor da Unicamp, autor de, entre outros, "Todos Contra Todos: o Ódio Nosso de Cada Dia".

No RH do céu, um anjo entrevista o ano de 2023. Há uma vaga para o Ano-Novo.

"Preencheu todos os dados? Vamos conversar um pouco. Você não tem experiência, mas o Ano-Novo nunca tem. Você vem em paz? Não gosto de fazer fofoca, mas 2020, 2021 e 2022 foram complicados. O triênio foi uma provação cármica para as pessoas lá da Terra. A pandemia chegou, dominou e insistiu em ficar, ainda que não ocupe todo o sofá da sala agora. Ainda está lá com os pés sujos e o jeito folgado. Guerras? Nunca cessaram na Síria ou Iêmen. Expandiram-se para a Ucrânia. Política? Polarizada, cheia de fígado, atrapalhada e violenta. A Amazônia? A fumaça enche tudo aqui em cima. Nem vou falar! Três anos de retrocesso em quase todos os campos. E, agora, um novo ano...

Os anos passados foram difíceis para o mundo e complicadíssimos para o Brasil. Assim, precisamos fazer uma entrevista mais demorada. Suas intenções são boas mesmo? Você chega com muitas expectativas mais por causa do fim de 2022 do que pelas suas promessas de novidade.

Olha, o Chefe está meio irritado, sabe? Já disse que as pessoas não podem ficar tão mal que não tenham mais medo do Inferno (nossa concorrência). Se o mundo continuar assim, ninguém mais vai diferenciar estar vivo de estar condenado após a morte. Ele já disse que devemos selecionar um ano melhor para agregar valor à nossa marca. Hoje, está mais fácil defender a marca do concorrente do que a nossa.

Vou lhe dizer uma coisa entre nós: nosso protótipo para o mercado, Adão, tinha a cláusula do livre-arbítrio. Ele pisou na bola e quebrou o código de conduta. O filho Caim? Nunca incorporou nosso "mindset de crescimento". No dilúvio, tivemos de zerar a produção e dar um reset em tudo. O Chefe disse que iria mandar o próprio Filho para a unidade Terra e... fez isso. Foi um empreendimento desafiador. Ele voltou para a matriz com algumas marcas dolorosas daqueles anos.

2023, preste atenção: vamos lhe dar quatro metas! Você deve ser capaz de ampliá-las: terminar com a pandemia e não inventar uma nova; salvar a Amazônia; eliminar a fome; fazer com que as pessoas discordem, sem querer matar o debatedor. Se você conseguir 75% das metas, terá um bônus especial. Se atingir todas, o Chefe promete um cargo permanente aqui no setor Memória de Ano-Bom. Caso não queira, como estratégia, vamos pular já para 2024. Reflita. Falta pouco para o cargo ficar vago. Leve esta camiseta, brinde da nossa empresa. Nela, a palavra esperança. Interessa a você?"

LEANDRO KARNAL

31 DE DEZEMBRO DE 2022
RETROSPECTIVA 2022

RETROSPECTIVA 2022

O ano de 2022 deverá ser lembrado nos livros de História como o período em que a sociedade brasileira se partiu em duas. Duas facções políticas, demarcadas pelo uso do verde-amarelo ou do vermelho, foram cindidas pela disputa eleitoral em busca da Presidência da República de forma inédita desde a redemocratização do país.

A cizânia política cortou amizades de quem não partilhava a mesma preferência partidária, afastou parentes e culminou em atos de violência como o assassinato de um guarda municipal e dirigente petista em Foz do Iguaçu, no Paraná, em meados de julho. Marcelo Arruda foi abatido a tiros durante sua festa de aniversário de 50 anos, decorada com a imagem do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, por um radical bolsonarista que acabou agredido a chutes por participantes do evento depois dos disparos. 

Para cientistas políticos, as animosidades devem se reduzir à medida que o calendário se distancia da data da eleição, mas há dúvidas se o tempo também conseguirá cicatrizar o corte que se abriu no tecido social da nação.

- Creio que essa polarização não veio para ficar, porque o país não suporta uma coisa dessas. Uma coisa é a polarização política, mas o problema é que ela veio acompanhada da disposição à violência. Pelo menos, espero que não tenha vindo para ficar. O desafio será tomar medidas explícitas e sistemáticas para distensionar politicamente o país, como a revisão da política que facilitou o acesso às armas e a proteção de populações que foram muito hostilizadas, como os indígenas e quem produz ciência e cultura - avalia o cientista político Hermílio Santos, coordenador do Centro de Análises Econômicas e Sociais da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS).

A cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Sousa Braga é um pouco menos otimista:

- O resultado eleitoral mostrou que o grupo que estava no poder sai ainda bastante fortalecido. Como a sociedade está muito dividida, acredito que essa divisão vai permanecer. Apesar disso, sob o ponto das forças políticas no Congresso, a polarização deve se reduzir porque o grupo que deixa o poder não terá as mesmas moedas de troca para agregar os partidos.

A cisão colocou de um lado majoritariamente eleitores homens, pessoas de renda mais elevada e a população evangélica a favor de Jair Bolsonaro e, de outro, mulheres, a intelectualidade e a fatia mais pobre da sociedade em prol de Lula. A pequena diferença registrada no segundo turno - 50,9% a 49,10% em favor do petista - demonstra o delicado equilíbrio entre as alas políticas, que também se alimentam da rejeição ao representante do campo oposto.

Esse cenário, que já transparecia nas pesquisas de opinião, se materializou nas manifestações de rua. Os bolsonaristas realizaram atos de massa ao longo do primeiro turno e fizeram das festividades do 7 de Setembro um exercício de demonstração de força. O então candidato à reeleição trocou o tradicional tom institucional dos discursos de seus antecessores nessa data por uma retórica salvacionista que aprofundou o clima bélico:

- Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal, um mal que perdurou por 14 anos em nosso país - declarou a uma multidão em Brasília.

Lula usou as redes sociais para responder, em vídeo:

- Em vez de levar aos brasileiros uma mensagem de paz, união e esperança, o presidente da República utilizou a data para fazer campanha eleitoral e ofender seus adversários.

As manifestações favoráveis ao PT ganharam as ruas de forma mais visível nas semanas seguintes, por meio de comícios e caminhadas nas principais cidades brasileiras.

