07 DE ABRIL DE 2020
+ ECONOMIA
O dia em que o mercado apostou contra Bolsonaro
Desde setembro de 2018, quando a bolsa disparou ao ver, no atentado contra Jair Bolsonaro, o passaporte para a vitória, o mercado financeiro era um sólido aliado do capitão reformado. Ontem, porém, apostou contra Bolsonaro. Investidores e especuladores acompanhavam a euforia de Nova York com sinais de que a Europa está perto do platô - período em que novos casos de covid-19 se estabilizam, com alta superior a 6%. Quando chegou a informação de que o presidente demitiria o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a bolsa perdeu quase 2 mil pontos. As perdas duraram até circular outra versão, de que os militares teriam convencido o presidente a não demitir Mandetta agora.
Formou-se um vale no gráfico da bolsa, que alguns operadores já apelidaram de Vale Mandetta.
- Os mercados lá fora continuaram indo bem, e houve a virada com essa notícia (a suposta demissão de Mandetta, depois não confirmada). O dólar voltou a ficar pressionado, a bolsa perdeu quase 2 mil pontos. Isso está relacionado ao Brasil, não ao mundo - afirmou Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV (Votorantim).
- Teve perdas, mas recuperou no final do dia porque parece que o Bolsonaro voltou atrás e não vai demiti-lo agora. São as tensões geradas desnecessariamente por nosso presidente - disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
O mercado financeiro certamente quer mais o fim do isolamento do que o presidente, mas sabe fazer contas. Não é por acaso que quem entende de números e tem domínio de raciocínios abstratos adota essa posição: há uma fórmula reconhecida mundo afora sobre a progressão geométrica do contágio. Se no Brasil o caos ainda não se instalou na rede de saúde, foi pelo sucesso relativo da estratégia. Teremos de pagar, como nação, o custo da prevenção. O presidente recebeu o recado, agora também do mercado financeiro: é ruim com quarentena, pode ser pior com irresponsabilidade. Hoje, Mandetta é o fiador da escassa credibilidade do país.
Semana após semana
À medida que as semanas avançam, vai ficando ainda mais sem sentido a projeção feita pelo Ministério da Economia de variação de 0,02% no PIB deste ano. As revisões se sucedem a cada período, como mostra o boletim Focus, para o qual o Banco Central (BC) recebe projeções de uma centena de analistas ao mercado financeiro. Em 15 dias, a estimativa literalmente virou de cabeça para baixo: de 1,48% positivos para 1,18% negativos. E ainda deve piorar antes de voltar a melhorar.
Com área de macroeconomia liderada pelo ex-diretor do BC Mario Mesquista, o Itaú Unibanco projeta que a queda pode chegar a 6,4% em 2020. A profundidade depende da duração do isolamento social e da recuperação da atividade no terceiro trimestre. No pior cenário do banco, seria com quarentena até 26 de maio e recuperação de 25% no terceiro trimestre. No melhor cenário, a projeção do banco é recuo de 0,5%. Mesquita já afirmara, antes, que este é momento de salvar vidas.
O pito do BC
Enquanto o crédito não chega onde é preciso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) proibiu o pagamento de bônus a gestores e a distribuição de resultados em bancos e demais instituições autorizadas pelo Banco Central (BC). O objetivo é "evitar o consumo de recursos importantes para a manutenção do crédito e para a eventual absorção de perdas futuras". Conforme o BC, bancos têm "níveis confortáveis de capital e de liquidez". Banqueiros admitem que o juro subiu, porque o risco de conceder crédito aumentou. A Febraban sustenta que as taxas continuam as mesmas, mas Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, que acompanha as taxas de mercado, confirma:
- As taxas subiram, sim, os bancos estão mais restritivos.
Depois da crise de 2008, tornou-se um escândalo o fato de bancos privados irrigados com dinheiro público terem distribuído grandes bônus a seus gestores.
a nossa parte #juntoscontraovírus
Serra quer produzir respiradores
Integrantes do Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul (TecnoUCS) criaram um plano que inclui a fabricação de equipamentos de proteção individual (EPIs), aumento da capacidade de respiradores e na criação de protótipo de ventilador pulmonar mecânico.
Conforme Enor Jose Tonolli Júnior, coordenador do TecnoUCS, o plano de contingência começou a ser elaborado no dia 24 de março, a partir da solicitação do Hospital Geral, ligado à Fundação Universitária de Caxias do Sul. Tonolli convidou empresários para o grupo. Uma das indústrias que se dispôs a converter uma linha de motores elétricos foi a Mercosul Motores, que comprou a s instalações da Voges.
Mais máscaras
O Fundo Centenário, criado por ex-alunos da Escola de Engenharia da UFRGS, está produzindo 20 mil unidades de máscaras de produção facial (faceshield).Para ampliar a fabricação do equipamento de proteção a profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à covid-19, o grupo está arrecadando doações. O objetivo inicial é produzir 126 mil protetores faciais. Pelos dados do Fundo, a demanda no Estado é de 300 mil unidades. Contribuições podem ser feitas no site fundocentenario.com.br.
Mais máquinas
Para apoiar pequenos comerciantes, a rede Vero, do Banrisul, está oferecendo maquininhas adicionais isentas de mensalidade a clientes já credenciados.
A intenção é atender a quem teve demanda de serviços de entrega intensificada nos últimos dias, como os de alimentação e saúde.
Presidente da Banrisul Cartões, Luiz Gonzaga Veras Mota avisa que está reavaliando mensalidades e propondo novas condições comerciais para atenuar os impactos do coronavírus.
Randon e Marcopolo paradas até o dia 13
Apesar de a prefeitura ter autorizado as indústrias de Caxias do Sul a retomar atividades com até 25% do pessoal, as duas maiores da região, Randon e Marcopolo, mantêm as férias coletivas previstas até 13 de abril. Ontem, chegou a circular a informação de que ambas teriam religado as máquinas, mas as duas desmentiram.
- Já tínhamos programado férias de 20 dias, por organização interna decidimos manter - disse Daniel Randon à coluna.
Ambas somam cerca de 18 mil funcionários no país. Têm atividades concentradas em Caxias, mas várias unidades fora do Estado. Conforme o empresário, a decisão é voltar aos poucos, a partir do final das férias coletivas, na proporção que estiver autorizada até o dia 13.
MARTA SFREDO
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