ELIO
GASPARI
Cabral quis ser chique, foi
brega
Novíssimos
ricos do Brasil emergente constrangem a patuleia com sua promíscua vulgaridade
VERGONHA,
ESSA é a sensação que resulta dos vídeos das villegiaturas parisienses do
governador Sérgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretários e pelo
empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.
Uma
cena pode ser vista com o olhar do casal que está numa mesa ao fundo do salão
do restaurante Louis 15, no Hotel de France, em Mônaco. ("Este é o melhor
Alain Ducasse do mundo", diz Cabral, referindo-se ao chef.)
Ela é
uma senhora loura e veste um pretinho básico. A certa altura, ouve uma cantoria
na mesa redonda onde há oito pessoas. Admita-se que ela entende português.
O
grupo comemora o aniversário de Adriana Ancelmo, a mulher de Cabral, e festeja
o próximo casamento de Fernando Cavendish.
Até aí,
tudo bem, é vulgar puxar celulares no Louis 15 e chega a ser brega filmar a
cena, mas, afinal, é noite de festa. A certa altura, marcado o dia do
casamento, Cabral decide dirigir a cena: "Então, dá um beijo na boca, vocês
dois."
Cavendish
vai para seu momento Clark Gable, e o governador diz à mulher do empreiteiro:
"Abre essa boca aí". As cenas foram filmadas por dois celulares. Um
deles era o do dono da Delta.
Na
mesma viagem, Cavendish, o empresário George Sadala, seu vizinho de avenida
Vieira Souto e concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretários
de Saúde e de Governo do Rio, (Sérgio Côrtes e Wilson Carlos), estão no
restaurante do Hotel Ritz de Paris.
Até aí,
tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões,
estão embriagados. Fora do expediente, nada demais. Inexplicáveis, nessa cena,
são os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem
tiver uma explicação para o adereço.
O álbum
fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da rua,
mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como troféus os
calçados de Christian Louboutin. Nos pés de Victoria Beckham (38 anos) ou de
Lady Gaga (26 anos), eles têm a sua graça, mas tornaram-se adereços que, por
manjados, tangenciam a vulgaridade.
Não é
a toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaret
Crazy Horse.
As
cenas constrangem quem as vê pela breguice. Até hoje, o ex-presidente José Sarney
é obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se
locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (Não foi ele quem mandou alugar o
modelo.)
A
doutora Dilma explicou que não foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso
das vileggiaturas de Cabral, a breguice não partiu dos organizadores da viagem,
mas da conduta dele, de seus secretários e do amigo empreiteiro.
Esse
tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte
do primarismo dos novíssimos ricos do Brasil emergente.
Noutra
ponta dessa classe está o senador Demóstenes Torres, comprando cinco garrafas
de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: "Mete o pau aí. Para muitos é o
melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartão do nosso amigo aí,
depois a gente vê". O amigo do cartão era Carlinhos Cachoeira que, por sua
vez também era amigo da empreiteira Delta, de Cavendish.
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