segunda-feira, 23 de junho de 2025



23 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Respostas capitais

Dione e Jaque Vasconcellos - Empreendedoras da marca Lola

"Queríamos que a Lola, empresa que amamos e construímos, ganhasse o mundo"

Duas irmãs gaúchas fundaram uma das maiores empresas brasileiras de cuidados capilares, a Lola. Nesta entrevista, relatam como foi a criação do negócio, conhecido por vender produtos com nomes inusitados, como Morte Súbita, e traçam o futuro da marca, que vai se unir à Skala para alcançar faturamento de cerca de R$ 2 bilhões sob controle do fundo Advent.

O que podem contar sobre a fusão?

Dione: a Lola se tornou maior do que nós. Somos uma empresa familiar: eu, a Jaqueline e o Milton (Taguchi, marido de Jaqueline), três sócios, e o Pedro (Taguchi), filho da Jaque, nosso diretor. Sou formada em História, a Jaque é jornalista, e o Milton, arquiteto. Queríamos que a empresa que amamos e construímos ganhasse o mundo e se tornasse gigante. Quando começamos, as que faziam sucesso no Brasil eram as gringas. 

Desde então, empresas brasileiras na área capilar estão se tornando importantes. Temos muito orgulho de dar esse passo. A decisão foi trazer sócios para fortalecer uma empresa que já é incrível. Tivemos o apoio de uma butique de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições), e nos disseram que foi o maior negócio da indústria capilar brasileira.

Jaqueline: a fusão com a Skala vai nos transformar no grupo com maior participação na indústria brasileira, só atrás das multinacionais.

Como uma historiadora e uma jornalista foram parar na indústria de cosméticos?

Dione: tinha uma empresa de acessórios de moda, com 50 lojas em Portugal, e perdi tudo. Não era organizada na parte financeira. Chamei minha irmã e meu cunhado para serem sócios, mas já era tarde. O cosmético surge por não ter plano B. Cheguei ao Rio com uma filha de 10 anos. Comecei por acaso, na cozinha.

Na cozinha?

Dione: minha filha e meu enteado faziam sabonetes e vendiam na escola. Tivemos a oportunidade de montar um quiosque no BarraShopping. No segundo Natal, o quiosque teve um faturamento absurdo. Peguei o dinheiro, descobri uma indústria falida à venda e fui lá comprar. A dona disse: ?Mas você não tem dinheiro?. Eu disse: ?Tenho R$ 70 mil e assumo as dívidas.? Ela tinha declarado R$ 250 mil no contrato. Depois, vimos que passava de R$ 1 milhão. Chamei minha irmã e meu cunhado: ?Querem metade de uma empresa falida?? Disseram: "Queremos." A gente vem de família empreendedora. Foi meu maior acerto: chamei a Jaque e o Milton logo no início. Foi um horror pagar as dívidas, mas conseguimos.

Jaqueline: naquele momento, éramos terceiristas, sem marca própria. Mesmo em 2008, já tínhamos Anvisa. Nunca foi fábrica de fundo de quintal.

Dione: em 2011, olhei o mercado e pensei: ?É tudo muito chato, prateado, dourado?. E sempre gostei de escrever, de ler. Nasceu a Lola. Os nomes sou eu que dou, os textos sou eu que escrevo. Estava em um pub na Bélgica, com minha filha. Vi uma cerveja chamada Mort Subite. Pensei: ?Se cerveja pode se chamar Morte Súbita, por que creme não pode??.

Como foi colocar aquela fábrica quebrada nos eixos?

Dione: o primeiro dia da Jaque na empresa foi o de estreia da nota eletrônica que a contadora tinha instalado. A Jaque olhou e perguntou: ?Dione, cadê os impostos?? Eu disse: ?Não sei, tinha que ter??. Ela: ?Pelo amor de Deus, quem é essa contadora?? (risos). A sorte é que foi no primeiro dia.

Jaqueline: e começamos o processo de descobrir dívidas. Busquei alguém para fazer auditoria fiscal. A empresa não tinha crédito, porque a antiga dona estava devendo. Contratamos até um detetive para achar quem estava com os cheques. Um dia, um gerente de banco bateu à porta, oferecendo serviços. Falei: ?A gente não pode?. Mas ele abriu a conta e nos deu crédito. E fomos indo, eu sempre no bastidor, organizando a parte financeira. Por mais que tenhamos vivido momentos difíceis, nenhum foi tão difícil. Começamos com a linha profissional e, depois, o varejo começou a vender escondido da gente. Então, a Dione mudou e lançamos a linha para o varejo em uma feira no Rio.

Dione: tem uma curiosidade: todo mundo contrata mulheres para dançar. Contratei um grupo, nem sabia, mas eram garotos de programa, bonitos (risos). Mas tem uma outra coisa que quero dizer sobre a Lola. Sei que é obrigação, mas nós prometemos, lá no início, que, mesmo tudo dando errado, nunca atrasaríamos salário. E, de fato, nunca atrasamos.

Jaqueline: imposto e folha. Aprendi com meu pai: ?Bebam água, mas paguem?.

Dione: a primeira coisa que muito empresário atrasa é salário. Nossa trajetória foi ao contrário.

Jaqueline: nosso modelo consiste em estarmos muito presentes na operação.

Muda na nova conformação?

Jaqueline: muda. Vamos para o conselho e para os comitês. Pedro, meu filho, já trabalha conosco há alguns anos e agora assumirá a direção da Lola.

GPS DA ECONOMIA

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