A disputa encarniçada puxou para a briga no campo político até celebridades e artistas. O cantor Gusttavo Lima, apoiador de Bolsonaro, teve seu nome vaiado todas as vezes em que foi mencionado durante o prêmio Multishow, por exemplo, enquanto Gilberto Gil chegou a ser intimidado por bolsonaristas no Catar, durante a Copa do Mundo.

A camisa da Seleção Brasileira também acabou sequestrada pela contenda ideológica passando a uniformizar os defensores do presidente, antes da eleição, e os manifestantes que pediram intervenção militar na frente dos quartéis depois de contados os votos que deram a vitória a Lula. A Copa do Mundo, iniciada dias após o segundo turno, serviu para resgatar a tradicional camiseta amarela do cativeiro político.

Até o presidente eleito se deixou fotografar utilizando o uniforme da CBF ao lado da mulher, Janja, em meio à competição. A equipe brasileira passou a concentrar a atenção e a torcida dos brasileiros, o que acabou gerando inconformidade em uma parte dos acampados pró-intervenção. Por meio de redes sociais, circularam apelos para a vestimenta padrão nos protestos substituir a chamada amarelinha por peças brancas ou camufladas.

Hermílio Santos sustenta que o clima de tensão que caracterizou 2022 também foi amplificado pelas ameaças ao sistema democrático mesmo antes dos protestos nos quartéis.

- Foi um ano de muita incerteza política, em que se gastou muita energia por não se saber se o resultado das urnas seria respeitado. Desde a primeira eleição após a ditadura, em 1989, nós jamais havíamos tido esse tipo de preocupação, que gerou instabilidade na sociedade, na economia e no setor privado - analisa o professor da PUCRS.

Outras incertezas serão carregadas 2023 adentro, como a capacidade da terceira gestão de Lula à frente do Planalto de manter a governabilidade diante da contrariedade de expressiva fatia dos brasileiros e de um Congresso em parte alinhado a Bolsonaro.

- Um dos desafios será estabelecer relações com uma parcela dos parlamentares que só conhece uma forma de lidar com governos, que é ter acesso facilitado ao Tesouro. Como manter a governabilidade sem se tornar refém do Centrão ainda é um grande mistério - sustenta Santos.

No outro lado do espectro ideológico, uma das questões para se prestar atenção ao longo dos próximos meses será a disposição de Bolsonaro de deixar para trás o fardo da derrota e se manter como líder popular da extrema direita. Nas semanas seguintes à derrota para Lula, o ainda presidente se isolou e mostrou-se triste nos poucos eventos oficiais de que participou a ponto de chorar diante das câmeras.

Para Maria do Socorro, será preciso altas voltagens de energia para manter a fidelidade da base bolsonarista sem as facilidades do poder emanado de Brasília.

- Uma coisa é ser presidente e estar pautando os assuntos do dia e da semana. Sem estar em arenas de poder, ou na mídia, teremos de ver como o clã Bolsonaro vai atuar, se vai seguir ativo nas redes sociais. A extrema direita costuma trabalhar com alta intensidade de mobilização. Sem isso, corre o risco de ir diminuindo aos poucos - acredita a professora da UFSCar.

"MODO GOBLIN"

Esta foi eleita a "palavra de 2022" pela Oxford University, na tradicional eleição realizada no Reino Unido

Significa, segundo a própria instituição, "um tipo de comportamento que é assumidamente autoindulgente, preguiçoso, desleixado ou ganancioso, geralmente de uma forma que rejeita normas ou expectativas sociais"

Trata-se de um termo que viralizou a partir de um tuíte satírico em cima de uma manchete falsa que citava a atriz Julia Fox dizendo que ela e o rapper Kanye West terminaram o relacionamento porque ele não gostava quando ela "entrava em modo goblin"

Os termos do ano segundo a Oxford University têm refletido mudanças comportamentais, e nos anos anteriores vinham sendo relacionados invariavelmente à pandemia, às turbulências políticas e às relações sociais em tempos de tecnologia digital - em 2016 foi "pós-verdade"; em 2017, "fake news"; em 2018, "tóxico"; em 2019, "emergência climática"; em 2021, "vax" (termo em inglês relacionado à "vacina")

Em 2020, foram eleitos termos específicos para cada mês, incluindo "coronavírus", "lockdown", "cancelamento", "vidas negras importam" e "impeachment" (por conta do processo a que Donald Trump foi submetido nos EUA

Expressão que se tornou cotidiana no vocabulário dos brasileiros ao longo de 2022, o orçamento secreto tinha previsão de somar mais de

R$ 19 bilhões

segundo a proposta de lei orçamentária encaminhada pelo Executivo ao Congresso. São as chamadas emendas do relator do orçamento da União, que foram objeto de debate na campanha eleitoral e de denúncias na imprensa. Já no final do ano, o STF considerou tais emendas ilegais. 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022


Jaime Cimenti

Clássico distópico de Robert Hugh Benson

O SENHOR DO MUNDO

O Senhor do Mundo (Avis Rara, 288 páginas, R$ 54,90) é um grande clássico sobre distopia que, sem exagero algum, está no mesmo patamar que Admirável Mundo Novo, de Huxley e 1984 de George Orwell. Todos são livros excepcionais, mas O Senhor do Mundo, do sacerdote e escritor Robert Hugh Benson (1871-1914), é muito superior aos outros, em termos de profecia.

Em sua obra, Benson imagina um mundo que caminha para um governo mundial autoritário, liderado por um político demagogo visto como um Deus. As liberdades individuais são suprimidas, as religiões são perseguidas, toda e qualquer sombra de transcendência e sobrenatural é criminalizada e uma falsa "religião da humanidade" é imposta a todos. Apenas uma força se opõe com vigor ao reino deste totalitarismo universal.

O planeta que O Senhor do Mundo retrata é o mundo do Anticristo e as semelhanças dele com o nosso são aterradoras. Nesse mundo, a paz universal é alcançada por meio do extermínio impiedoso dos que parecem ameaçá-la, e o perdão dos pecados é alcançado pela proibição da religião, a eliminação da pobreza, a introdução da comida sintética e pelo sacrifício dos inúteis e moribundos por meio da eutanásia. As diferenças individuais são eliminadas, todas as religiões são proibidas, com exceção da "religião da humanidade".

Quem acompanha o noticiário não pode deixar de espantar-se com a rapidez com que o nosso mundo caminha para tornar-se o pesadelo imaginado por Benson. A eutanásia é tratada de modo banal, o ambientalismo torna-se uma nova religião da natureza, a comida sintética já é uma realidade, organismos internacionais planejam a criação de um governo mundial e, em nome da democracia, a liberdade sofre restrições. Não se toleram divergências.

