segunda-feira, 30 de junho de 2025


30 de Junho de 2025
APERTO NO BOLSO - Anderson Aires

Dívidas em atraso em alta no Estado

Aumento no custo de vida, encarecimento do crédito e endurecimento no acesso a financiamentos têm peso nesse processo, segundo especialistas. Percentuais da inadimplência em financeiras e em contas básicas, como luz, telefone e internet, chamam atenção.

Com inflação persistente e juro básico no topo, a inadimplência segue avançando no Rio Grande do Sul. Com 42,10% da população gaúcha nessa situação em maio, o recrudescimento das dívidas em atraso em financeiras e contas básicas, com destaque para telefone e internet, chama atenção. Aumento no custo de vida, encarecimento do crédito e endurecimento no acesso a financiamentos estão entre os pontos que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

Em maio, as dívidas em atraso com utilities (contas como energia elétrica, água e gás) e telecom (que incluem telefonia e internet) ocupavam 17,15% dos débitos pendentes de inadimplentes no Estado, segundo dados da Serasa.

Em maio do ano passado, esse percentual era menor, 16,15%. O repique ocorre após queda em 2024 (veja na tabela). No caso das financeiras, o salto é ainda maior, passando de 17,02%, em maio de 2024, para 18,53% em maio deste ano.

Thiago Ramos, especialista em finanças pessoais da Serasa, afirma que o avanço do aperto financeiro acaba se espraiando para as contas básicas. Em pesquisas realizadas pela entidade, o desemprego e a diminuição de renda estão entre os principais pontos que forçam o cidadão a escolher qual conta vai pagar.

Como alguns desses débitos contam com espaço de tempo maior até o corte, os consumidores vão jogando com o atraso, segundo Ramos:

- Às vezes, o consumidor não tem a conta cortada no primeiro mês de atraso. Varia de Estado para Estado, de empresa para empresa. Muitos conseguem atrasar duas, pagam a terceira, dessa forma ele tenta equilibrar as contas de maneira não saudável, mas é o recurso que fica disponível para alguns consumidores.

Olhando apenas as utilities, o percentual de inadimplência ficou praticamente estável, indo de 10,05% para 9,51% nesse período de um ano. Já o ramo de telecom saltou de 6,10% para 7,63% no período. Ramos afirma que esse aumento no grupo que pega telefonia e internet ocorre em razão da maior oferta de prestadores de serviço:

- Se ele se negativa com uma, consegue ainda em pouco tempo contratar o serviço de outra. E, como é difícil pagar as contas em dia, isso também leva a um aumento da inadimplência nas telecoms.

Olhando outros segmentos principais na inadimplência, bancos e cartões de crédito (28,33%), serviços (15,43%) e varejo (9,27%) têm destaque. No entanto, apresentaram leve queda ante o percentual verificado no ano passado.

Já o índice geral de inadimplência atingiu 42,10% em maio, reforçando tendência de alta.

Wendy Haddad Carraro, educadora financeira e professora do curso de Ciências Contábeis e de Economia da UFRGS, afirma que o avanço da inadimplência ocorre na esteira de inflação ainda alta, que diminui o poder de compra, e do juro, que pressiona ainda mais as dívidas dos cidadãos. Com isso, a dificuldade em honrar as contas em dia acaba avançando sobre itens e serviços de primeira necessidade. 

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