segunda-feira, 30 de junho de 2025


30 de Junho de 2025
OPINIÃO DA RBS

O desafio do fluxo migratório

Um dos desafios do Rio Grande do Sul é estancar o êxodo de gaúchos e, de outro lado, ser atrativo para que brasileiros de outras regiões venham viver no Estado. O IBGE divulgou na sexta-feira dados do Censo Demográfico de 2022 com informações sobre migrações e detectou que, outra vez, o número de rio-grandenses que emigram internamente para outros locais do país foi bem superior em relação ao dos que vieram para aqui se estabelecer.

Entre 2017 e 2022, conforme o instituto, 212,5 mil pessoas naturais do RS deixaram o Estado, enquanto 134,6 mil nascidos nas demais unidades da federação fizeram o caminho contrário. O saldo migratório ficou negativo em 77,8 mil, o sexto maior do Brasil. Destoa bastante dos vizinhos do Sul. Santa Catarina foi o Estado que mais ganhou população com a chegada de emigrantes, uma diferença positiva de 354 mil. O Paraná foi o quinto, com 85 mil.

Perspectivas pessoais em termos de oportunidades, emprego e qualidade de vida estão entre os fatores que mais influenciam os deslocamentos internos. Santa Catarina dispõe de clima ameno no litoral, região que mais recebe gaúchos, e sobressai pelo avanço acelerado do PIB e o menor desemprego do país. A cada quatro brasileiros que fixaram residência em Santa Catarina no período analisado, um era natural do RS. O Paraná foi o segundo principal destino.

Décadas atrás, muitos gaúchos de famílias proprietárias de pequenas áreas rurais com um número significativo de filhos decidiram desbravar o Brasil em busca de terras. O resultado foi que, ao longo do tempo, essa taxa de migração tornou-se desfavorável ao Estado. Em 2022, o RS tinha um total de 457 mil não naturais morando aqui, enquanto 1,2 milhão de gaúchos viviam em outras partes do país.

A evasão mais recente foi, mesmo que em proporção insuficiente, contrabalanceada pela chegada de pessoas de outras nações. Entre 2010 e 2022, pulou de 34,2 mil para 72,2 mil o número de estrangeiros ou brasileiros naturalizados morando no Estado. Esse é um movimento que deve ser estimulado, como forma de compensar a escassez de mão de obra e a queda da natalidade.

O RS ainda padece de uma crise fiscal crônica, à espera de uma solução definitiva, embora já tenha sido pior. Foi uma situação que diminuiu a capacidade de investimento, prejudicou a construção de uma infraestrutura moderna, minou o ambiente de negócios e afetou a autoestima dos gaúchos. As mudanças climáticas se tornaram uma adversidade adicional.

Mas aos gaúchos não resta outro caminho a não ser o da perseverança para voltar aos trilhos do desenvolvimento. É preciso persistir na responsabilidade com as contas públicas, essencial para recuperar indicadores sociais do passado, e trabalhar pela facilitação ao empreendedorismo. A reação ao revés climático, por outro lado, abre a chance de o Estado ser referência em sustentabilidade e preparo para enfrentar e resistir a intempéries. 

O que os números do IBGE reforçam é a importância da construção de convergências para reaver o dinamismo econômico e a qualidade de vida. A reversão do fluxo migratório depende de o RS voltar a ser reconhecido como um lugar de oportunidades, de horizontes profissionais promissores e de bem-estar. 

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