A profecia apocalíptica de Benson serve para evitar que se torne realidade e, enquanto é tempo, esse livro pode ser encarado como um manual de estudos e um guia prático de ação. 

Lançamentos

Abdominoplastia Pelos Mestres (Thieme Revinter, 482 páginas, R$ 68,00), dos consagrados doutores Fabio X. Nahas, Mauro F. Deos, Carlos O. Uebel, Marcelo M. Maino e Lydia M. Ferreira, tem 46 capítulos com textos, vídeos e aulas sobre abdome, com foco clínico e embasamento científico.

Faminta (Editora Patuá, 248 páginas, R$ 45,00), romance de estreia da advogada Tatiana Cavalcante, é uma densa e emocionante narrativa sobre Transtorno Alimentar e outras coisas. Traz verdades nebulosas e libertadoras, fala de fome insaciável e da ditadura alimentar que anda aí. Pungente narrativa.

Metaverso Educacional de Bolso - Conceitos, reflexões e possíveis impactos na educação (Editora do Brasil, 120 páginas, R$ 21,90), de Francisco Tupy, professor-doutor premiado e game designer, e Helena Poças Leitão, professora, jornalista e gestora de marketing de grandes editoras, é o primeiro livro sobre metaverso educacional do mundo. 

a propósito...

Mas então é isso. Passadas as alegrias e tristezas do Natal, agora vamos para os fogos de artifício, o espumante, as sete ondinhas, a roupa branca, o pé direito (uns estão aí dizendo que vão entrar com o pé esquerdo...), vamos traçar os bichos que fuçam pra frente e as lentilhas e tentar lembrar mais dos ganhos do que das perdas de 2022. Vamos pensar que sempre existem boas notícias, más notícias, mentiras, meias-mentiras, verdades e meias-verdades e que sempre existirá o silêncio apaziguador, a música boa, linguagem universal (que, junto com o amor, é o que temos mais próximo de Deus) e que sempre será possível as pessoas dialogarem com paz, humor e amor. (Jaime Cimenti) 

2022, o ano escalafobético

Escalafobético. Essa palavra aprendi, além de muitas outras lições, com meu Mestre Roberto Brenol Andrade, que desde 1969 brilha no Jornal do Comércio e segue nos mostrando como se deve ser, viver e fazer jornalismo. Escalafobético é palavra de origem desconhecida, e quer dizer desconjuntado, desengonçado, maljeitoso, extravagante e estrambótico. Alguns antônimos são comum, trivial, elegante e gracioso. Fiz meu trabalho, vocês não precisam consultar o Dr. Google.

A gente achou que depois da pandemia voltaria ao "novo normal", se é que realmente algum dia houve pessoas e mundo "normais". Cada ano que passa parece mais "anormal" e pós-moderno, sem regras, referências, parâmetros e fronteiras, e 2022 teve de tudo, como coisas que nunca aconteceram antes: mais de oito bilhões de seres no planeta, Nasa desviando asteroide, microplásticos detectados no sangue humano, Copa do Mundo cheia de estreias e surpresas, vacina contra a malária, LeDuc fazendo história na Olímpiada como não-binária. 

Viajamos mais no tempo com o telescópío James Webb, uma pessoa não-branca se tornou premier no Reino Unido e vimos bactérias sem microscópios. 2022 teve de tudo: morte surpreendente da Rainha Elizabeth, guerra, eleição bipolar, poderes em conflito, varíola dos macacos, maiores bilionários juntando US$ 1, 3 trilhão e o indiano Gautam Adani como o bilionário que mais ganhou em 2022, impressionantes US$ 55 bilhões.

Mas como disse Carlos Drummond de Andrade, o último dia do ano não é o último dia do tempo e nem o último dia de tudo e o Mario Quintana, sempre ele, nos poetou que o tempo é um ponto do vista dos relógios. Há milênios inventamos o calendário para "organizar e planejar nossas vidas" e para fazer melhores previsões meteorológicas. Calendários ajudam a organizar a vida individual, familiar, compromissos sociais e religiosos e ajudam a pautar os jornalistas para cumprir sua sagrada missão social.

Sim, não vamos nos esquecer que a invenção do calendário ajudou muito as pesquisas científicas e tecnológicas, a agricultura e saber qual roupa usar e para onde viajar. Hoje estou eclético: um olho na poesia, outro na ciência e outro nas coisas do além, como deve ser, embora neste mundo escalafobético as únicas certezas científicas e filosóficas que ainda existem são: pagar cada vez mais impostos e depois bater as botas, de preferência sem dor e antes do Internacional ganhar mais um título.

Em 2022, é bom lembrar, em meio a tanta informações e acontecimentos, que nosso País celebrou, embora com muito menos festas do que ele merecia, os 200 anos de nossa Independência. O parto de nosso Brasil é demorado, mas um dia deixaremos de ser o país da semana que vem para nos tornarmos uma Nação, e espero estar vivo para isso. Também espero ver nossa Seleção Canarinho ganhar mais uma Copa, embora, resiliente, nesse tópico estou achando que o importante é competir. 

 

Silvio Brito - Uma história bonita e feliz de uma terra tão linda!


SILVIO BRITO E CLARISSA - QUANDO O CORAÇÃO DIZ SIM

 

Canção do amor talvez - Silvio Brito e Marysol - Rede Vida de

30 DE DEZEMBRO DE 2022
CARPINEJAR

O Brasil morreu

Pelé é sinônimo de Brasil. O Brasil morreu. Nunca imaginamos viver tal enterro, tal comoção, tal velório. 2022 será o ano em que Pelé se despediu da humanidade. É como perder a nossa explicação de país, de onde moramos, de quem somos.

Para os estrangeiros, Brasil é Pelé. Ele era o nosso visto no passaporte, nossos antecedentes, nossos pré-requisitos, nossas recomendações. Mais do que o Carnaval ou o café, mais do que o samba ou a alegria.

Era o rei eleito pelo povo, a nossa única unanimidade, o sorriso brejeiro de quem chegou no auge e não perdeu a majestade com o desenrolar da vida. Sua carreira foi perfeita. Não existe flagrante de um tropeço, uma pisada, um descuido, um escorregão, um carrinho de Pelé.

