sexta-feira, 1 de março de 2024


01 DE MARÇO DE 2024
ARTIGOS

A AUDIÇÃO E O AMOR

"Doutor, meu marido não escuta bem!", disse-me a senhora Joana na consulta do senhor Oscar. Eles formam um simpático casal entre 70 e 80 anos de idade. Relataram que ele necessita do volume elevado na TV, no rádio e em mensagens do celular para conseguir entender, mas ao mesmo tempo isso incomoda outras pessoas. Ela disse que a palavra mais falada pelo senhor Oscar era "ãhnn?". Contaram que haviam construído uma família numerosa, com filhos, genros, noras e netos e que os almoços de família são alegres e barulhentos. 

Agora, nessas ocasiões, ele fica quieto e não participa mais das conversas divertidas. Também os encontros sociais com amigos ficaram mais raros. Então, a senhora Joana me surpreendeu com uma romântica declaração. Emocionada, ela conta que são um casal muito amoroso e que em momentos de intimidade, costumam frequentemente dizer que se amam: "Doutor, eu te amo é uma frase para se falar sussurrando, e não aos gritos!".

A consulta segue com o exame dos ouvidos, realizamos um teste auditivo e prescrevi o necessário aparelho auditivo. Mas a frase da senhora Joana não me saiu do pensamento. A presbiacusia é a alteração do órgão auditivo e das vias auditivas associada ao processo de envelhecimento. A prevalência aumenta com o avanço da idade e com o aumento da expectativa de vida. 

O diagnóstico é feito através de consulta com otorrinolaringologista e exames de audiometria. Infelizmente, por dificuldades do sistema de saúde público e pelo preconceito com o uso de aparelhos auditivos, ainda hoje, muitos idosos não são diagnosticados e sofrem as consequências na qualidade de vida. Muito importante é que estudos sugerem que a perda da audição é um fator de risco para as alterações cognitivas do idoso - demência e, particularmente, a doença de Alzheimer.

Em 3 de março comemoramos o Dia Internacional da Audição e o Dia do Otorrinolaringologista. Depois de mais de 35 anos como otorrinolaringologista, foi a primeira vez que alguém me chamou atenção de uma forma tão singela e real sobre o quanto nossa audição deve ser preservada também para momentos de intimidade e amor. Ainda hoje, muitos idosos não são diagnosticados e sofrem as consequências na qualidade de vida

EDUARDO TELLECHEA CAIROLI

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