quinta-feira, 5 de novembro de 2015



05 de novembro de 2015 | N° 18346
FEIRA DO LIVRO

NÃO É IMPRESSÃO, A FEIRA ENCOLHEU

ESPAÇOS VAZIOS DENUNCIAM: o evento está menor em relação a anos anteriores. Alguns expositores desistiram, outros reduziram o número de bancas. A boa notícia é que isso não afetou as vendas nem a presença do público

Há poucos anos, algumas das discussões mais acaloradas envolvendo a Feira do Livro de Porto Alegre versavam sobre por quanto tempo a crescente expansão do número de bancas e da programação acabaria por, inevitalmente, levar a festa para longe de uma Praça da Alfândega pequena demais para as dimensões do evento. Não mais. Este ano, uma perplexidade compartilhada por muitos frequentadores e, às vezes, apresentada para o livreiro atrás do balcão, é outra: é só impressão ou Feira está menor em 2015?

De fato está, e a diferença é atestada pela simples matemática. Havia 127 bancas na edição passada, há 113 nesta. Alguns expositores, como a Livraria do Advogado, preferiram não vir. Outros, que normalmente se instalam com duas barracas, como a L&PM, desta vez estão na praça com apenas uma. 

Para participar da Feira, os expositores precisam estar em dia com suas contribuições para a âmara Rio-Grandense do Livro (CRL) e ainda pagar uma taxa para instalação da barraca. Então, este ano alguns resolveram não participar. E isso ao lado de livrarias tradicionais da cidade que, por opção, não vão à Feira, como a Bamboletras, que há anos oferece descontos em sua loja, mas não se instala no evento.

De acordo com o presidente da CRL, Marco Cena Lopes, o encolhimento, motivado pela crise financeira, também atingiu o orçamento da festa:

– No ano passado, o orçamento da Feira do Livro foi de R$ 3,8 milhões. Este ano, estamos fazendo a coisa toda com R$ 1,8 milhão. E isso em um ano de crise e alguma inflação – comenta.

Para equilibrar as contas, a Câmara cancelou alguns eventos que já estavam praticamente acertados – um show de Emicida, por exemplo. Na Praça, a Feira ocupa uma área menor e, mesmo assim, sobra espaço. Sem o cais, do qual a organização abriu mão devido à possibilidade de enchentes, e sem parte das bancas na Rua da Praia devido a uma obra, ainda assim os estandes ficam a uma distância sem atropelo uns dos outros.

APESAR DA CRISE DESTE ANO, VENDAS COMEÇARAM BEM


Nas prateleiras dos expositores, no entanto, a impressão generalizada de que o movimento e as compras estão melhores em comparação com 2014 foi comprovada com a divulgação, na terça-feira, do primeiro balanço parcial da Feira. De acordo com a nota oficial da Câmara do Livro, de sexta- feira até o feriado de Finados, as vendas somaram 24% a mais do que no mesmo período do ano passado. Algo que os próprios livreiros já vinham comentando informalmente.

– A gente vê que as pessoas olham, querem comprar, aí é o caso de chegar e oferecer um desconto, acertar nossas expectativas com a do consumidor, porque começo de mês está todo mundo ainda contando as moedas – comenta Neiva Piccinini, sócia da Livraria Província.

Talvez a conjunção de uma feira menor com melhores vendas se explique por uma noção básica de economia: menos bancas, menos concorrentes a repartir o bolo. Mas alguns expositores apresentam outras explicações. O editor João Carneiro, da Tomo Editorial, por exemplo, fala até no calendário. Como a Feira se realiza tradicionalmente a partir da última sexta-feira de outubro, quanto mais próximo esse dia estiver de novembro, melhor serão as vendas.

– Quando dá o acaso de uma feira começar mais próxima do fim de outubro, as vendas costumam ser melhores, porque o pessoal já sabe que está recebendo dali a pouco. Uma Feira que comece no dia 26 de setembro, por exemplo, e não 30, como esta, normalmente terá uma primeira semana de vendas baixas – comenta Carneiro, que já foi ele próprio presidente da CRL.

carlos.moreira@zerohora.com.br

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