terça-feira, 20 de novembro de 2018



20 DE NOVEMBRO DE 2018
DAVID COIMBRA

O homem sábio murcha como a planta

Não entendo como não me perguntam como consertar o Brasil. Tenho tantas ideias geniais? Que oportunidade o Brasil está perdendo! Mas, como sou também magnânimo, vou dar aqui, de graça, a solução para o pulsante problema do Mais Médicos.

Aliás, sempre que escrevo ou falo essa palavra tão empertigada, "magnânimo", lembro-me do que dizia o filósofo Confúcio:

"Luto sem dor e poder sem magnanimidade são insuportáveis".

Confúcio sabia das coisas. E fazia queixas iguais às minhas: reclamava de que os governantes chineses não lhe pediam conselhos.

Muita gente acha que o confucionismo é religião. Não é. É meio filosofia moral, meio filosofia política. Ou melhor: é uma filosofia da moral a serviço da política.

Confúcio estava sempre na expectativa de colocar seus conhecimentos em prática, mas só uma vez foi chamado para um governo, quando um de seus discípulos subiu ao poder. Tornou-se superministro da Justiça, como Sergio Moro. Mas acabou pedindo demissão por não concordar com certas decisões do seu ex-aluno, agora transformado em mandachuva.

Há 25 séculos, Confúcio já pregava que o investimento em educação é o caminho para qualquer país que anseie se converter em uma nação justa. E, levando em consideração o contexto, podia-se dizer que defendia também a escola pública, aberta a todos e não apenas às elites. O que me leva a crer que, se Confúcio fosse um brasileiro da atualidade, talvez tivesse a mesma ideia que tenho acerca deste impasse do Mais Médicos: que a educação pode ser a solução, além de ser uma rima.

Porque eu faria o seguinte: aproveitaria o sistema de financiamento do governo para o Ensino Superior. O aluno teria o curso de Medicina pago pelo Estado e, em troca, depois de formado, permaneceria três ou quatro anos trabalhando em uma cidade que o governo indicasse, ganhando este mesmo salário que ganham os profissionais do Mais Médicos.

Isso poderia ser feito com outros profissionais. Estudantes de Engenharia, Arquitetura, Direito, Jornalismo, todos teriam seus estudos financiados pelo Estado se passassem algum tempo trabalhando no serviço público ao final do curso.

Meu projeto geraria impacto positivo no serviço público, na educação e nas finanças do Estado. Não é genial? Claro que é, obrigado. Mas você acha que alguém vai levá-lo a sério? Claro que não. Nem a Confúcio levavam! Tanto que a última frase do velho sábio foi um desabafo:

"A grande montanha terá que desmoronar. A forte viga terá que quebrar. O homem sábio murcha como a planta. Não existe ninguém no império que me queira como mestre. Meu tempo de morrer chegou".

Espero que meu tempo de morrer esteja longe de chegar. Não espero que ninguém no império me queira como mestre. Mas espero que o governo encontre logo uma solução para o problema dos médicos no interior profundo deste tão profundo Brasil.

DAVID COIMBRA

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