01 DE MARÇO DE 2024
OPINIÃO DA RBS
CELULARES NA SALA DE AULA
Cresce em todo o mundo o debate sobre restrições ao uso de smartphones pelos alunos nas salas de aula. Um relatório publicado em meados do ano passado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) trouxe o alerta de que a utilização excessiva de telefones celulares impacta o aprendizado. Observou ainda que um em cada quatro países tem leis que proíbem aparelhos durante as aulas.
Divulgado no final do ano passado, o relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - Pisa na sigla em inglês -, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), chegou a conclusões parecidas. Alunos que passavam mais tempo distraídos em redes sociais e aplicativos de mensagem tiveram notas menores no teste. Por outro lado, aqueles que fazem uso moderado dos smartphones e os priorizam para finalidades pedagógicas apresentaram performance melhor.
Em um país como o Brasil, em que o desempenho escolar já deixa a desejar, é um fator a mais a preocupar. O Pisa detectou que, no país, o nível de dispersão na sala de aula devido ao acesso desmedido aos aparelhos é maior do que a média da OCDE. Diante desta realidade perturbadora, mais municípios brasileiros passaram a adotar legislações para inibir e regular a utilização de smartphones nas classes.
Limitações deste tipo podem contribuir, mas não há garantias de que serão observadas no dia a dia. Ou de que não acabarão negligenciadas com o passar do tempo. Em Porto Alegre, por exemplo, essa proibição existe desde 2011. Mesmo assim, é tema que segue preocupando escolas e professores, como mostrou reportagem de Sofia Lungui publicada ontem em Zero Hora.
Talvez a melhor forma de enfrentar este problema, com reflexos positivos para assimilação de conteúdos, seja um trabalho de conscientização e de estabelecimento de regras nos próprios colégios, incluindo acordos entre docentes e estudantes. Há exemplos de iniciativas em escolas com bons resultados. Os pais e responsáveis pelos alunos, da mesma forma, têm papel essencial na orientação a crianças e adolescentes. A tecnologia é uma aliada da educação quando utilizada de forma adequada e sob supervisão. Sem controle, leva à desatenção e prejudica o aprendizado.
Não pode ser esquecido que o uso excessivo de smartphones não é uma preocupação limitada à educação. Está presente nos mais variados aspectos do cotidiano. É uma chaga contemporânea. Em muitos casos se transforma até em uma espécie de dependência, batizada de nomofobia. Afeta a produtividade nas empresas, atrapalha no cinema e é um risco no trânsito. A cada dia, 57 motoristas são multados na Capital por uso irregular do celular enquanto dirigem, apontou outra reportagem de ZH publicada em dezembro último. Estudos mostram que esta é uma causa crescente de acidentes.
O tempo desmedido nas telas e a dificuldade para se desconectar dos dispositivos eletrônicos também afetam a sociabilidade. Afastam o diálogo pessoal nos ambientes públicos, como restaurantes, ou mesmo nos lares, quando cada familiar permanece absorto em sua bolha de conexões, ignorando a presença física dos que estão a sua volta. As crianças acabam absorvendo estes maus hábitos e os reproduzindo, inclusive na sala de aula. A solução, portanto, começa por bons exemplos em casa.
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