Seus olhos proféticos enxergavam o lance antes de sua consumação. Ele sabia sempre aonde a bola iria cair. Ele bailava com a bola, sua parceira de dança, até que ela pousasse no fundo das redes. Ninguém cuidou de uma bola com igual capricho e atração.

Há quem beije a bola, mas só com Pelé a bola retribuía e beijava de volta. Jamais existirá um outro Pelé - gênio vem, gênio se despede dos gramados e não há concorrente. Pelé elevou o patamar de excelência a um nível impossível de ser superado. A um patamar insuportável. Ele era um alienígena perto de qualquer mortal. O melhor do mundo não é capaz de ser o melhor de todos os tempos como ele.

Em apenas um time, o Santos, ele marcou 1.091 dos seus 1.283 gols ao longo da trajetória, levando o clube santista a conquistar duas Copas Libertadores da América e dois Mundiais Interclubes. E ele era tão fora da curva que alcançou a marca do milésimo gol em 1969, muito antes de sua aposentadoria, em 1977.

Pelé acumulou recordes, façanhas, milagres. As torcidas adversárias frequentavam as arquibancadas para saudá-lo mais do que para torcer pelos seus times. Ele parou uma guerra civil na Nigéria, em 1969, em inédito cessar-fogo na cidade de Benin, para que situacionistas e separatistas pudessem acompanhar o ídolo em campo. Aos 17 anos, na Suécia, já brilhava numa Copa do Mundo, com dois gols na final, um deles com direito a chapeuzinho no defensor. 

Popularizou o esporte nos Estados Unidos, jogando pelo Cosmos e atraindo público de 60 mil pessoas aos estádios, algo que nunca tinha acontecido para o futebol em solo americano. Ficou famoso até pelos quase gols, como o do chute de meio de campo contra a Tchecoslováquia e a finta de corta-luz contra o Uruguai.

O tricampeão do mundo (1958, 1962 e 1970) aprendeu a se desvencilhar dos goleiros sendo goleiro na infância. Seu apelido é uma derivação oral do Bilé, como era chamado nas peladas em Bauru pelos colegas quando atuava debaixo das traves.

Talvez tenha sido um goleiro disfarçado de atacante. Talvez esse tenha sido o segredo da sua altura, transferindo aos pés a exatidão e a ciência das mãos.

Tornou-se um assombro de agilidade, elasticidade, velocidade, drible. Suas cabeçadas tinham um impulso de um arqueiro matador. Suas bicicletas tinham a coreografia de um arqueiro que trocou de lado. Ele construía pontes, viadutos, passarelas da beleza na pequena área.

Se você não viu o Pelé jogar, tudo o que você vê de sublime no futebol veio de Pelé. Quis o destino que o atleta do século partisse logo depois de uma Copa do Mundo, a maior festa do futebol. Para lembrar que esse palco sempre será dele. Se Thomas Edison inventou a lâmpada, o mineiro Edson Arantes do Nascimento inventou a luz própria. Sua camisa 10 virou luz.

CARPINEJAR

30 DE DEZEMBRO DE 2022
CAPA

Um 2023 em 10 filmes

Não serão poucos os filmes que chegarão aos cinemas nacionais em 2023 e que devem disputar a atenção do público. Novamente, diversas continuações de sucessos tomarão conta das telas, bem como remakes e adaptações, mas títulos originais também brigam por espaço.

Os próximos 12 meses também contarão com uma nova enxurrada de produções do Universo Cinematográfico Marvel - e, para não ocuparem vagas de títulos mais criativos, ficarão de fora da lista. Mas vale apontar que Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e Guardiões da Galáxia Vol. 3 devem se destacar entre os títulos do estúdio.

Além disso, a DC Comics deve marcar presença, mas, com seu universo sendo rebootado, os filmes deverão ter pouca importância para o futuro da franquia - até mesmo o polêmico The Flash - e, portanto, também não figurará nos mais aguardados.

Os Fabelmans

(12 de janeiro)

Um dos títulos que devem brigar pelo Oscar, o longa dirigido por Steven Spielberg é inspirado na infância do próprio cineasta. Na trama, um jovem chamado Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle) cresce no Arizona pós-Segunda Guerra Mundial e, após descobrir um segredo de família, passa a explorar o poder dos filmes. No elenco, nomes como Michelle Williams, Paul Dano e Seth Rogen.

Os Banshees de Inisherin

(2 de fevereiro)

Um dos filmes mais aclamados lançados no Exterior em 2021 e que deve estar na disputa pelo Oscar, a produção se passa em uma ilha na costa oeste da Irlanda. Por lá, Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson) são melhores amigos. Certo dia, porém, Colm decide pôr fim na amizade repentinamente. O título tem direção de Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime).

A Baleia

(9 de fevereiro)

Com uma das atuações mais comentadas dos últimos anos, Brendan Fraser é Charlie, um professor de inglês recluso, que vive com obesidade severa. Em busca de redenção, ele tenta reparar os erros do passado e se reconectar com Ellie (Sadie Sink), sua filha adolescente que abandonou. Com direção do polêmico Darren Aronofsky (Cisne Negro), o filme deve conquistar indicação ao Oscar de Melhor Ator.

Meu Nome é Gal

(8 de março)

Cinebiografia de Gal Costa. A trama, protagonizada por Sophie Charlotte, acompanha a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos antes de se tornar artista. A narrativa mostra a jornada de Gal durante anos violentos, inovadores e estonteantes que ajudaram a forjar uma das maiores cantoras brasileiras.

A Pequena Sereia

(25 de maio)

Remake em live-action da animação da Disney, a produção gerou polêmica ao escalar Halle Bailey, atriz e cantora negra, para interpretar Ariel. Felizmente, as críticas preconceituosas não foram consideradas, e o filme segue sendo uma das grandes apostas do estúdio. Dirigido por Rob Marshall (Chicago), o longa ainda conta com Melissa McCarthy e Javier Bardem no elenco.

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

(1º de junho)

A nova aventura de Miles Morales mostra o Amigão da Vizinhança encontrando uma equipe de Pessoas-Aranha encarregada de proteger a existência do multiverso. Mas, quando os heróis entram em conflito sobre como lidar com uma nova ameaça, Miles precisa repensar o que significa ser um herói para salvar as pessoas que mais ama. E, pelo trailer, a aventura será tão estilosa e frenética quanto o filme anterior.

