
Eu te blindo, tu me blindas
Pois é, então se rasgou a fantasia. Sem maiores escrúpulos ou pudores, o verbo da hora é blindar, mas conjugado com os pronomes de uma gramática bem brasileira: eu te blindo, tu me blindas, eles nos blindam, nós nos blindamos e por aí vai.
Primeiro, a blindagem do Executivo. A Lava-Jato e o interminável inquérito das fake news ensinaram aos presidentes que seus percalços se alojam no Supremo Tribunal Federal (STF), porque o baixo clero do Congresso se contenta em ser domesticado com emendas. Então, às favas com a nomeação de juristas renomados, como no passado, e com o critério da diversidade, como Joaquim Barbosa, algoz de Lula e do PT no Mensalão. O primeiro atributo do indicado é lealdade. Nada contra o ministro Cristiano Zanin, um dos que preservam a liturgia do cargo, por sinal, mas alguém imagina blindagem mais explícita do que nomear o próprio advogado para a Suprema Corte?
Em seguida, os parlamentos. Só a centelha de povo na rua impediu que fosse à frente a PEC da Blindagem, também conhecida como da Bandidagem, que exigia autorização prévia dos congressistas (em votação secreta!) para o STF processar um deputado.
Com o pântano das emendas começando a borbulhar, o centrão foi à luta. O PL bolsonarista era um entusiasta da ideia, relembre-se. Por quê? Não se sabe, como também não se sabe por que, com apoio de 14 dos 18 partidos, a Assembleia Legislativa do Rio revogou a prisão de seu presidente, Rodrigo Bacellar, aquele que instruiu um deputado ligado ao Comando Vermelho a deixar a picanha para trás e dar no pé antes de a Polícia Federal chegar. É uma blindagem validada pelo STF para deputados em todo o território nacional, com apoio de partidos de Norte a Sul.
Por fim, o próprio STF. A Corte vem metendo os pés pelas mãos desde que se embriagou com o título de última linha de defesa da democracia. Coube a Gilmar Mendes, adepto do matar a crítica no peito, decidir que apenas a Procuradoria-Geral da República (PGR) poderia pedir o impeachment de ministros do STF. Dias depois, recuou e fechou-se um acordão com o Senado.
Mas o que é tudo isso diante do contrato de R$ 3,6 milhões mensais do Banco Master com a banca da esposa e filhos de Alexandre de Moraes e do passeio de Dias Toffoli no jatinho com o advogado de um dos diretores do banco para ver seu Palmeiras no Peru? Em mais um dia normal na Blindolândia, Toffoli transferiu todo o caso - uma bomba que estava por explodir - para seus escaninhos no STF e decretou sigilo absoluto. Na prática, uma operação abafa para alívio geral ao centro, à esquerda e à direita.
E ninguém fica ruborizado.
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