terça-feira, 3 de junho de 2025


03 de Junho de 2025
CARPINEJAR

O que você faria se ganhasse na Mega-Sena?

Por pura curiosidade, perguntei para minha mãe, de 86 anos, quais seriam os seus planos se ela acertasse os seis números de uma aposta. Ela faz a fezinha dela semanalmente em uma lotérica da Protásio Alves, perto da igreja São Sebastião. Não é adepta de aplicativos.

Já escutei todo tipo de resposta de outras pessoas - não trabalhar mais, festas de arromba, prédio para a família inteira, praia privativa, frota de carros e aviões, viagens de luxo a lugares paradisíacos, dar a volta ao planeta, empresariar jogadores de futebol -, o pacote completo da ambição material. Menos a dela.

Minha mãe compraria uma oliveira. Isso mesmo: uma árvore que ela vê há décadas, caminhando pelo bairro Petrópolis. É sua cobiça venial na vizinhança.

Adquiriria uma casa na Rua Soledade apenas para ter a frondosa oliveira que se encontra no jardim. Em vez de pensar na casa, pensa na oliveira. A casa viria junto, não o contrário. São arroubos de poeta. Para além do acúmulo, do patrimônio, das funções. Ela só deseja ficar lendo e mateando na sombra da oliveira, com sua cadeira de praia, ao som de Beethoven.

É um dos objetivos mais bonitos de realização emocional que já ouvi na vida. Nem consegui brincar com a imaginação dela. Levei a sério, porque a simplicidade é sempre gentil - e desconcertante.

As raízes de suas palavras e promessas chegaram até mim. Lembrei que, quando criança, eu tinha uma árvore de estimação: uma ameixeira. Eu era o único dos meus irmãos que subia nela. O que conhecia suas estações. O que apanhava suas frutas. O que varria seu chão no outono. O que cuidava de seus machucados e podas.

Era a minha árvore pessoal. A árvore da minha infância. Aquela que nasceu comigo. O sonho materno é um exemplo que merecia ser adotado como mentalidade: olhar mais para os lados, e um pouco menos para o próprio umbigo.

Porto Alegre já ostentou o título de terceira cidade mais arborizada do Brasil, com um índice de 82,7% há 15 anos. Já recebeu o certificado do programa Tree Cities of the World, que reconhece iniciativas que investem em ecologia e desenvolvimento sustentável. Parece que esquecemos de cultivar nosso viveiro, nosso pomar.

Não estamos perdidos no bosque do tempo - o bosque é que anda se perdendo em nós. Entre 2017 e 2020, foram suprimidas 11.392 árvores em áreas públicas e privadas, sendo que menos da metade foi recomposta com novos plantios.

Não há reposição proporcional aos cortes.

Segundo dados do IBGE divulgados neste ano, com base em informações até 2022, Porto Alegre ocupa a sexta posição do ranking das capitais mais verdes do país, com 76,5% de arborização em vias públicas. Já no perfil do MapBiomas, de acordo com levantamento de 2023, estamos na nona posição, com 20,3% de vegetação urbana em relação à área urbanizada.

A Capital tem hoje aproximadamente um milhão de árvores. Mas, segundo a Unidade de Podas e Remoção de Vegetais (UPRV), cerca de 20% estão contaminadas com erva-de-passarinho. Ou seja, doentes. Nosso índice pode cair a assustadores 50%.

Todo mundo deveria experimentar a tutela de uma árvore. Para entender o quanto a arborização é a maior loteria de uma cidade. 

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