quarta-feira, 4 de junho de 2025


04 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Rio Grande do Sul possível

Presidente Lucena, situada na encosta da Serra Gaúcha, é a sexta cidade do país com melhor qualidade de vida. Na sexta-feira, o Instituto Imazon divulgou um ranking entre 5.570 municípios brasileiros, considerando fatores como saúde, moradia e segurança, de acordo com o Índice de Progresso Social (IPS).

É um prêmio e um alento a um lugar que zela pela excelência do acolhimento.

Estive de passagem em Presidente Lucena, no retorno de uma palestra em Morro Reuter. Parei no final da tarde para fazer uma refeição. Entrei numa pizzaria simpática, numa casinha em estilo enxaimel. Fui servido com capricho.

Enquanto o motorista do evento e eu degustávamos nossa pizza - metade calabresa, metade portuguesa -, notei que todos estavam ali para comemorar algo: uma promoção, um aniversário, bodas de casamento, início de namoro. Só via brindes, o estalido alegre dos cálices.

Quis também ter algum motivo para festejar.

Percebi que, naquela comunidade, sair para jantar é um acontecimento. Costuma-se comer no lar, com a família.

Bateu uma saudade das celebrações, de valorizar os momentos em que um restaurante ultrapassa a sua natureza diária de serviço e se torna um local sagrado, assinalando uma data especial. Quando se quebra a rotina e se dedicam esforços de atenção e memória. Não é apenas uma refeição - é uma vitória pessoal.

Tirei fotografias para um casal numa mesa. Ajudei no parto de um porta-retratos.

Depois, aproveitei para caminhar pelas redondezas. Comecei a fantasiar como seria morar ali. Os portões baixos das residências, a tranquilidade do passeio, não sentir medo de assalto, deixar a porta do carro aberta e não temer que levem nada. Já ia além da imaginação: materializava meu desejo e tentava avistar alguma placa de "vende-se". Mas não encontrei. Nenhuma janela se oferecia para compra. Aposto que ninguém quer ir embora.

A calçada era estreita e a alma, larga.

Passei pela Capela dos Três Mártires, pelo largo da prefeitura com um chafariz, e ia entendendo o quanto é possível viver em paz a 65 quilômetros de Porto Alegre.

Juntar-se aos 3 mil habitantes tem suas vantagens. A ocorrência mais frequente não é homicídio ou roubo, mas perda de documentos. O extravio, ironicamente, é a maior manifestação de violência - uma violência benigna e reversível contra o próprio patrimônio.

Você procura um brigadiano mais para pedir informações do que socorro.

Nenhuma sujeira nas ruas, nenhum vandalismo nas paredes ou estátuas. Ordem e asseio reinavam no conto de fadas. Parecia que eu sonhava, parecia que voltava ao passado, parecia que havia ingressado num elo perdido ou mesmo em Aruanda, colônia espiritual das almas evoluídas no Espiritismo.

Perguntei a um morador se minha impressão correspondia à realidade, e descobri que Presidente Lucena alcançou 100% de cobertura na coleta do lixo, no esgotamento sanitário, no acesso exclusivo a banheiros e na canalização de água.

Há mais vagas do que mão de obra. Alicerçada na colonização alemã e na economia industrial calçadista e agropecuária, a empregabilidade contribuiu para a alta pontuação na pesquisa.

Grande parte da população ainda fala hunsrückisch, dialeto alemão de Hunsrück, preservando o legado dos primeiros imigrantes que chegaram ao Estado em 25 de julho de 1824 e se espalharam a partir de São Leopoldo, desbravando a mata virgem da região e abrindo estradas.

Olhei para a noite estrelada - aquela catapora de brilhos no céu - e inventei um pretexto para brindar: minha primeira vez em Presidente Lucena, e jamais a última. O Rio Grande do Sul inteiro deve comemorar seu exemplo comigo.

CARPINEJAR

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