08 de novembro de 2015 | N° 18349
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Aproveitando a Feira
HAMLET DE ROUPA NOVA – Pela prestigiosa coleção de clássicos da parceria Penguin/Companhia saiu agorinha a tradução de Lawrence Flores Pereira para o Hamlet, clássico absoluto de Shakespeare. O texto tinha ido a cena, há quase 10 anos, em montagem de Luciano Alabarse, e naquele momento já era claramente perceptível que o tradutor tinha feito excelente serviço, não apenas nos proporcionando um dos grandes momentos shakespearianos em português, mas em um português fluente, nítido, e ainda por cima com ritmo, com suingue. Lendo agora o texto silenciosamente, fica claríssima a virtude da tradução, assim como o acerto das notas e comentários do tradutor.
(Nessa mesma coleção, saiu em 2013 a notável tradução de José Francisco Botelho, que trouxe o antiquíssimo Geoffrey Chaucer e seus Contos da Cantuária para um português igualmente acertado. E o Botelho ainda se deu a requintes: a tradução foi feita toda em versos, em diálogo direto com o original, e para isso foi imprescindível a intimidade do tradutor com a poesia cá do sul da América, a dita gauchesca. Sim, senhores, um feito e tanto. Pedindo perdão por puxar a brasa para o meu assado, anoto também que Julia da Rosa Simões, minha digníssima, traduziu para essa coleção outro clássico, desta vez francês, as Vinte Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne.)
DA NOITE PARA O TEXTO – Paulo César Teixeira publica pela Libretos um novo retrato biográfico, Nega Lu – Uma Dama de Barba Malfeita. Além do documento dessa personagem da noite porto-alegrense que todo mundo conhecia (como dizia Paulo Francis, “todo mundo” é aquela meia-dúzia de pessoas que formam o nosso universo de referência na cidade), o autor nos dá excelente contexto, geográfico e histórico, transformando a leitura numa boa viagem pelo passado recente que todos vivemos (“todos” quer dizer...). Tri bom de ler.
LIBRETOS INESPERADOS – Sinceramente, aconteceu de eu dar de cara, totalmente sem querer, com O Livro dos Libretos, da editora Palmarinca. Assina a obra meu velho conhecido Alpheu Godinho, com quem trabalhei na Secretaria de Cultura de Porto Alegre 20 anos atrás. Aqui ele apresenta três libretos, os textos dramáticos de três óperas (as músicas de cena são apenas apontadas na edição, sem a partitura), as três adaptadas – trata-se de versões para palco de Antônio Chimango, o clássico gauchesco de exatos cem anos de idade, Frankenstein, cujo original tem quase 200 anos, e finalmente um texto ainda mais antigo, As Mil e Uma Noites, em que três das centenas de histórias do original são reconfiguradas para a cena. A impressão de leitura é das melhores – e logo imaginei como professores de escola poderão aproveitar a oportunidade para brincar de teatro com o pessoal.
GEOGRAFIA CRÍTICA – Também trombei, na Feira – ah, a maravilha de ser atropelado por um livro –, com um livro coletivo, organizado por Adriana Dorfman, professora da Geografia da UFRGS: Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre (Letra 1/Geociências da UFRGS). Começa que o livro é bonito, com fartas ilustrações do Eloar Guazzelli e mapas ótimos, e segue que é bom de ler, e culmina que é uma forma inteligente de pensar sobre a cidade. Em sua forma inicial, era um livro de apoio para a sala de aula, mas, quer saber, vale muito a pena ler cá fora. . Neste tempo em que estamos vendo um embate histórico entre uma visão antiga, centrada no automóvel e no lazer como consumo, e outra visão mais aberta, centrada na qualidade de vida, no verde, na comunidade pública, nada melhor. (Tem versão digital franca: ufrgs.br./propesq/publicacoes.)
Ficou faltando falar do excelente livro do Raphael Guimaraens sobre o Guaíba, dos belos poemas do Escobar Nogueira em Borges Vai ao Cinema com Maria Kodama, da corajosa biografia do Júlio Reny, da sen-sa-ci-o-nal biografia da Elis feita pelo Arthur de Faria... Mas tá tudo lá, nas barracas da nossa estima.
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