07 de novembro de 2015 | N° 18348
DAVID COIMBRA
Dez livros para gostar de ler
Tempos atrás, o MEC garantiu que as pessoas podem escrever “nóis pega os pexe”, que não é errado. Aquilo me irritou.
Agora, o MEC escreveu “vantagens locacionais” numa questão do Enem. E isso me irritou também.
Definitivamente, eu e o MEC não nos entendemos. Claro que a culpa não é do MEC; é minha. O MEC é como o Google: tudo sabe.
Eu aqui, na minha ignorância suburbana, prefiro textos que não contenham erros gramaticais grosseiros nem sejam pretensiosos em demasia. Prefiro textos que se comuniquem com o leitor. Mas trata-se apenas de uma preferência pessoal, óbvio.
Reconheço, inclusive, que minhas diferenças com o MEC são de fundo pessoal. Quando estava na escola, o MEC me obrigava a ler aqueles autores brasileiros do século 19. Lembro-me, ainda com certa dor, de A Moreninha e Iracema. Felizmente, minha mãe, antes, havia me alcançado outros livros, ou eu acharia que ler era aquilo.
Admito, portanto, meus ressentimentos com o MEC, que, de alguma forma, estendem-se para a Academia, devido ao comportamento dela, Academia, quando fui estudante universitário. É que a Academia e o MEC pensam da mesma maneira. Eles são amiguinhos.
Mas não continuarei discorrendo sobre minhas diferenças com o MEC e a Academia, porque sempre perderei para eles. Meu objetivo, com este modesto texto, é dar ao eventual leitor opções do tipo que recebi. Faço isso não a propósito das recentes provas do Enem, mas a propósito da Feira do Livro, que ora se derrama pela Praça da Alfândega. Abaixo, listo 10 livros de texto elegante, que nunca apelaram para o aborrecido condoreirismo ou para o exasperante experimentalismo, que contam histórias com um estilo que fará você continuar lendo, e não sair correndo, para aproveitar a rima. Aí vai, sem ordem de importância:
1. O Apanhador no Campo de Centeio. O mestre Otto Maria Carpeaux esculhambou com esse romance, mas Salinger escreveu um dos textos mais sinceros que já li. O único texto bom que ele escreveu, na verdade. Mas foi o suficiente.
2. O Velho e o Mar. Dizem que com esse livro Hemingway deu início ao novo jornalismo, com frases curtas, às vezes de uma única palavra. Acredito.
3. Bonequinha de Luxo. Capote dizia que sua ambição era escrever uma frase “resistente e flexível como uma rede de pescar”. Nessa novela, escreveu várias.
4. Luna Caliente. Comecei a ler esse opúsculo do Mempo Giardinelli e não larguei até terminar. Comece a ler quando você tiver pelo menos duas horas livres.
5. Asfalto Selvagem. O velho Nelson escreveu cada capítulo como o Anjo Pornográfico que foi. É um dos ápices da literatura brasileira.
6. Um certo Capitão Rodrigo. Faz parte de O Tempo e o Vento. É o livro que leio para me sentir mais gaúcho, que ser gaúcho como o Capitão Rodrigo é predicado, não é substantivo.
7. Meninão do Caixote. João Antônio, o autor desse clássico, disputa com o nosso Faraco o título de melhor contista do Brasil. Os dois disputavam, também, o título de melhor contista jogador de sinuca. O Faraco jura que venceu.
8. Dona Flor e seus dois Maridos. Falavam que Jorge Amado escrevia sempre o mesmo livro, como Garrincha driblava sempre para o mesmo lado. Talvez. Mas ambos faziam o mesmo sempre como craques.
9. Nada de novo no Front. Remarque foi o inspirador de Vonnegut e tantos outros rebeldes. Não admira que Hitler tivesse mandado queimar seus livros.
10. Viúvas. Tinha que colocar um noir na lista. Esse clássico do Ed McBain é o melhor de seus 80 romances. Depois de lê-lo, você sairá pelas livrarias desesperado, querendo comprar os outros 79.
Nenhum comentário:
Postar um comentário