terça-feira, 22 de outubro de 2019


22 DE OUTUBRO DE 2019
ZONA SUL DA CAPITAL

Uma casa para chinês ver em Porto Alegre

Na esquina das ruas Murá e Oiampi, na zona sul de Porto Alegre, há um imóvel que parece de outro planeta - ou, pelo menos, do outro lado do mundo. Pintada de branco, amarelo e vermelho, a Casa Chinesa chama atenção de quem passa ali há quase sete décadas. Foi construída em 1951 por um dos nomes famosos do rádio gaúcho à época.

A residência mais excêntrica do bairro Guarujá pertencia a Antonio Amabile (1906-1953), o conhecido Piratini (pronuncia-se Piratíni, tendo a penúltima sílaba com a tônica). Apresentava o programa de calouros Hora do Bicho, e também foi humorista, cineasta, compositor, fundador da Casa do Artista Rio Grandense e empreendedor.

Segundo a história recontada de proprietário a proprietário, com o passar das chaves, a ideia da construção surgiu em viagem de Piratini ao Rio de Janeiro, quando conheceu um chinês que prometeu lhe mandar a planta da casa que tinha na terra natal.

Atual morador da Casa Chinesa, o advogado Ricardo Froner, 34 anos, guarda essa planta, em folha amarelada. Seu pai, o engenheiro agrônomo Valquir Froner, que faleceu ano passado, aos 86 anos, comprou o imóvel há cerca de 50 anos, inicialmente com a ideia de abrir uma casa de jogos no local. O negócio jamais saiu, então, virou residência de veraneio da família - o terreno fica a uma quadra do Guaíba. Há seis anos, Ricardo decidiu morar definitivamente com a família no espaço de três quartos.

A casa tem nas janelas vitrais coloridos com imagens de pescadores e paisagens do país asiático. Telhados pomposos, dos quais caem lanternas de luz amarelada que dão um charme especial à noite. Mas para a moradora Maria de Lourdes Froner, 60 anos, mãe de Ricardo, o jardim é especial.

- É gostosa a vida aqui, esse contato com a natureza.

A dona de casa cultiva orquídeas nas árvores, bromélias em vasos e corta o gramado que circunda a moradia. A cerca é tomada por malvaviscos e há um tapete de aguapés em um laguinho, que se transforma numa espécie de riacho em frente à residência - onde há uma pequena estátua chinesa.

Ricardo conta que, volta e meia, alguém para na frente da casa para tirar fotos. Se esperam ver alguém saindo de coque samurai ou quimono, certamente se decepcionam: a família não descende de orientais, e o conhecimento sobre a cultura se restringe a apreciar comida chinesa.

- Se vierem falar mandarim, não saberei nada - ri Maria.

JÉSSICA REBECA WEBER

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