Indiana Jones e o Chamado do Destino

(29 de junho)

Indiana Jones volta para uma nova aventura, novamente vivido por Harrison Ford, aos 80 anos. A trama se passa após os eventos da Segunda Guerra Mundial e em meio à corrida espacial. Pela primeira vez, Steven Spielberg não vai dirigir a saga do personagem - cargo passado para James Mangold (Logan). Mads Mikkelsen, Antonio Banderas e Phoebe Waller-Bridge também estão no elenco.

Barbie

(20 de julho)

Com apenas um teaser lançado até o momento, em que traça um paralelo com o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, Barbie já conta com uma legião de fãs. Estrelado por Margot Robbie e por Ryan Gosling, o filme é comandado por Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres) e deve contar a história de uma Barbie que não se encaixa na Barbieland. Também estão no elenco nomes como Simu Liu, Michael Cera, Ncuti Gatwa e Will Ferrell.

Oppenheimer

(20 de julho)

O novo filme de Christopher Nolan (Interestelar) conta a história do físico que chefiou o Laboratório de Los Alamos, no Novo México, durante a Segunda Guerra Mundial, onde desenvolveu as primeiras armas nucleares. O filme tem como grande trunfo o seu elenco repleto de estrelas, como Cillian Murphy, Matt Damon, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Florence Pugh, entre muitos outros.

Duna - Parte 2

(2 de novembro)

Sequência do belíssimo sucesso de 2021, a produção novamente comandada por Denis Villeneuve mostrará um novo capítulo da história de Paul Artreides (Timothée Chalamet), que se une a Chani (Zendaya) e aos Fremen em busca de vingança contra os conspiradores que destruíram a sua família. O longa ainda traz de volta nomes como Rebecca Ferguson, Javier Bardem e Josh Brolin. Já Florence Pugh, Léa Seydoux e Austin Butler são as novidades no elenco.

 CARLOS REDEL



30 DE DEZEMBRO DE 2022
+ ECONOMIA

Diálogo sem palavras

O recorde em número de mulheres no ministério anunciado ontem pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva - 11, uma a mais do que no primeiro governo de Dilma Rousseff - ainda é só um terço do total. Embora as mais saudadas tenham sido Marina Silva, no Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, em Povos Indígenas, coube a Simone Tebet o momento de maior protagonismo.

Para a ex-candidata que, ao aderir à campanha de Lula no segundo turno, pediu aos petistas que vestissem branco, Simone fez um gesto que não pode ser considerado casual: vestiu camisa vermelha. Na hora da fotografia, fez questão de chamar o futuro colega da Fazenda, Fernando Haddad.

Mas a simbologia do gesto não parou aí, ganhou dois reforços eloquentes: pediu a Haddad que se posicionasse para a imagem do outro lado do presidente, deixando Lula entre os dois.

Ao desfazer a coreografia, ainda disparou uma piscada para o novo titular da Fazenda, como se dissesse "fiz como combinamos". O significado do gesto não pode ser mais claro: cada um de seu lado, com Lula no meio, como árbitro de eventuais divergências.

O que se sabe da conversa entre Lula, Simone e Haddad é que ela se comprometeu a manter críticas à condução econômica do futuro governo entre eles. Na entrevista ao jornal O Globo, Haddad já havia referendado o relato de bastidores:

- O presidente fez reunião conosco na terça-feira, às 15h, durante uma hora e meia. Simone tem minha simpatia pessoal, é uma pessoa transparente, que vai colocar, somar e refletir junto. E ela falou que em mais de 90% da agenda ela e eu chegaríamos à mesma conclusão. E, naquilo que porventura houver divergências, há uma instância de arbitragem, que é a Presidência da República. Vamos estar juntos no Conselho Monetário Nacional, na Camex.

MARTA SFREDO

30 DE DEZEMBRO DE 2022
DIÁRIOS DO PODER

Os gestos de Lula durante o anúncio

Um bom termômetro do atual estado das coisas às vésperas do início do terceiro mandato de Lula são os gestos. Sinais que falam e, por vezes, gritam o que não é dito em discursos e entrevistas.

O clima ontem no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) era muito diferente de quando o presidente eleito fizera o anúncio dos primeiros cinco ministros, em 9 de dezembro: o rigor na segurança é muito maior. Além da credencial, para acessar o auditório, era necessário ter uma pulseira colorida e passar por detectores de metal. Segurança virou tema prioritário em Brasília.

O outro sinal, agora do enrosco de tentar acomodar todos os partidos da vitoriosa frente ampla: Lula chegou ao CCBB com uma hora e 40 minutos de atraso. Tratativas para a composição do ministério foram encerradas um pouco antes, com o presidente eleito recebendo líderes partidários em seu hotel, antes de seguir para o CCBB.

O futuro governo começa com ministros de nove partidos - além do PT, o PSB, do vice Geraldo Alckmin, Rede, PCdoB, PSOL, PDT, MDB, PSD e a União Brasil. Ficaram de fora Solidariedade, Agir, Avante e Pros. O PV integra uma federação com o PT e PCdoB, aguardava pasta exclusiva, considerando que os comunistas obtiveram a sua, Luciana Santos, na Ciência e Tecnologia, mas não ganhou.

Outro sinal: desde o início de seu discurso, lendo os nomes em uma ficha, Lula externava algo do tipo "só tem homens, quando começam as mulheres?", ironizando as críticas de pouca representatividade feminina na Esplanada. Ontem, as mais aplaudidas foram Marina Silva (Rede-SP, Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (PSOL-SP, Povos Indígenas - foto abaixo).

O vermelho da blusa de Simone Tebet (MDB-MS), o convite a Fernando Haddad (PT-SP) para que aparecesse a seu lado na foto com Lula e a indicação para que se posicionasse à direita do presidente eleito foram gestos sutis, que buscaram passar a imagem de sintonia dos chefes de Planejamento e Fazenda.

E até as dissonâncias revelam algo. MDB e PSD foram acomodados, cada um com três ministérios. União Brasil, que terá ao menos dois representantes (Juscelino Filho, do Maranhão, nas Comunicações, e Daniela do Waguinho, do Rio, no Turismo), traz a reboque as contradições do Brasil: resultado da fusão do PSL e do DEM, o partido fez dura oposição a Lula em seus dois primeiros mandatos. Agora, será governo - e traz em suas fileiras o maior algoz da trajetória do presidente eleito, o ex-juiz Sergio Moro.

