segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025


03 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

Surto suspeito de novos eleitores

Ainda ao final do ano passado despertavam atenção dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrando que, entre 2020 e 2024, mais de 700 municípios tiveram aumento repentino de ao menos 10% no número de votantes. Em 82 destes, o crescimento na quantidade de eleitores de um pleito a outro subiu de forma ainda mais expressiva, entre 20% e 46%. São cidades pequenas que chegaram à intrigante condição de ter populações menores do que o montante de cidadãos habilitados a ir às urnas. Em regra, era uma migração de título repentina, no ano da eleição.

Bastaram averiguações mais detalhadas da imprensa, do Ministério Público Eleitoral (MPE) e da Polícia Federal (PF) para se chegar à resposta mais lógica do mistério. São prováveis fraudes perpetradas por candidatos, que aliciam e subornam pessoas de outros municípios para uma transferência irregular do título de eleitor. Buscam engordar as suas votações, na tentativa de ampliar chances de eleição. Trata-se de um crime eleitoral que pode levar à impugnação e a outras sanções aos corruptores e corrompidos. A comprovação é merecedora de punição exemplar.

O repórter Humberto Trezzi percorreu alguns municípios gaúchos e confirmou a suspeita, como mostra reportagem publicada na edição de hoje de Zero Hora. Conversou com eleitores que admitiram ter recebido dinheiro de políticos para transferir o título e votar nos subornadores. Um desses lugares é Riozinho, no Vale do Paranhana, com 4.473 habitantes, mas 4.537 eleitores, 14% a mais do que em 2020. A PF apura o caso e há uma ação para anular a eleição majoritária.

Denúncias do gênero, ainda que em municípios pequenos, não podem ser menosprezadas pelas autoridades responsáveis pelas investigações e pela Justiça Eleitoral. Manobras ilegais dessa espécie podem mudar o resultado da eleição para uma prefeitura ou alterar a composição dos Legislativos municipais, o que macula a democracia e deturpa a legítima vontade do conjunto de eleitores de uma comunidade, formada pelos votos somados de uma eleição limpa.

Também é plausível inferir que políticos usuários desse tipo de expediente não serão gestores e legisladores idôneos, mas propensos a desvios ainda mais graves se continuarem em posições públicas. A impunidade também faz com que se sintam à vontade para repetir a fraude em futuras eleições. Investigar, julgar e impor as penalidades previstas em lei em caso de culpa comprovada, ao contrário, é educativo e inibe a metástase da prática em outras cidades. A maioria dos municípios gaúchos é de pequeno porte.

No final de dezembro do ano passado, outra reportagem mostrou o crescimento das investigações sobre corrupção eleitoral no Estado, notadamente por compra de votos. O MPE apurava 411 episódios, 25% mais ante o pleito municipal anterior. A PF já havia indiciado 76 por crimes relacionados às eleições. Em 2020, foram só nove. Os fartos indícios na forma de comprovantes dos pagamentos por Pix e conversas por aplicativos de mensagens demonstravam a pouca preocupação em esconder rastros. Os suborno para transferência de título de eleitor e a compra de votos são sintomas da mesma doença. Agir rápido e com rigor é a melhor forma de evitar que o mal se espalhe. 

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