Jaime Cimenti
Princesa, fauno, fantasia e realidade
Quando estreou nos cinemas em 2006, o filme Labirinto do Fauno, do consagrado escritor, diretor e roteirista mexicano Guillermo del Toro, encantou público e crítica com sua história mesclando sonho e realidade, trazendo para a fantasia o cruel universo do cotidiano da Espanha fascista de Franco. Treze anos depois, a produção segue conquistando fãs, mostrando que histórias são atemporais. O filme recebeu três Oscar e vários outros prêmios relevantes.
O labirinto do fauno (Intrínseca, 320 páginas, tradução de Bruna Beber) é o romance do qual se originou o filme - e tem autoria de Guillermo del Toro e da escritora e ilustradora alemã Cornelia Funke, best-seller no mundo inteiro com seus contos de fada modernos. As ilustrações da obra são Allen Williams.
A narrativa traz a jornada de uma menina de 13 anos pelo Reino dos Homens e pelo Reino Subterrâneo. No ano de 1944, era uma vez uma princesa perdida havia muito, muito tempo, numa floresta repleta de encantos e mistérios, e um Fauno disposto a ajudá-la a voltar para a casa.
Diante da brutalidade de seu cotidiano na Espanha fascista, a menina Ofélia, cujos melhores amigos são os livros, é conduzida a um universo mágico, que extrapola os limites entre o sonho e a realidade, beleza e horror.
Ofélia e a mãe grávida do Capitão, seu segundo marido e padrasto de Ofélia, cruzam uma estrada de terra que corta uma floresta longínqua ao Norte da Espanha, para chegar num lar estranho, um moinho de vento tomado pela escuridão e pela crueldade do Capitão Vidal e seus soldados, dispostos a tudo para exterminar os rebeldes que se escondem na mata.
O que não sabem é que a floresta abriga também criaturas mágicas e poderosas, habitantes de um mundo subterrâneo repleto de encantos e horrores, súditos em busca de sua princesa há muito tempo perdida, uma princesa, que, segundo os sussurros das árvores, finalmente retornou ao lar.
Intercalada com ilustrações e contos de fadas inéditos, baseados em elementos-chave de O labirinto do fauno, a obra é uma impactante ode ao poder das histórias, seja em imagens ou palavras, capazes de transformar a realidade a nossa volta.
O que é arte?
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? São perguntas que estão aí desde sempre desafiando pensadores, cientistas, religiosos e os meros mortais. Há quem pense que nunca teremos respostas definitivas e que até é melhor assim: a vida com alguns mistérios insondáveis e com uma pergunta atrás da outra.
O que é arte? Essa é outra pergunta gigante, de tamanho oceânico e que há milênios vem obtendo respostas variadas, em diferentes cantos do planeta. Difícil definir o que é arte, na medida em que os conceitos vão mudando de época para época, de país para país e de pessoa para pessoa.
De mais a mais, a criatividade humana, as forças da natureza, os materiais e métodos utilizados pelos artistas e outros componentes, inclusive científicos, sempre podem trazer inovações e apresentar algo diferente. Pode surgir algo novo sob a luz do sol, contrariando o que diz o sábio livro bíblico Eclesiastes. Arte e artistas verdadeiros são os que trazem mudanças. "Mudei o tango porque um artista que não muda é um artista morto", disse Astor Piazzolla.
O que é arte?
(Editora Nova Fronteira, 256 páginas), polêmico ensaio do genial escritor russo Leon Tolstói (1828-1910), publicado, originalmente, em 1898, que, agora, volta às livrarias com belas ilustrações, tradução de Bete Torii e ótima introdução do escritor e tradutor Marcelo Backes, doutor em Germanística e Romanística pela Universidade de Freibeurg, Alemanha, traz fatos e ideias interessantes para quem queira compreender os fenômenos artísticos.
Tolstói publicou Guerra e Paz entre 1857 e 1859, o romance considerado mais perfeito e tradicional de todos os tempos, e Ana Karenina em 1877. Ao escrever O que é arte?, Tolstói estava mergulhado no crepúsculo da vida e mergulhado na crise religiosa que o levou a viver isoladamente em sua propriedade em Iasnáia Poliana. O ensaio tomou-lhe 15 anos de trabalho.
O autor apresenta vários conceitos de arte, ao longo de autores e tempos, desde a Grécia até os teóricos alemães, ingleses e franceses, seus contemporâneos ou pouco anteriores.
Tolstói queixa-se das várias definições clássicas de arte, que acentuam o prazer vinculado à beleza em detrimento de uma missão fundamentada do bem. Tolstói acha que a arte não deve ser mero prazer, e sim um meio para realizar objetivos maiores da humanidade.
O autor apresenta suas próprias definições: "Arte é a atividade humana que consiste em um homem conscientemente transmitir a outros, por sinais exteriores, os sentimentos que ele vivenciou, e esses outros seres contagiados por esses sentimentos, experimentando-os também".
Escreveu Marcelo Backes sobre o livro: "Se, portanto, no final da vida, o moralista venceu o artista, o que salva Tolstói é, além do caráter curioso e, às vezes, extravagante de alguns de seus pontos de vista, a organicidade de sua obra, ou seja, o fato de o artista já ser moralista e de o moralista, em que pesem as vociferações contra sua própria arte, continuar sendo um pouco artista. E o que é arte? É uma obra importante para conhecer esse artista".
Nenhum comentário:
Postar um comentário