PMEs contábeis no RS iniciam caminhada rumo à sustentabilidade
Para Ramos, esta é uma oportunidade para ampliar portfólio de serviços
BRENO BAUER/JC
Osni Machado
Pequenas e médias empresas (PMEs) contábeis devem começar a se preparar sobre os aspectos que envolvem a sustentabilidade nas organizações, investindo na capacitação de suas equipes para que possam orientar seus clientes com segurança e propriedade. De acordo com Jefferson Ramos, sócio de auditoria da HLB Brasil, a criação do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS) pelo Conselho Federal de Contabilidade, em 2022, foi um passo importante e agora as PMEs contábeis têm se adaptar a um novo momento.
Ramos lembra que o comitê já emitiu os pronunciamentos CBPS S1 e S2, que estão alinhados às normas internacionais International Financial Reporting Standards (IFRS) S1 e S2, emitidas pelo Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB). Ele explica que essas normas tratam da divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade (S1) e de riscos e oportunidades climáticas (S2).
O especialista destaca que, embora, em um primeiro momento essas divulgações sejam obrigatórias apenas para companhias listadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), elas sinalizam uma tendência regulatória que deve se expandir para outros segmentos. Em entrevista ao JC Contabilidade, o especialista fala um pouco sobre a sua percepção em relação às PMEs contábeis no Rio Grande do Sul.
JC Contabilidade - Como o senhor vê a realidade das PMEs contábeis no Estado?
Jefferson Ramos - No contexto do Rio Grande do Sul, percebo que o tema da sustentabilidade tem ganhado espaço, especialmente em eventos técnicos promovidos por entidades da classe contábil. No entanto, ainda há um certo distanciamento entre o discurso e a prática nas PMEs contábeis. É fundamental que as PMEs contábeis comecem a se preparar, investindo na capacitação de suas equipes para que possam orientar seus clientes com segurança e propriedade.
Contab - Na sua opinião, qual é o grau de abrangência das PMEs contábeis para atender as necessidades do mercado gaúcho e brasileiro sobre este assunto?
Ramos - As PMEs contábeis têm um enorme potencial de atuação nesse campo, mas ainda estão em fase inicial de preparação. A Norma Internacional de Garantia de Sustentabilidade (ISSA 5000), emitida pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) trata da asseguração das informações de sustentabilidade — ou seja, da verificação independente da confiabilidade desses dados, a qual deve ser aplicada por contadores.
Contab - Essa norma representa uma oportunidade para os pequenos escritórios?
Ramos - Sim. Essas normas podem ser uma oportunidade concreta para os pequenos escritórios de Contabilidade ampliarem o seu portfólio de serviços. Com a crescente exigência por parte de investidores, instituições financeiras e cadeias de suprimentos por informações ESG verificadas, empresas de todos os portes — inclusive as pequenas — precisarão contar com profissionais capacitados para validar esses dados. Escritórios que se anteciparem a essa demanda poderão se posicionar como parceiros estratégicos na jornada sustentável de seus clientes.
Contab - Qual é a sua análise sobre a iniciativa de uma pesquisa global da Federação Internacional de Contadores (IFAC) em parceria com o Edinburgh Group para buscar entender como as PMEs contábeis lidam com informações de sustentabilidade?
Ramos - A iniciativa da IFAC é extremamente relevante e oportuna. Em um momento em que a sustentabilidade está se tornando um eixo central das decisões empresariais e regulatórias, é fundamental que os órgãos normativos compreendam a realidade das empresas - especialmente das pequenas e médias - antes de propor novas exigências. A pesquisa busca justamente isso: mapear como as PMEs contábeis estão lidando com informações de sustentabilidade, tanto na geração quanto no uso desses dados. Esse tipo de levantamento é essencial para que as normas internacionais sejam mais aderentes à realidade local. Com dados concretos, é possível elaborar diretrizes mais práticas, que considerem as limitações operacionais e estruturais das PMEs. Isso contribui para uma implementação mais eficaz e menos onerosa, além de fortalecer o papel estratégico da contabilidade nesse novo cenário.
Contab - A pesquisa abre espaço para criação de políticas e caminhos para atuação das PMEs contábeis?
Ramos - Sem dúvida. Essa iniciativa internacional pode servir como base para o desenvolvimento de políticas públicas e diretrizes nacionais voltadas às PMEs contábeis. A sustentabilidade é um tema transversal, que impacta desde a governança até a operação das empresas. E o contador, por estar inserido no dia a dia do negócio, tem todas as condições de atuar como um assessor estratégico nesse processo. A atuação pode começar de forma simples, com a organização de dados, identificação de indicadores ESG e apoio na estruturação de relatórios. Com o tempo, e com a evolução normativa, esse trabalho pode se expandir para serviços de asseguração e consultoria especializada. O importante é que os escritórios comecem a se preparar desde já, acompanhando os normativos do CBPS e buscando capacitação contínua.
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Contab - As PMEs contábeis podem ampliar suas atuações na área da sustentabilidade das organizações?
Ramos - Sim, essa é uma leitura realista da situação atual. A rotina de pequenos e médios escritórios é fortemente marcada pelo cumprimento de obrigações fiscais e acessórias, que são complexas e consomem muito tempo. Isso acaba limitando a capacidade de atuação em áreas mais estratégicas, como a sustentabilidade. Além disso, a demanda por esse tipo de serviço ainda é baixa entre os clientes, o que dificulta a priorização do tema. No entanto, isso não significa que os escritórios não possam contribuir. Pelo contrário: a Contabilidade já tem um papel central na geração de dados confiáveis e na promoção da transparência — elementos fundamentais para qualquer relatório de sustentabilidade. Esse papel é ainda mais evidente no atendimento a entidades do terceiro setor, que precisam prestar contas com clareza e responsabilidade. O desafio é transformar essa base técnica em uma atuação mais consultiva e proativa, o que exige planejamento e capacitação.
Contab - De que forma as PMEs contábeis podem ampliar as suas participações sobre a sustentabilidade nas empresas?
Ramos - Existem caminhos viáveis e acessíveis para as PMEs contábeis ampliarem sua atuação nesse mercado. E, ao contrário do que muitos pensam, isso não exige grandes investimentos financeiros. O que se exige, de fato, é informação, capacitação e visão estratégica. O primeiro passo é acompanhar de perto os normativos do CBPS e entender como as normas internacionais, como a ISSA 5000, podem impactar seus clientes no futuro. Isso não significa sair oferecendo asseguração de sustentabilidade imediatamente, mas sim começar a se preparar, estudar o tema e identificar oportunidades dentro da própria base de clientes.
Contab - As PMEs têm que fazer investimentos na qualificação profissional?
Ramos - O aprimoramento técnico da equipe é essencial, mas pode ser feito com recursos acessíveis - como cursos online, eventos da classe e grupos de estudo. O objetivo é que o escritório consiga, aos poucos, atuar de forma mais consultiva, ajudando o cliente a organizar informações, entender indicadores ESG e se preparar para futuras exigências. A Contabilidade já tem uma base sólida para atuar nesse mercado. O que falta é adaptar o olhar e a abordagem. Quem começar agora, mesmo que devagar, estará muito mais preparado quando a demanda ESG se tornar uma realidade para todos.
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