RODRIGO LOPES

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Ano-Novo

Às vésperas de virar octogenário, faço um balanço de vida. Todo fim de dezembro, prometo a mim mesmo ser outra pessoa no ano que virá. Revejo os defeitos que me enxovalham a autoimagem e dificultam minha existência. Para não transformar a coluna de hoje num rosário de lamúrias, prezada leitora, vou me restringir aos defeitos publicáveis, não falarei daqueles que relego às catacumbas da consciência.

Meu pai era contador, dizia preferir o inferno depois da morte para ficar livre dos papéis. Talvez por traço genético, sempre tive problemas com a papelada, nem a internet me libertou dela. Quando um artigo científico ou texto literário impresso cai em minhas mãos, por irrelevante que pareça, coloco sobre a mesa de trabalho para ler ou reler mais tarde, mesmo sabendo que envelhecerá naquele local.

Se tivesse lido 10% dos livros que se acotovelam nas estantes e das revistas científicas empilhadas entre eles, seria um médico de notório saber e o homem culto que sempre desejei ser. As prateleiras abarrotadas no escritório de casa olham para mim como um anátema bíblico que vocifera: "Lembra-te, homem: és ignorante e da ignorância jamais te libertarás".

Planejo, então, doar os livros adormecidos há décadas, comprados para atender a interesses que perdi ou porque me foram dados por pessoas queridas ou pela incapacidade de me separar deles. Apesar dos fracassos anuais em realizar essa tarefa, juro que agora será diferente.

Tenho mais amigos do que tempo para conviver com eles. Todo ano prometo visitá-los, convidá-los para vir em casa, sair para tomar cerveja. Promessas vãs, embora reiteradas toda vez que um deles se vai, acontecimento cada vez mais frequente à medida que envelhecemos.

A mesma dificuldade tenho com as roupas que disputam centímetro a centímetro o espaço no armário. Órfão de mãe desde a tenra infância, aprendi a pregar botões, a fazer pequenos reparos, a manter passadas as camisas e as calças e a engraxar os sapatos até o couro brilhar.

Eles me retribuem com a longevidade: tenho calças e camisas com vinte, trinta anos e até mais. Muitas saíram de moda, são usadas quase nunca, mas permanecem ao alcance de meus olhos para deixar claro que sou um desses privilegiados que acumulam mais do que o necessário.

A despeito das tentativas infrutíferas dos anos anteriores, prometo que desta vez vou doar as roupas que passo meses sem vestir. Mas cada peça traz uma recordação: uma viagem, a pessoa que me presenteou, um momento de vida, a qualidade da confecção, a beleza da estampa ou outra desculpa qualquer para disfarçar o apego despropositado do acumulador.

Tenho mais amigos do que tempo para conviver com eles. Todo ano prometo visitá-los, convidá-los para vir em casa, sair para tomar cerveja. Promessas vãs, embora reiteradas toda vez que um deles se vai, acontecimento cada vez mais frequente à medida que envelhecemos, porque a vida é um palco em que o cenário muda a toda hora e os personagens se retiram um a um, condenando o espectador desatento à perplexidade da solidão.

Cinquenta anos de medicina me ensinaram que o corpo é nosso bem mais precioso. Você, caríssimo leitor, perguntará: "O idiota levou meio século para descobrir o óbvio?". Claro que não, mas demorei mais do que devia para agir como quem adquiriu a consciência de que a atividade física é essencial para uma vida mais plena e, possivelmente, mais longa.

Comecei a correr maratonas quando fiz 50 anos. No início, quis provar a mim mesmo que, se conseguisse completar 42 km, não me sentiria velho. Continuo a corrê-las com o mesmo objetivo e para evitar as condições patológicas que afligem homens da minha idade, manter a vitalidade para trabalhar e para as atividades que sempre tive.

A disciplina que dediquei aos treinamentos para ter corrido cerca de 25 maratonas permitiu que eu completasse a última delas em outubro passado, aos 79 anos. Apesar de reconhecer o privilégio de chegar a essa idade nessas condições, quando muitos de meus contemporâneos já se foram, enquanto outros ainda resistem, mas cheios de limitações, não estou satisfeito.

Você, leitora, vai me achar ridículo, absurdo, mas carrego a frustração de que o excesso de trabalho, a indisciplina e a preguiça nunca me permitiram fazer uma prova bem preparado. Chego ao fim destruído, com ímpetos de deitar no asfalto e chorar de exaustão. Em 2023, farei 80 anos, pretendo treinar com a regularidade exigida para cruzar a linha de chegada ainda com disposição para continuar correndo. É, talvez eu seja ridículo mesmo.

Drauzio Varela


Basta existir, para penhorar

Marco Antonio Birnfeld

A penhora de veículo - a pedido do credor - não depende da localização do bem, bastando que seja apresentada uma certidão que ateste a sua existência. O entendimento foi aplicado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), dando provimento ao recurso especial de uma empresa securitizadora de créditos. O caso é oriundo do Paraná.

A Justiça paranaense autorizou a consulta da existência de veículos no sistema Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) e o imediato registro da restrição da transferência, a terceiros, do bem encontrado registralmente. No entanto, condicionou a formalização da penhora, da apreensão e do depósito do bem à sua localização em posse do(s) devedor(es).

Relatora no STJ, a ministra Nancy Andrighi observou que o artigo 845, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil diz que "a penhora de veículos automotores será feita quando apresentada certidão que ateste a sua existência, ainda que sob a posse, a detenção ou a guarda de terceiros". Assim, não há necessidade de localização física do bem. O precedente vai sacudir a jurisprudência. (REsp nº 2.016.739). 

Direito autoral

A 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro homologou o acordo feito entre as três filhas do músico Raul Seixas e a gravadora Universal Music, para dar fim a uma ação judicial em andamento desde 2021. Elas também receberão percentuais sobre a comercialização das obras.

O baiano Raul Santos Seixas faleceu em 1989, aos 44 anos de idade. Ele foi um cantor, compositor, multi-instrumentista frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Sua obra musical é composta por 17 discos lançados durante 26 anos de carreira.

Ficou estabelecido que a Universal passa a ser "titular exclusiva dos direitos conexos sobre os fonogramas" de Raul. A empresa também obteve o "direito de comercializar, distribuir, ceder e licenciar os fonogramas" para qualquer plataforma "existente ou que venham a existir".

