terça-feira, 29 de outubro de 2019



29 DE OUTUBRO DE 2019

CARPINEJAR

O vendedor de rosas

Não há maior golpe baixo do que vender rosas em restaurantes e bares de noite. Você está em seu primeiro encontro e o vendedor já fareja a sua culpa:

- Gostaria de dar uma rosa para ela?

Ele não disse "gostaria de comprar uma rosa?", mas "gostaria de dar uma rosa para ela?". A mensagem é para ela, não para você.

Não tem como dizer não, pois admitiria que não quer dar uma rosa para ela. Implicitamente, assumiria que ela não merece uma rosa. Seria uma grosseria.

É impossível recusar a oferta diante do silêncio de pétalas dos três se entreolhando por uma resposta.

Sim ou não? Bem-me-quer ou malmequer?

Dificilmente a conversa vai prosperar depois de sua avareza. Não existe como fazer propaganda de si se não é capaz de oferecer uma flor. A reputação murchará na hora. Não adianta descrever as suas façanhas no emprego e mostrar como é admirável e sensível com  os outros.

O canteiro de seus olhos estará seco e árido para a esperança das promessas a dois.

Se você perguntar o preço e achar caro, ela poderá concluir que não tem direito nem a R$ 15 de sua vida, que dirá à vida inteira. O vendedor de rosas é só espinho em sua fantasia de jantar e prazer.

Ele é a realidade testando as suas intenções. Não esperava por esse contratempo de verdade em relação tão recente. Ainda nem se beijaram, e se vê obrigado a adiantar parte do buquê do Dia dos Namorados. É uma precocidade que mexe com os ânimos masculinos.

Dar uma rosa é o ensaio da aliança para o homem. É se declarar encantado, enfeitiçado, apaixonado.

Caso você se encontre interessado apenas em sexo, o presente repentino aumentará a sua vergonha, denunciará a sua objetividade, complicará o desapego.

A vontade é de xingar o garçom e o dono do estabelecimento por terem deixado aquele simpático senhor de gravata borboleta entrar e se aproximar de sua mesa.

Poderá alegar que não tem troco. Mas o vendedor está preparado para todos os tipos de cafajeste e logo retirará uma máquina de cartão de seu bolso.

Sim! Você aceitará a rosa. Mesmo se fosse por R$ 50.

Não importa se está acompanhado de uma mulher que está conhecendo ou da filha ou da mãe ou da tia ou de uma amiga. É uma avaliação de sua decência, o bafômetro de sua dignidade. Sofre o risco de perder a carteira de habilitação de romântico.

Ninguém no mundo tem coragem de negar uma rosa. O vendedor sabe disso - aquele maravilhoso sacana.

CARPINEJAR

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