quinta-feira, 5 de novembro de 2015



05 de novembro de 2015 | N° 18346
JOGATINA TECH | Gustavo Brigatti

A batalha pelas pontas dos dedos

COMPRA DA KING pela Activision por quase US$ 6 bilhões mostra o tamanho e a força do mercado de games mobile

Esqueça consoles de última geração. Esqueça PCs que custam o preço de um carro popular. Nada é (e continuará sendo) tão lucrativo quanto mobile games. Isso mesmo, joguinhos de celular, meu amigo. Aqueles que você brinca casualmente na sala de espera do consultório ou mata o tempo durante uma viagem mais longa. É uma indústria que vem crescendo, mas que nesta semana deu um duplo twist carpado com a compra da King pela Activision pela bagatela de US$ 5,9 bilhões.

A King, você sabe, é a produtora de um dos títulos mobile de maior sucesso no mundo, o Candy Crush Saga. A empresa, com base na Irlanda, abriu suas portas em 2003, mas só entrou pra valer no jogo em 2011, quando descobriu que era mais fácil canibalizar ideias que já existiam do que criar algo do zero. O modelo do CCS, do tabuleiro onde se empilham itens iguais para somar pontos, nunca foi novidade – remete, no mínimo, ao jurássico Tetris, que o russo Alexey Pajitnov lançou em 1984.

O que fez Candy Crush dar tão mais certo que outros que vieram antes oferecendo exatamente o mesmo sistema de jogo (como Bejeweled, de 2001) segue um mistério. Fato é que a King não se preocupou mais em fugir dessa mecânica, lançando uma série de outros games idênticos (e que fazem tão sucesso quanto), como Pet Rescue, Heroes Farm, Pepper Panic, Diamond Digger e Scrubby Dubby.

O resultado é, óbvio, muito dinheiro sendo movimentado: só em 2014, Candy Crush gerou uma receita em torno de US$ 1,33 bilhão – e estamos falando de um jogo gratuito, ou seja, a maior parte desse dinheiro veio de jogadores que abriram suas carteiras porque quiseram, não porque precisavam. Isso faz da King a 10ª companhia mais lucrativa do mundos dos games, à frente de gente do calibre da Nintendo e da Disney, por exemplo.

Mas não é dinheiro que a Activision, produtora da multimilionária franquia Call of Duty, quer. Pense em outras transações tão impressionantes quanto essa, como a compra de Minecraft pela Microsoft (US$ 2,5 bi) ou do Oculus Rift pelo Facebook (US$ 2 bi). No primeiro caso, o interesse era em um gerador de conteúdo como nunca se viu (há mais vídeos de Minecraft que de música no YouTube), enquanto o segundo foi a aquisição de tecnologia de ponta. Agora, são dados.

A base de dados da King é mastodôntica. Seus títulos são jogados por 1,5 bilhão de pessoas por dia em todo o mundo, que oferecem de bandeja informações sobre seus hábitos de jogo – diamantes valiosíssimos para quem deseja se dar bem em um ambiente tão rico quanto disputado como o mercado mobile.

Para se ter uma ideia, segundo relatório da consultoria Adjust, usuários de celular passam até 10 vezes mais tempo brincando com games do que em outros aplicativos – tudo devidamente absorvido e transformado em estatística para fazer com que esse número se multiplique ao infinito.

A entrada de um gigante como a Activision nesse jogo indica que a coisa vai ficar ainda mais séria – e bem menos doce para a concorrência.


A HISTÓRIA DO NERD BRASILEIRO EM LIVRO

Se você foi nerd (mas nerd mesmo) no Brasil nos anos 1990, foi leitor da Herói. A revistinha, nascida em 1994, era a maior (talvez única?) fonte de informação a respeito de quadrinhos, animes, mangás, games, filmes bizarros, seriados e RPGs numa época em que a internet era tão ficção quanto o teletransporte ainda é hoje. Não é exagero afirmar que muito da produção de cultura pop no Brasil hoje se deve à Herói. Agora, a saga da revista vai ganhar um livro, que precisou de poucos dias no Catarse para captar o montante necessário – mas que está até o dia 16 de novembro aberta a contribuições no catarse.me/pt/livroheroi. A expectativa é que o projeto seja lançado em dezembro deste ano.

DOCUMENTO CBLOL

Um dos grandes títulos de eSport do mundo, League of Legends é fenômeno no mundo inteiro. No Brasil não seria diferente, como deu para perceber durante a última final do Campeonato Brasileiro de League of Legends. No dia 8 de agosto, 12 mil pessoas lotaram o estádio do Palmeiras para ver a Pain Gaming vencer a INTZ e se classificar para jogar contra equipes do Exterior. O evento virou um documentário, preparado pela equipe da Riot e disponível no canal do YouTube LoL eSports BR. Sem brincadeira, é de assistir arrepiado. É a história sendo feita, e o Brasil, por incrível que pareça, está dentro desse bonde e sentado na janelinha. Não perde.

ASSASSINS CREED SYNDICATE É EXEMPLO DE BOM TEXTÃO DE FACEBOOK

Debate político polarizado, feminismo, figuras históricas controversas e violência estilizada. Poderia ser um típico “textão de Facebook”, mas é Assassin’s Creed – Syndicate, novo capítulo da treta entre Assassinos e Templários.

Sobre o jogo em si, pouca coisa foi alterada em relação aos anteriores: caminhe pelo cenário liberando as áreas dos inimigos, cumpra missões paralelas para evoluir o personagem e aumente o número de aliados. Mas o contexto da ação, ah, esse ganhou um belo upgrade da Ubisoft.

Assassin’s Creed sempre foi um jogo sobre a necessidade de rebelião. Na franquia, já lutou-se contra forças obscuras, opressão religiosa e colonização. Em Syndicate, a batalha é na Londre da Revolução Industrial e o inimigo é, basicamente, o capitalismo e seus artífices. Mas não qualquer capitalismo: estamos falando do início da parada, exploração de mão de obra infantil, trabalhadores morrendo exaustos nas linhas de produção e ambientes altamente insalubres.

Fazendo justiça com os punhos estão os irmãos Jacob e Evie Frye, gêmeos da irmandade dos Assassinos que lutam apoiados por gente que reparte dos mesmos ideais – como o escritor Charles Dickens, o naturalista Charles Darwin, o inventor Alexander Graham Bell e o pensador Karl Marx. É com essa turma que a dupla vai contar para levar um pouco de igualdade social à Londres – nem que seja na base da porrada.

O estimado leitor e jogador pode (e talvez deva) duvidar do maniqueísmo adotado pela Ubisoft: nem todo dono de meio de produção é o demônio encarnado, e Graham Bell não foi o santo altruísta pintado pelo jogo. Mas não deixa de ser louvável a iniciativa da desenvolvedora de pelo menos discutir o assunto – coisa que poderia ser feita nos “textões de Facebook”.

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