Notícia da edição impressa de 06/12/2019.
Romance feminino inovador
Publicado originalmente em 1868, apresenta fortes traços autobiográficos e caráter inovador
Mulherzinhas (Editora Zahar, 600 páginas, R$ 44,90), celebrado romance da escritora norte-americana Louisa May Alcott, publicado originalmente em 1868, apresenta fortes traços autobiográficos e caráter inovador. Mulherzinhas (Editora Zahar, 600 páginas, R$ 44,90), celebrado romance da escritora norte-americana Louisa May Alcott, publicado originalmente em 1868, apresenta fortes traços autobiográficos e caráter inovador.
Louisa nasceu em 1832, na Pensilvânia, no seio de uma família esclarecida da Nova Inglaterra e, desde a infância, viu-se cercada da vanguarda do pensamento norte-americano de seu tempo. Em sua casa filósofos como Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau eram recebidos por seus pais, intelectuais e defensores de teses progressistas no campo das artes, da filosofia e da educação. Sua mãe era abolicionista e sufragista.
Mulherzinhas se passa em dezembro de 1861, em Massachusetts. Meg, Jo, Beth e Amy March enfrentam seu primeiro Natal sem o pai, que serve na Guerra Civil. É o marco inicial da jornada de formação das quatro irmãs e a narrativa as acompanha nesse processo até a vida adulta. Entre alegrias e aflições, desafios e conquistas, perdas e aprendizados, os leitores crescem com elas.
As irmãs de 13, 14, 16 e 17 anos têm uma característica própria e bem peculiar, o que as torna totalmente diferentes umas das outras. Uma é vaidosa e dada ao luxo; outra gostaria de ser menino e devora livros; a terceira é um anjinho bondoso e caridoso e gosta de música; e a quarta é a mais nova e a mais egoísta, e tem inclinação para o desenho e a pintura.
Publicado originalmente em dois volumes, o romance tem sensibilidade, humor e pulso, e mostra que um universo familiar e cotidiano pode ser o celeiro para mudanças importantes, ao defender princípios como a virtude acima da riqueza, a equidade entre os gêneros e a realização individual sem prejuízo do bem coletivo.
Esta edição encadernada, comentada e com mais de 120 ilustrações originais de Frank T. Merril, traduzida e apresentada pelo professor-doutor Bruno Gambarotto, do FFLCH-USP, também autor das notas de rodapé, segue o texto integral das edições de 1868 e 1869 e proporciona ao leitor brasileiro a oportunidade de entrar em contato com o clássico que, de imediato, foi um sucesso popular, por sua temática e pela forma inovadora.
O Woody Allen mais recente
Eu quase escrevi acima "O último Woody Allen", mas me corrigi a tempo. Aos 84 anos, ele segue fazendo um filme por ano e parece estar longe do último. Em 2020, pretende lançar Rifkins Festival, rodado em San Sebastian, na Espanha, com elenco quase todo europeu, incluindo Louis Garrel e Christoph Waltz.
Em meio a tempestades e trovões na mídia sobre assédio dentro e fora de casa e a um milionário imbróglio jurídico envolvendo o diretor e a poderosíssima Amazon, o diretor nova-iorquino mais nova-iorquino de todos, lança fora dos Estados Unidos seu filme Um dia de chuva em Nova York, que é mais uma de suas declarações de amor a Manhattan.
Prefiro aqui não me deter em problemas de Woody extracampo. Me interessa mais seu trabalho, seus filmes, seus escritos e seus solos de clarinete. Se a gente for examinar vida pessoal, partidária e intimidades de certos artistas, uns muito vivos por aí, muitas vezes a gente perde o gosto pelas obras, que, no fundo, é o que mais deve interessar.
Uns disseram que Um dia de chuva em Nova York é machista e criticaram o enredo, no qual uma garota rica, jornalista e caipira vai conhecer Nova York com o namorado nova-iorquino e sofisticado, que gosta de jazz, livros e jogos de azar. Será que os homens mais velhos seduzem a garota ou é ela que os comanda? Como toda boa obra de arte, o filme deixa no ar questões em aberto e apresenta visões livres sobre comportamento humano.
Numa das cenas, um roteirista de cinema dá um flagra na mulher que o traía com um de seus amigos e aí ouve dela, numa rápida e acalorada discussão de calçada, que ele a havia traído várias vezes e que o jogo havia empatado.
Um dia de chuva em Nova York não é o melhor filme do diretor de Manhattan, Annie Hall, Interiores e outras obras-primas, mas para quem gosta de jazz, Central Park, rio Hudson, Museu Metropolitan, Nova Iorque, humor e personagens em meio a humanas confusões mentais e de relacionamentos, a diversão é garantida. Há quem reclame de falta de novidade, de comida requentada e de repetidas histórias de meninas fascinadas com homens mais velhos.
O crítico Inácio Araújo, da Folha de S. Paulo, escreveu que o elemento realmente original da película seria a figura da detestada mãe, que realmente, no final do segundo tempo, amarra todas as histórias e reflete o ceticismo de Woody com os humanos. Concordo parcialmente com o crítico. A personagem da mãe é verdadeiramente impactante, mas acho que o filme tem outras originalidades, como o fato de os dois personagens principais, mesmo jovens, estarem longe das características dos millennials, os nascidos a partir de 1990.
Woody Allen, que diz ser 100% favorável ao combate do assédio e à igualdade de gênero, quase sempre apresenta uma visão romântica e irrealista sobre o mundo e acredita que a gente deve acreditar nos relacionamentos humanos, por mais dolorosos e complicados que possam ser.
Jaime Cimenti
Jaime Cimenti
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