
"Alternativa" ao IOF avança, dólar mira EUA e China
Apresentada ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a "alternativa" ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) avançou, apesar das críticas. Saiu sem vetos da reunião. E não por esse motivo, o dólar inverteu a trajetória de baixa dos três dias anteriores.
Conforme analistas, o que foi decisivo para que a moeda americana fechasse com variação de 0,14% para cima, em R$ 5,57, foi a falta de avanço nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Era a expectativa de entendimento sobre tarifas, com alguma normalização do comércio internacional, que vinha levando a cotação para os patamares mais baixos desde outubro de 2024.
Ao defender as medidas que devem compor o pacote fiscal, Haddad afirmou que atingem somente o "andar de cima":
- Não mexe com o dia a dia da população. Concordei porque são medidas justas do ponto de vista tributário, é uma agenda que interessa à Fazenda.
Embora o ministro tenha voltado a afirmar que o pacote vai garantir o cumprimento das metas de déficit zero neste ano e de superávit primário de 0,25% do PIB em 2026, especialistas em contas públicas avaliam que não há solução estrutural para o rombo.
Segundo Haddad, ainda haverá reunião entre Congresso e equipe econômica para discutir o gasto primário (todas as despesas, à exceção da dívida). De mais estrutural, restou a redução de benefícios fiscais:
- Foi acertada uma redução de 10% do gasto tributário infraconstitucional. _
Tributação das aplicações financeiras (títulos públicos, fundos) passa da tabela progressiva de 15% a 22,5% para alíquota única de 17,5%.
Novas emissões de LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures incentivadas e outros isentos terão alíquota de 5% de IR.
Aumento de IR de Juros sobre Capital Próprio (pago a acionistas), de 15% para 20%.
Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) de fintechs, operadoras de balcão e bolsa e outros sobe de 9% a 15%.
Corte de 10% do gasto tributário.
Inflação alivia pressão no juro
A nova desaceleração acima do esperado da inflação reforça a expectativa de viés de parada no juro básico. Não que o cenário esteja muito claro, dadas as idas e vindas do governo e do Congresso nas medidas para equilibrar as contas. Mas ao menos o comportamento do IPCA em maio deixou de ser fator de pressão para uma nova alta.
A elevação do IPCA foi de 0,26%, para expectativa média ao redor de 0,35%. E o indicador mostra menor avanço em preços nos principais grupos monitorados pelo Banco Central. Conforme Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, é "um fator positivo para a próxima reunião do Copom", nos dias 17 e 18.
Sócio e economista chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal avalia que "dá esperança de que talvez o pior do processo inflacionário tenha ficado para trás". E afirma que o resultado "reforça a percepção de que o Copom não vai elevar os juros na sua próxima reunião". _
Voo de baixo custo sem prazo de retomada
Cancelados pela enchente de 2024, os voos de baixo custo entre Porto Alegre e Buenos Aires da chilena JetSmart ainda não têm prazo para retomada. A coluna fez contato com a empresa para saber das intenções de, enfim, estrear, mas recebeu uma resposta um tanto desanimadora.
A JetSmart nem mencionou a possibilidade de retomar, só afirmou avaliar "constantemente a malha aérea para garantir crescimento sustentável". Afirmou que tem um "processo de revisão contínua" das rotas, no qual "a reativação (...) é feita, em alguns casos, sazonalmente e, em outros, com base em demandas específicas do mercado".
Na estreia no RS, a Jet Smart pretendia fazer três voos por semana, às quartas, sextas e domingos. No Rio de Janeiro, a JetSmart tem, há cerca de um mês, voos até Mendoza. Uma rota entre Rio e Córdoba, também na Argentina, deve começar a operar nos próximos meses. _
Paralelos entre vício em cigarro e redes sociais
Na busca de soluções para o problema do tabagismo, não faltaram queixas sobre a "perda da liberdade" dos fumantes, mas houve restrição na publicidade e na atividade com foco no benefício público. Conforme uma pesquisadora, esse é o caminho para enfrentar, também, os problemas criados pelas redes sociais.
- Começou com uma abordagem individual, era preciso ter "força de vontade" para parar de fumar. Mas era um problema coletivo que precisava de regulação, e se passou a proibir em determinados lugares porque é um comportamento tóxico e contagioso - lembra Marie Santini, fundadora e diretora do Netlab, o Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Com as redes sociais, afirma a pesquisadora, acontece o mesmo: um usuário contagia o outro e toda a sociedade é prejudicada.
- Havia todo um fetiche do cigarro, que não teria sido barrado sem regulação. Hoje existe o fetiche da rede social, as pessoas acham que não podem viver sem, existe um vício, a pessoa acorda e vai para as redes, dorme e faz isso, é muito parecido com o problema do cigarro - diagnostica Santini.
Conforme a pesquisadora, até as estratégias das indústrias de cigarro são semelhantes às das big techs para evitar a regulação:
- É o lobby, a deslegitimação dos pesquisadores, a geração de falsos dissensos, enfim, são todas estratégias documentadas sobre cigarro que estamos vivendo de novo com a desinformação nas redes sociais.
A pesquisadora observa que as redes sociais têm pontos positivos, de aproximar pessoas, agilizar contatos, oferecer conveniências:
- Isso não significa que tudo será permitido. _
Uma das diferenças, ressalva Marie Santini, é a concentração, tanto em número de empresas interessadas em que nada mude e proporção entre fumantes e usuários de redes sociais. O que era minoria virou maioria.
"A gente pode aprender com a indústria do cigarro. Enfrentamos esse desafio que fazia milhares de pessoas morrerem de câncer de pulmão com um trabalho de anos, mostrando como era ruim, sempre baseado em ciência e em dados. Não foi retirada a liberdade de fumar das pessoas, mas não podem contagiar as outras com esse comportamento tóxico", projeta.
E se as redes sociais são um problema, a desinformação é ainda pior, compara Santini:
"É o equivalente ao cigarro falsificado. Vende produto de baixa qualidade, fazendo contrabandos e outros crimes. A desinformação está virando uma indústria em que estão envolvidas organizações criminosas, com ligações políticas. Só que elege candidatos, legitima pessoas."
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