sábado, 3 de fevereiro de 2024


03 DE FEVEREIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

NAVEGAR É PRECISO

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes na sexta-feira me leva a lembrar os navegadores portugueses e espanhóis que, nos séculos 15 e 16, ao sulcar os mares, literalmente abriram portas ao mundo.

Camões os imortalizou num poema inesquecível, Os Lusíadas, tornando a língua portuguesa um dos idiomas do Ocidente. Desapareceram os diferentes dialetos e o poeta ainda ironizou a velha visão de que a Terra terminava num abismo?

É impossível saber hoje como aqueles pequenos barcos a vela, sem qualquer motor, sem bússola nem telégrafo, se moviam de um ponto a outro em viagens de longos meses, guiando-se pelas constelações. As estrelas são visíveis apenas à noite, tornando impossível saber como se guiavam durante o dia. Mais ainda: como se abasteciam de água potável e alimentos?

Já não indago sobre como se banhavam, algo que naquela época era pouco usual, mesmo sendo necessário? Atualmente, não damos um passo sem consultar o telefone celular, avisando onde estamos e em quanto tempo vamos chegar.

Já pensaram como seria se Pedro Álvares Cabral tivesse um celular? Poderia avisar aos indígenas (que, na certa, também teriam celular) a data de chegada e dizer que levava algo milagroso que reproduzia a imagem de quem o olhasse. Nem precisava dizer que se chamava "espelho", bastava o objeto em si para o deslumbramento e, depois, a dominação?

É possível que o único alfabetizado fosse o escrivão da esquadra, Pero Vaz Caminha, que, ao aqui chegar, deslumbrou-se com a nova terra que "em se plantando tudo dá", como escreveu a El Rey de Portugal.

A Escola de Sagres, que formava os navegantes, não exigia que fossem alfabetizados, ainda que se compare ao que hoje é a Nasa nos EUA. Não sei se os yanomami ou outros indígenas têm celular. É brutal, porém, o trato que recebem dos garimpeiros que poluem com mercúrio os rios e águas de onde se alimentam e cozinham.

Ao aqui chegar, Cabral mandou celebrar uma missa como as de agora festejando os navegantes.

Por isso, navegar é preciso, já dizia o poeta Fernando Pessoa. Atualmente, não damos um passo sem consultar o telefone celular

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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