Na homologação, o juiz Alexandre de Carvalho Mesquita afastou a condição de manter os termos em segredo de Justiça, porque o assunto não "se submete às hipóteses legais".

Entrementes...

Prossegue demanda semelhante contra a Warner Music. Tal como a Universal, ela teria licenciado as canções de Raul para as plataformas de streaming "retendo royalties recolhidos".

A ação está em fase de perícia na mesma vara.

Quem são os "cutres"?

GERSON KAUER/EV/DIVULGAÇÃO/JC - Por Paulo Flávio Ledur, professor de Português

O colunista Marco Antonio Birnfeld pediu-me para descobrir o significado e o uso da palavra "cutre", que vem sendo utilizada em alguns meios, inclusive entre profissionais do Direito. Já tinha ouvido algumas vezes essa palavra, mas confesso que não conhecia seu real significado. Então, fui atrás e descobri que é do vocabulário espanhol, significando "tacanho, miserável".

Estendi a pesquisa e encontrei outros múltiplos significados, que, sem exceção, têm em comum o aspecto pejorativo: decadente, sovina, sujo, surrado, ultrapassado, fora de moda, pobre, barato, de má qualidade, de mau gosto, de aspecto descuidado, miserável, mal cuidado. Além de outros que o leitor pode estar imaginando.

Nada impede que esse significado negativo seja aplicado em qualquer setor que conte com a presença humana, inclusive nos meandros da advocacia e do Direito em geral: advogado "cutre", magistrado "cutre", petição inicial "cutre", sentença "cutre", política "cutre", políticos "cutres", ministro "cutre", desculpa "cutre".

No entanto, é importante esclarecer que não é palavra que integra o léxico oficial da língua portuguesa, não podendo, portanto, ser usada em textos que requerem o uso formal do idioma, como a linguagem jurídica.

Seu uso deve limitar-se ao linguajar coloquial, aquele usado nos corredores, no bar e em outros ambientes de confraternização. Como se pode concluir a partir dos exemplos acima expressos, seu significado é totalmente aberto, sendo necessário vincular o uso ao contexto. 

Números da advocacia

Arredondados, a advocacia brasileira termina 2022 como 1 milhão 335 mil profissionais do Direito. As advogadas são 671 mil; os advogados, 644 mil.

No Rio Grande do Sul, a classe tem 93.956 inscritos na Ordem gaúcha. Cada vez mais, elas são maioria: 48.601 a 45.355.

Políticos sérios, pensem nisto!

Em 26 estados dos EUA, os eleitores têm o poder de legislar diretamente. O registro foi feito pelo jornalista João Ozorio de Melo, correspondente do portal Consultor Jurídico, naquele país. Ele lembra que o sistema eleitoral norte-americano está mais longe da perfeição do que os da maioria dos regimes democráticos do mundo. Entre outros problemas, os EUA mantêm o sistema de colégio eleitoral para eleger o presidente, apesar de ele ser rejeitado por quase dois terços dos americanos.

Mas, 26 dos 50 estados do país contam com uma característica invejável: seus eleitores têm o poder de legislar. O sistema, conhecido como "democracia direta", não é novo, mas volta a agitar o ambiente eleitoral do país porque alguns parlamentares estaduais querem restringir, ou pelo menos dificultar, esse "privilégio popular de interferir" no processo legislativo em estados dominados por um partido - normalmente, o Republicano.

Dos estados engajados em democracia direta, em 18 os eleitores podem propor emendas à Constituição estadual. Em 21 podem iniciar projetos de lei estadual ou de lei municipal, bem como responder a questões de interesse estadual, municipal ou do condado. E em 23 eles exercem o direito ao voto de referendo.

'A maior do País'

Depois de seis anos e cinco meses de duração, o processo de recuperação judicial da Oi - anteriormente conhecida como Telemar - foi encerrado pela 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. A ação teve originalmente 55 mil credores habilitados e o valor total do passivo alcançou R$ 65 bilhões.

Ao fim do processo de recuperação, a dívida foi reduzida para R$ 18,3 bilhões. Foram liquidados os débitos com o BNDES (R$ 4,6 bilhões), além das dívidas não concursais contraídas para a manutenção da viabilidade operacional da companhia e sua preparação para o início de sua operação de banda larga em fibra ótica. A nova Oi será formada pelas empresas Oi Fibra, Oi Soluções, V.tal, Serede e Tahto.

Feriadões...

O ano de 2023 terá pelo menos sete datas com feriados prolongados no Brasil. Considerando ainda os prováveis pontos facultativos nacionais ou comemorações locais, o número poderá subir um pouco mais.

Em 2022, quase todos esses dias caíram ou no fim de semana ou quarta-feira, impedindo a esticadinha longe do trabalho.

Agora, férias

As férias são corretamente definidas pelos melhores dicionários como "dias consecutivos para descanso de trabalhadores e de estudantes, após um período anual ou semestral de atividade". Pois, leitores, informo-os que saio de férias nesta sexta-feira, convidando a todos para o nosso reencontro na sexta-feira 3 de fevereiro de 2023. Até lá. Saúde e paz para todos. (M.A.B.)


