Jaime Cimenti
Dilan Camargo e o novo diálogo
Estamos no terceiro milênio, em tempos de pós-feminismo, em busca de novas formas de diálogo entre seres humanos, especialmente entre homens e mulheres. Depois de séculos de machismo e de discursos feministas por vezes exagerados e rançosos, é hora de pensar em pessoas, em prazer, em entendimento, em liberdade, igualdade de gênero e respeito à diversidade. Hora de estabelecer uma nova humanidade.
Dilan Camargo, professor, escritor e, principalmente e essencialmente poeta e, agora, nosso adequado e energético Patrono da 61ª Feira do Livro de Porto Alegre, acaba de lançar a reedição de seu livro A fala de Adão (Vidráguas, 96 páginas), coordenada pela poeta e editora Carmen Presotto, que tem se caracterizado por publicar poesia e novos poetas, servindo de alternativa às editoras tradicionais que não lhes abrem as portas.
A obra teve sua primeira edição em 2000 pela Editora Mercado Aberto e, agora, com alguns poemas reescritos, outros suprimidos e o acréscimo de novos, mostra permanência e atualidade na forma e no conteúdo. Camargo toma a persona pública de Adão e a faz falar com Eva na sua representação de mulher contemporânea. Os poemas são independentes, mas há uma visão de conjunto na narrativa poética, envolvendo o amor, a fala masculina, a mulher e aspectos do mundo moderno.
Dilan, assim como Chico Buarque e Vinicius de Moraes, é profundo conhecedor da alma feminina e seus versos convidam a buscar novas falas para homens e mulheres e a trilhar novos caminhos, buscando uma nova humanidade, liberta de estereótipos escravizadores e visões egoístas e maniqueístas.
Ao invés de "jogar tênis", em que um ganha e outro perde, não seria melhor "jogar frescobol", onde não há vencedores ou perdedores e só prazer e saúde? Como se vê, a reedição do livro de Dilan é oportuna e merece ser lida com prazer. Tom Jobim sintetizou que é impossível ser feliz sozinho.
Nossa saudosíssima professora Tania Franco Carvalhal, na apresentação, escreveu: "Como título de A fala de Adão, Dilan entrega ao leitor um conjunto de poemas que se identificam, principalmente, pelo equilíbrio. Desde os primeiros versos nele reconhecemos o poeta com o domínio pleno do ritmo e com sensibilidade para o corte exato. Quer dizer, no livro, o poema se completa onde deve acabar, não há excessos".
Na orelha da reedição, nosso não menos saudosíssimo Moacyr Scliar escreveu: "Em A fala de Adão, Dilan dá ao mito bíblico original forma poética. O que temos aqui, em realidade, é uma verdadeira interpretação da condição masculina. O Adão que estes versos retratam é, antes de tudo, uma criatura surpreendente, perplexa".
Dilan Camargo formou-se em Direito, é mestre em Ciência Política, foi membro do Conselho Estadual de Cultura, fundador e presidente da Associação Gaúcha de Escritores, coordenou a Oficina de Poesia do Instituto Fernando Pessoa e organizou três antologias de poetas do Rio Grande do Sul. Publicou muitos livros de poemas infantis e contos. Recebeu, entre outros, o Prêmio Açorianos de Literatura e o Prêmio Ages de Livro do Ano.
A propósito...
A fala de Adão foi autografado na Feira do Livro dia 2 de novembro e, realmente, é uma obra que sintetiza a poesia do autor. Dilan Camargo, além de propor, com seus versos, novos caminhos para nossos imprescindíveis diálogos, também rememora o pai, a mãe, a infância, os amores que se foram e a passagem do tempo, na memória e fora dela. Memória, que é aonde as coisas acontecem muitas vezes. "A memória é de pedra/resta apascentá-la, adormecê-la/com velhas cantigas já esquecidas" são versos do poema Esquecimento, de Dilan, que estão no livro.
Jaime Cimenti
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