sexta-feira, 12 de dezembro de 2025


11 de Dezembro de 2025
360 GRAUS - Carlos Redel

Centro da memória afro-brasileira

Dentro do bilionário projeto POA Futura, que busca trazer melhorias e promover transformação social e urbana na Capital nos próximos anos, uma iniciativa promete enaltecer a contribuição do povo negro para a história da cidade e do Rio Grande do Sul.

Trata-se do Centro de Cultura Negra, iniciativa da prefeitura de Porto Alegre que prevê uma completa revitalização do Largo Zumbi dos Palmares. Também está dentro do projeto a construção de uma edificação moderna no local, que servirá como museu, mas, também, como espaço cultural e de desenvolvimento.

- Queremos que essa construção esteja à altura da contribuição do povo negro para a história da cidade, do Rio Grande do Sul e do Brasil. Que seja um ponto de referência, onde o mundo inteiro possa chegar à Capital e ter a percepção exata de que no Sul tem preto - reforça a secretária municipal de Cultura de Porto Alegre, Liliana Cardoso.

A iniciativa, que terá um custo estimado de R$ 30 milhões, será financiada pelo Banco Mundial e pela Agência Francesa de Desenvolvimento. O orçamento, de acordo com Liliana, está assegurado. A estrutura ainda deverá trabalhar aspectos de arte, inovação e letramento racial, bem como ser um catalisador da construção de uma cultura de reparação histórica.

- Tudo que permeia a história do negro tem de ter o olhar do negro, ou não há construção fidedigna para um centro de cultura negra. A prefeitura está indo atrás dos melhores parceiros para criar um espaço que não é só um museu, mas uma estrutura moderna, contemporânea. Não quero chegar ao museu e ver o negro acorrentado, chibateado, mas, sim, a sua contribuição para a história, para a identidade. Mostrar a visão, as caras e as mãos pretas que por aqui passaram - diz a secretária.

Os trabalhos estão em fase de elaboração pela Diretoria de Programas de Financiamento da prefeitura, etapa que definirá a modalidade de contratação e as bases das intervenções a serem feitas.

A partir daí, todo o processo, segundo a secretaria de Cultura, será conduzido alinhando critérios técnicos e diálogo com representantes do movimento negro e da comunidade porto-alegrense - incluindo o Instituto Oliveira Silveira. A ideia é de que todo o projeto seja desenhado dentro de um ano.

- Como mulher negra, não quero ver remendos da história, não quero ver espaços sempre remendados. Quero ver a construção do zero e como merece a negritude: no ponto mais alto da lança dos nossos Lanceiros Negros - finaliza Liliana. _

Gaúcha ressignifica - peças de brechó

Quase que semanalmente vemos nas redes sociais uma nova "tendência de moda" que, em pouco tempo, já é considerada ultrapassada, e as peças acabam deixadas de lado ou descartadas. Contrariando esse padrão e mostrando que a moda pode ser sustentável, a estilista gaúcha Elisa Chanan se dedica a criar a partir de itens garimpados em brechós.

Desde o início de novembro, a marca de Elisa, a Dressing Stories, tem jaquetas disponíveis na Momo Vintage, em Florença, na Itália - loja conhecida pela curadoria de peças usadas de grandes estilistas, como Gucci e Giorgio Armani.

A coleção, de cerca de 15 itens, é inspirada no disco Sgt. Pepper?s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, e traz peças ressignificadas com botões antigos, retalhos de tecido, galões, cordões e fitas vintage.

- Minha marca é justamente sobre isso, de trabalhar em roupas que já têm histórias. A ideia é dar um novo olhar para o que já existe. Acho que a moda precisa desse olhar - diz a estilista.

Elisa usa técnicas como o upcycling, que significa a transformação criativa de materiais descartados ou subutilizados em novos itens. O processo é de "desconstruir para reconstruir", segundo ela, dando um novo significado às peças.

Por meio disso, a gaúcha busca mostrar que a moda pode ser guiada pelas histórias, e não somente pelo consumo.

Vale lembrar que, conforme relatório divulgado neste ano pela Global Fashion Agenda, entidade dinamarquesa sem fins lucrativos, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados na última década, sendo 4,6 milhões apenas no Brasil.

Para comparação, um caminhão de lixo comum tem capacidade, em média, para até 10 toneladas; portanto, se fôssemos transportar todo esse material jogado fora mundialmente, seriam necessários mais de 9 milhões de veículos.

Para o ano que vem, Elisa projeta trazer peças para o Brasil, incluindo uma coleção de boinas seguindo o mesmo processo de reaproveitar e ressignificar itens de brechós.

Sobre a estilista

Gaúcha de Encantado, no Vale do Taquari, Elisa começou a se interessar por moda trabalhando na confecção da mãe. Depois, estudou no Instituto Marangoni, em Milão, na Itália. Retornou ao Brasil e trabalhou coleções em Porto Alegre e São Paulo, além de participar do antigo Fashion Rio, na Casa de Criadores. Também esteve na Madrid Fashion Week.

Ela já vendeu criações no Japão, nos Estados Unidos, na França e na Itália, onde vive por alguns meses do ano, dividindo o tempo com a capital gaúcha. _

*Produção: Maria Clara Centeno - Grupo Jogo celebra 18 anos com espetáculo

O Grupo Jogo estreia Leia Antes de Aceitar, espetáculo dirigido por Alexandre Dill e com dramaturgia inédita de Gabriel Pontes. As apresentações ocorrem nos dias 16 e 17 de dezembro, no Teatro do Sesc Alberto Bins, em Porto Alegre.

Com Filippi Mazutti, Igor Pretto e Gabriel Pontes em cena, a montagem celebra os 18 anos do grupo, buscando ser o resultado de um aprofundamento na trajetória de pesquisa em linguagem contemporânea, misturando crítica social, ficção especulativa e invenção estética.

A narrativa acompanha um ator que, ao ceder os direitos de sua imagem para uma empresa que utiliza inteligência artificial, vê seu rosto replicado em campanhas, filmes e produtos audiovisuais produzidos sem sua autorização. Preso a um contrato de tempo indeterminado, ele descobre que já não é mais dono do próprio corpo.

- A gente vive um tempo em que a autoria, a privacidade e até o corpo podem ser sequestrados por contratos que ninguém lê até o fim. O espetáculo nasce dessa inquietação - afirma o diretor.

O espetáculo, de acordo com o diretor, não tem como objetivo demonizar a tecnologia, mas questionar o que resta do humano quando tudo pode ser virtualizado.

O resultado é um dispositivo cênico que articula recursos como projeções mapeadas e vídeos em tempo real, culminando em crítica social e invenção estética em um experimento cênico sobre o avanço tecnológico e o desaparecimento da autoria no mundo digital. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla. _

360 GRAUS

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