O verão de Sophie
O que se esconde sobre sorrisos forçados e gestos aparentemente comandados pela ternura? O que está oculto por manifestações de uma alegria traduzida em gestos bruscos? O que a busca de movimentos harmônicos procura tornar invisível? Certamente é aquilo que um choro convulsivo expressa, mas não é explicado pelo filme Aftersun, primeiro longa-metragem de Charlotte Wells. Mesmo que a causa de tal sofrimento não seja clarificada e devidamente estudada pela cineasta, seu filme tem méritos indiscutíveis, mas também é prejudicado por aquela tendência de certo cinema contemporâneo, que parece confundir a busca de inovações criativas com a procura de certa obscuridade permitida pela montagem formada de planos curtos, quase impossíveis de ser acompanhados. 
Porém não é sempre que tal artifício é utilizado, pois na maior parte do tempo há uma saudável preocupação de conferir a cada plano tempo necessário a leitura esclarecedora. O filme, sem dúvida, merece ser visto como mais uma tentativa de fazer do cinema uma forma de expor as raízes de comportamentos e as causas de um sofrimento quase sempre escondido pela ditadura das convenções. A realidade termina vencendo durante o tempo de projeção de um filme que seria certamente mais relevante se não abrisse espaço para virtuosismos que, aparentemente inovadores, apenas reforçam a tentação de parecer moderno.
Os sinais presentes no cenário e a utilização de vídeos domésticos indicam que a ação transcorre em décadas passadas, um tempo preservado não apenas na memória, já que está presente, também, nas imagens de outra época registradas. Eis um bom motivo para ser colocado em cena a interferência do passado no presente, que é apenas sugerido, pois são tênues e pouco esclarecedoras as situações do presente. 
A ênfase é dada ao passado, durante umas férias de verão da menina Sophie e seu pai. Aparentemente nada de maior acontece durante a ação, a não ser aqueles momentos, alguns talvez imaginários, que poderiam ser encenados de forma a fazer parte do aprendizado da menina. Ocorre, porém, que certos momentos são privilégios do espectador e não da filha. 
Aquilo que parece uma tentativa de suicídio - e a partitura que acompanha as imagens sugere e reforça tal interpretação -, talvez uma lembrança de uma cena de Nasce uma estrela, versão de George Cukor, e igualmente a cena do choro (em ambas, a figura do pai vista de costas), não fazem parte do conhecimento de Sophie. O pai que se recusa a voltar para a cidade em que nasceu é um personagem que merecia mais atenção, pois seu sofrimento, seu isolamento e sua solidão são sugeridos e nunca merecedores de um tratamento mais profundo.
Após o sol de verão, resta a frieza de um aeroporto. Ao encerrar seu filme com o plano do pai se afastando, Wells visualmente fala da solidão e também realça a ideia de que, na verdade, o filme procura abordar também o mesmo sentimento na menina. Antes, na definitiva cena do karaokê, o ritual de gentilezas paternas é substituído pela irritação e até mesmo agressão, evidente na pergunta sobre o interesse em aulas de canto. 
Com seus acertos e alguns virtuosismos desnecessários, Aftersun é um filme que coloca em cena uma série de situações que procuram substituir o desconforto de quem se sente só e abandonado. Eis um ensaio sobre a solidão sem que as causas de tal sentimento de abandono sejam abordadas. Mas certamente quem se interessa pelo estudo do comportamento humano terá o que ver no trabalho de Wells. 
Além disso, a presença da menina Frankie Corio é algo a ser mencionado, pois sua sensibilidade é um apoio muito importante para as intenções da diretora em recriar o cotidiano de pai e filha, com a menina aos poucos descobrindo segredos e sentindo em atitudes verdades que as encenações permitidas pelas convenções e orientadas pelo desejo de esconder feridas costumam ocultar. Isso sem esquecer o ator Paul Mescal, que, ao lado de uma menina estreante em cinema, participa de um dueto tão notável quanto incomum.
Helio Nascimento.

29 DE DEZEMBRO DE 2022
CAPA

Diversão em turma longe das telas

Empreendimentos que oferecem jogos de tabuleiro apostam no crescimento do interesse por essa forma de entretenimento

Enquanto o Centro Histórico de Porto Alegre vai se esvaziando com a chegada da noite, um prédio comercial na Rua Riachuelo começa a receber visitantes sedentos por uma noitada de diversão com os amigos. Mas ali não se esconde uma balada ou algo assim. O edifício abriga, em uma de suas salas, o HEX, um bar que oferece para os seus frequentadores uma infinidade de jogos de tabuleiro - os board games. Debruçados sobre as mesas, os habitués passam horas travando guerras, descobrindo assassinos, viajando para outros mundos e criando impérios. Tudo isso, é claro, regado com risadas, pizza e cerveja.

A procura pelos board games experimentou um crescimento sem precedentes durante a pandemia de covid-19. O isolamento social fez com que as pessoas procurassem novas maneiras de se entreter em suas casas e, com uma demanda maior, o mercado precisou abastecer este público, entregando mais opções. Dados do Board Game Geek, maior site especializado em jogos de tabuleiro do mundo, mostram que em 2019 foram lançados 4.677 jogos globalmente. E, nos anos seguintes, os títulos lançados passaram de 5 mil.

Deste montante, o Brasil recebeu apenas 720, de acordo com dados da Ludopedia, considerada a maior plataforma nacional de jogos de tabuleiro. Essa quantidade reduzida vai na contramão do desejo da maioria dos consumidores no país, com 74% deles afirmando que é importante o lançamento em português - por um melhor entendimento das regras e uma experiência mais aprofundada. O valor de produção dos jogos também subiu, com o preço do papel e do frete registrando picos. Por isso, as luderias, como são chamadas as casas de jogos de tabuleiro, vão se tornando uma opção interessante.

Em lugares como o HEX, o visitante paga uma entrada de R$ 10 e pode jogar quantos jogos quiser durante o tempo em que o espaço estiver aberto. Caso o jogador queira uma madrugada de imersão, é possível adentrar, uma vez por mês, o corujão, que tem uma taxa de R$ 50, com direito a pizza e café. Proprietário do estabelecimento, Arthur Vargas, 31 anos, viu que o mercado estava promissor durante a pandemia e, em outubro de 2021, decidiu apostar as suas fichas em seu próprio negócio: alugou uma sala e levou a sua coleção de cerca de 300 títulos para o público porto-alegrense, que estava carente desse tipo de entretenimento.

- Essa procura crescente pelo espaço físico acho que se deve ao pessoal querendo sair um pouco do digital e vir para o analógico, porque você consegue juntar as pessoas em uma mesa. O pessoal está valorizando mais isso, depois de ter que se afastar na pandemia - explica Vargas.

Gênero

Nascida como uma loja virtual, em 2019, a Távola Games cresceu no digital na época da pandemia e precisou de um espaço físico para coroar a sua expansão, providenciado por sua proprietária Márcia Galli, 41 anos, em abril deste ano. Agora, além da venda de jogos, é possível que o público se reúna para uma noite de diversão na Av. Protásio Alves, em Porto Alegre.

De acordo com o Censo 2020 da Ludopedia, o público feminino interessado em board games vem crescendo ano a ano, representando, no último levantamento, 39% dos jogadores brasileiros. Mesmo assim, a maioria ainda é formada por homens.

- Sempre achei que era um mundo muito masculino, mas não é - avalia Márcia. - Vejo que dentro do meio os jogadores me enxergam como um ser humano, não existe mais homem e mulher. Nunca senti nenhum tipo de olhar diferente ou me senti mal. Foi-se o tempo em que se dizia, espantado: "Nossa, olha ali uma mulher jogando". Todo mundo senta e joga junto, se diverte.

CARLOS REDEL